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Adegas e Tascos do Porto

Adegas e Tascos do Porto
Adega S. Martinho já é “Estabelecimento de Tradição”

O Grupo dos Amigos das Adegas e Tascos do Porto (GAATP), criado há pouco mais de um ano, deu esta sexta-feira mais um passo na missão de preservar o “espírito” e a “autenticidade” das tradicionais tabernas da cidade. Localizada no número 795 da Rua D. João IV, a Adega S. Martinho acaba de receber a distinção de “Estabelecimento de Tradição”, por ser um dos locais mais castiços da alma da Invicta, que mantém “todas as características” dos verdadeiros tascos de meados do século XX. “Consegue conservar os atributos da taberna tradicional em termos de mobiliário, organização do espaço, das cores e dos produtos de consumo”, explicou o investigador Hélder Pacheco, que faz parte do GAATP. Apesar das normais “adaptações ao mundo moderno” – nomeadamente a utilização de frigorífico e máquina de café – aquele é, para o cronista, um espaço que celebra, quase de forma inigualável, o ambiente popular, de convívio, dos velhos tascos portuenses. Um “património social e cultural” que o grupo promete não deixar cair no esquecimento.

adega4Com o azul e branco a dominar o pequeno espaço – que conta com três ou quatro mesas – a Adega S. Martinho ainda preserva o típico mealheiro, “símbolo do espírito de cooperação” dos cidadãos, que era possível encontrar nas antigas tabernas. “Era uma forma de a vizinhança fazer o seu ‘pé-de-meia’ para ter dinheiro no natal ou para excursões anuais”, recordou o cronista. Por manter a função de “local de convívio de uma certa classe popular”, este foi o primeiro tasco distinguido pelo grupo. Além de contar com “todos os atributos” de uma taberna como manda a tradição, oferece ainda “um ar lavado”, contrariando a ideia de que os tascos eram locais sujos e violentos. E segundo Helder Pacheco, é também de realçar a amabilidade da sua proprietária, que acolheu com agrado a distinção atribuída pelo grupo.

“Para já contámos com o apoio da Junta de Freguesia do Bonfim”, referiu o portuense, revelando que a ideia inicial passava até pela colocação de uma placa no exterior da taberna homenageada. “Mas isso implicaria a colaboração ativa da câmara, no que diz respeito ao licenciamento”, frisou, razão pela qual optaram por mantê-la dentro do estabelecimento. “No exterior já dá um caráter turístico que nós não queremos. Estamos a distinguir o património cultural e popular da cidade e não propriamente a dar um sinal turístico”, notou.

adega3Preservar a história das “pátrias da conversa”

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Mas esta luta pela defesa das tradições da cidade não se esgota aqui. Defensores de um espírito “esforçado mas desportivo” – e, portanto, livres de quotas e de uma organização formal e burocrática – os “Amigos” escolhem, todos os meses, um tasco ou uma casa de pasto que mantenha o caráter original e juntam-se à mesa com o duplo objetivo de homenagear uma determinada figura da cidade e de apoiar, simultaneamente, os negócios locais. “Temos homenageado gente ligada à cultura, ao espetáculo, à música e à literatura que, direta ou indiretamente, tenha tido alguma influência junto do povo portuense”, esclareceu Hélder Pacheco.

Na lista de figuras distinguidas constam nomes como Bê Veludo e João Manuel (ligados ao programa mais antigo da rádio portuguesa, “A Voz dos Ridículos”), Maria de Lurdes dos Anjos, poetisa do Bonfim, “que tem feito um grande trabalho de animação cultural junto de associações, centros de dia e creches, recitando poesia sobre o Porto”, o letrista Carlos Tê e o ator e produtor Mário Moutinho, da Seiva Trupe, que participou na série televisiva “Os Andrades”, feita no Porto, “antes de o Terreiro do Paço tomar de assalto a televisão”.

adega2A seleção dos espaços para a realização dos encontros não é tarefa fácil, desde logo pelo reduzido número de tascos típicos existente na cidade. “Estamos a falar de tabernas populares tradicionais e não do novo conceito de tabernas. (…) Se pensarmos que, em 1924, havia cerca de 1300, já ficamos com a noção do que tem sido a destruição do tecido social e popular das cidades. Hoje, com ‘boa vontade’, ainda arranjamos uma dúzia; se formos mesmo rigorosos identificamos sete ou oito”, sublinhou o investigador. De referir igualmente que como as verdadeiras tabernas de tradição são muito pequenas, os jantares têm sido realizados em casas de pasto, de dimensão um pouco maior. Os encontros são bastante concorridos mas estão, assim, condicionados ao local escolhido, para que se possa respeitar ao máximo o ambiente das “pátrias da conversa”, designação atribuída por um historiador aos bares americanos (equivalentes às tabernas portuguesas).

Celebrar a tradição convivial dos velhos tascos, “que a cidade tem vindo a perder”, é, assim, a grande meta do GAATP, empenhado em preservar o espírito genuino das verdadeiras ‘gentes’ da cidade.

Texto: Mariana Albuquerque    |    Fotos: cedidas por Hélder Pacheco

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