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Recheio 2024 Institucional

Albino Almeida

Albino Almeida

“As Assembleias Municipais são a Casa da Democracia”

Voz ativa e inconfundível das preocupações da população portuguesa, Albino Almeida procura, incessantemente, contribuir para a construção de uma “sociedade mais justa e fraterna”. Atualmente, preside à direção da Associação Nacional de Assembleias Municipais (ANAM) e cumpre o terceiro mandato enquanto presidente da Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia, mas até enveredar por este caminho foi no mundo da educação que se destacou.

O amor a tão nobre arte surgiu, como partilhou em conversa com a VIVA!, através de uma paixão “no sentido literal da palavra”, que, posteriormente, lhe trouxe colegas que se transformaram em amigos e se revelaram absolutamente cruciais “na descoberta, no desenvolvimento e no aprofundamento do caminho” que percorreu na educação. O sonho materializou-se no Colégio Nossa Senhora do Rosário no Porto, local onde lecionou durante seis anos letivos e onde, inclusive, viveu aquele que diz ter sido o momento mais marcante da sua carreira enquanto professor.

Para Albino Almeida, os professores são “absolutamente importantes na vida das crianças e dos jovens”, simbolizando “intermediários qualificadíssimos” para com o conhecimento universal, em todas as áreas. São estes que lhes dão grande parte das ferramentas necessárias para se instruírem, “voarem” e ajudarem a mudar o que está errado no país e no mundo. E foi, precisamente, com base nesta intervenção que descobriu, na frequência da Escola do Magistério Primário, o interesse pela política, intrinsecamente ligada à “intervenção pública”. “Se uma família exerce mais a sua função educativa, a escola terá de a complementar. Às vezes, a escola tem de a substituir. São, portanto, problemáticas cuja resolução remete para a intervenção pública, em geral e para a intervenção política em especial. Foi o que aconteceu comigo”, explicou.

A apenas três dias da entrada em 2022, ano que se espera que seja, finalmente, de esperança e de viragem, sobretudo no que à saúde pública diz respeito, a VIVA! esteve à conversa com o presidente da ANAM. Entre as várias confidências, o responsável admitiu que as Assembleias Municipais são, efetivamente, “a Casa da Democracia” de cada concelho e que a população se está a aproximar cada vez mais destas, talvez impulsionadas pelos problemas existentes no decorrer da situação pandémica. Mas, os destaques não ficam apenas por aqui… Albino Almeida abordou ainda o papel da população junto das Assembleias Municipais, a experiência as inúmeras intervenções a que já assistiu, o pós-pandemia e o futuro da região Norte e do país.

Conheça todas as respostas nesta entrevista.

Quem é Albino Almeida? Como se define enquanto pessoa, professor e atual presidente da Associação Nacional de Assembleias Municipais?

Um cidadão ativo que procura contribuir, em todas as frentes, para construir uma sociedade mais justa e fraterna. Acredita que a atenção aos problemas dos cidadãos é uma tarefa inalienável que a sociedade precisa garantir em permanência. Tarefa para a qual ninguém é dispensável. 

Iniciou a sua vida profissional enquanto professor, no Colégio Nossa Senhora do Rosário no Porto. Como surgiu o gosto pela educação?

A educação surgiu mesmo de uma paixão no sentido literal da palavra, porque envolvia uma pessoa concreta que me fez trocar a Universidade pela entrada na “velhinha” Escola do Magistério Primário do Porto. A paixão deu lugar a uma imorredoura amizade e eu descobri o valor social da educação. Vários professores, com P grande, muitos colegas que, entretanto, viraram amigos para a vida e, na vida, foram muito importantes na descoberta, no desenvolvimento e no aprofundamento do caminho que percorri na educação.

Como resume os anos em que esteve ligado à educação?

Foram a maior parte da minha vida, mesmo quando, por razões familiares, fiz um interregno na atividade profissional letiva, tendo que me deslocar frequentemente ao estrangeiro. Também nessa atividade, comercial e industrial, nunca perdi a oportunidade de acompanhar as instituições educativas, mais pela vertente da formação e capacitação profissional de jovens e adultos. 

Como pai de três filhas, duas das quais gémeas, essa minha ligação permanente à educação fez, inclusive, com que aceitasse integrar o Movimento Associativo de Pais, sempre por eleição dos pares. 

De todos os momentos que viveu enquanto professor, qual foi o que mais o marcou? Porquê?

O momento mais marcante foi a despedida dos alunos que lecionei, durante os meus primeiros quatro anos de docente, no Colégio do Rosário. Eles e os seus pais fizeram-me uma surpresa tão emotiva, quanto divertida. Ainda hoje tenho contacto com todos. Todos são grandes profissionais, nas respectivas atividades. Alguns já indiciavam vir a sê-lo. Foram experiências irrepetíveis, naturalmente. Mutuamente enriquecedoras e que provaram que só pode ensinar quem estiver disposto a aprender!

Como olha para o ensino atualmente? E como espera que seja o seu futuro?

Depois de dez anos de atividade associativa em representação dos pais, creio que se podem verificar indiscutíveis avanços em matéria de ensino e aprendizagem. Os resultados em termos de escolarização dos jovens são inequívocos e comparam bem com outros países, onde, aliás, aos nossos jovens profissionais se associa uma muito boa formação escolar. Para o futuro temos de manter as condições porque lutamos: as infraestruturas escolares, mas também cobertura das necessidades sociais dos alunos. Isso foi decisivo e, sob novas formas e respostas, continuará a ser no futuro. A pobreza material terá de ser combatida logo na escola, à qual se associa a ideia de Justiça Social. 

Na sua opinião, qual é a importância do papel dos professores na vida das crianças/jovens?

Os professores são absolutamente importantes na vida das crianças, pois a eles incumbe ser intermediários qualificadíssimos entre as crianças e jovens e o conhecimento universal, em todas as áreas. Simultaneamente devem assegurar, com as famílias envolvidas, uma socialização plena para a integração com sucesso na vida ativa para cada aluno. A missão é difícil, exigente, mas gratificante – fazer com que acedam aos saberes e ao mesmo tempo que se tornem bons Seres Humanos. Por isso mesmo se universalizou o acesso e a frequência. No futuro a tarefa será, como temos vindo a fazer, universalizar o sucesso escolar e educativo a todos. E disso depende, estruturalmente, o próprio crescimento económico do nosso país. 

Como surgiu, depois, o interesse pela política e porquê?

O interesse pela política nasceu também na frequência da Escola do Magistério Primário. Era impossível desligar a formação dos professores da sua ligação com a vida concreta dos alunos, nomeadamente a económica e social. Alunos com fome, tal como qualquer adulto, não aprendem. Alunos e famílias são também realidades indissociáveis, com reflexo direto no resultado das aprendizagens. Assim, se uma família exerce mais a sua função educativa, a escola terá de a complementar. Às vezes, a escola tem de a substituir. São, portanto, problemáticas cuja resolução remete para a intervenção pública, em geral e para a intervenção política em especial. Foi o que aconteceu comigo. 

Que importância assumem as Assembleias Municipais nos municípios?

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As Assembleias Municipais são uma genuína criação do 25 de Abril! Não existiam antes. Só as Câmaras Municipais! Isso diz bem da importância que as Assembleias Municipais assumem na defesa dos interesses das populações que para elas elegem os seus representantes, como aconteceu nas últimas eleições autárquicas. São mesmo, em cada concelho, a Casa da Democracia. 

Que papel deve a população assumir junto destas?

Antes de mais devem conhecer bem esse órgão do poder local. Quando vários presidentes de Assembleia Municipal fundaram a Associação Nacional de Assembleias Municipais definiram como tarefa, justamente, a capacitação dos eleitos, mas também dos próprios cidadãos. Muitas vezes os cidadãos não se apercebem do poder que podem construir, não só ao eleger os representantes nas Assembleias Municipais, mas também ao estabeleceram com elas uma permanente ligação de pertença. 

 Que experiência tem das várias intervenções a que assistiu no decorrer das Assembleias Municipais?

Uma experiência muito positiva, porquanto permitem alargar o conhecimento da realidade de forma ainda mais efetiva, melhorando o conhecimento dos problemas e influenciando o pensamento e desenho das políticas que permitam resolver os problemas dos cidadãos, por parte dos executivos municipais. 

Quais são os principais problemas, destacados pela população, nos municípios a Norte?

Basicamente ruas e estradas, transportes e qualidade da chamada mobilidade urbana e interurbana. Existem também algumas preocupações com o urbanismo. 

Sente que nos últimos (quase) dois anos, fruto das várias vicissitudes da pandemia, as Assembleias Municipais ganharam especial destaque?

As Assembleias Municipais fizeram muito o que designei por “provedoria dos cidadãos” junto dos vários poderes municipais, concelhios e regionais, atentas as limitações de vária ordem que os vários e variados confinamentos implicaram. As Assembleias fizeram-no no quadro de uma espécie de magistratura de influência. Sem destaque, que não o da importância crescente que lhes foram sendo reconhecidas, nomeadamente, por parte dos presidentes de câmara. 

Como viveu estes tempos? Quais foram as maiores dificuldades sentidas?

Vivi estes tempos como todos os cidadãos, ou confinado, ou em mobilidade condicionada e de acordo com as recomendações sanitárias da Direção Geral de Saúde. 

Os meios informáticos foram decisivos. Quer para assegurar contatos, quer para garantir que a Democracia nunca seria suspensa, realizando reuniões da Assembleia Municipal à distância… 

Sente que agora as pessoas valorizam, cada vez mais, as Assembleias Municipais e que estão mais próximas destas? Ou, pelo contrário, há uma “indiferença” para com tão imponente órgão?

Sinto que as pessoas valorizam mais. Urge continuar a colmatar algum desconhecimento, nomeadamente das atribuições e capacidades, sempre novas, de contribuir para a resolução dos problemas dos munícipes.

Porque acha que a população se está a aproximar mais das Assembleias Municipais? A pandemia poderá ter tido algum tipo de influência?

Toda a população é, cada vez mais, alvo da preocupação de todos os eleitos locais, sejam presidentes de câmara, de junta de freguesia, ou representantes eleitos pelo povo, nomeadamente ao disponibilizarem generalizadamente e, por vários meios, toda a informação. Obviamente a diversidade de meios, nomeadamente os eletrónicos, foi muito impulsionada pela pandemia.

Sairão os municípios e a população portuguesa mais resilientes depois desta pandemia?

A resposta é afirmativa e socorro-me do nosso povo: “a necessidade aguça o engenho”. 

Isso, para mim, também é e foi sempre a resiliência. Das pessoas e das sociedades. 

Como gostaria de ver o país, e em concreto a região Norte, daqui a dez anos?

Como a sonham atualmente todos os autarcas eleitos: um país e uma região que souberam aproveitar a diversidade das suas gentes, mobilizá-las para as realizações económicas e sociais que permitam uma maior renda de felicidade recíproca. Porque, antes da economia, existe a vida concreta das pessoas.

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