Fundada em 1962 a Adão Oculista é uma empresa marcadamente familiar. Paula Pinho, filha do fundador da loja e uma das responsáveis, revelou-nos que quando começou a trabalhar tinha colegas que estavam no espaço “desde os 14 anos e depois se reformaram com cerca de 60 anos”.
“Dificilmente alguém que vem trabalhar para aqui depois se vai embora. Esta é uma empresa de cariz familiar em que há uma ligação muito próxima entre os colaboradores e a entidade patronal, é quase uma segunda família. Neste momento temos dois colaboradores que trabalham aqui há cerca de 43 anos” afirmou.
O pai de Paula Pinho abriu a primeira loja e sede da empresa na Rua Santa Catarina depois de ter trabalhado “no antigo Oculista Rocha”. Os clientes foram trazidos da outra ótica muito por culpa da confiança que tinham no trabalho do seu pai, criando uma boa base para iniciar o negócio.
Na época “o tema moda não tinha um peso tão elevado como hoje em dia, o mais importante era a função e a utilidade prática do que propriamente a moda”, relatou.
Durante muitos anos a Adão Oculista trabalhou para entidades como a segurança social: “recebíamos unicamente a listagem das pessoas que iam usar os óculos e éramos nós que os selecionávamos, por isso não existia praticamente o teor moda”.
Ainda assim admite que por vezes os clientes eram influenciados pelos filmes de Hollywood e tinham o hábito de procurar os óculos de sol utilizados pelos protagonistas. Também nas revistas femininas eram mostrados “óculos com um estilo muito especifico e as senhoras sonhavam ser todas a Marilyn Monroe”.
Atualmente “a base de clientes” do estabelecimento são de “passa a palavra”, sendo que a grande maioria é de “três e quatro gerações da mesma família”. Trata-se de uma ótica com “raízes muito fortes” e muitas vezes os “clientes de longa data” já nem “sequer precisam de se dirigir à loja para fazer uma compra”.
“Quando nos ligam a dizer que precisam de algo nós já separamos as armações e normalmente é aquilo que o cliente gosta”, explicou a responsável.
A Adão Oculista dispõe de um serviço de Optometria e Contactologia diário, executando todos os tipos de prescrição e adaptação. A maior percentagem das vendas são, assim, os óculos de prescrição médica ainda que tenham também uma componente muito forte de óculos de sol.
Para Paula Pinho aquilo que os distingue é o facto de serem “diferentes desta nova tendência, de óculos de supermercado, óculos em lojas de roupa. As pessoas procuram uma ótica técnica, que é o nosso caso, e elas sabem que vão ter o melhor produto final. Aqui sabem que têm uma qualidade de excelência”, sublinhou.
Os clientes que passam pelo estabelecimento são sempre “muito doces” e quase todos os dias recebem elogios. No entanto, há uns que marcam mais do que outros e “um dos maiores” foi o facto de terem sido “considerados uma loja de tradição da cidade do Porto”.
Este reconhecimento por parte do município portuense é um motivo de orgulho e um apoio significativo para o negócio: “Ser considerada uma ótica de interesse cultural e histórico na cidade” é importante e permite também a realização de obras como a “recuperação da fachada e colocação de janelas de categoria A++”.
“Ganhamos a nível de conforto e ficamos com um imagem mais bonita também” referiu Paula Pinho, revelando que estão já a tratar da candidatura a um segundo apoio “para uns projetos para o interior da loja” e “avançar com alguns pontos tecnológicos” que consideram interessantes para “melhorar a experiência dos clientes em loja”.
No futuro a responsável espera que “as próximas gerações da família deem continuidade” ao negócio. Reconhece que “os percursos académicos que nada têm a ver com a ótica”, mas o mesmo aconteceu consigo e os irmãos, que não deixaram a Adão Oculista «morrer».
“Se não for a família há pessoas que têm tanto amor a isto como a família direta. Alguém vai continuar com o legado, isso é ponto assente”, concluiu.
