
A poucos dias de Portugal assinalar a implantação da República, a 5 de outubro, recuamos até 31 de janeiro de 1891, data da primeira tentativa de derrube da monarquia na cidade Invicta.
A revolta republicana do Porto foi desencadeada como reação à cedência do governo português ao Ultimatum Britânico do ano anterior. Esta ação suscitou grande indignação e era vista nos círculos republicanos como uma prova da decadência e fraqueza do regime monárquico em Portugal.
Recorde-se que neste Ultimatum, enviado pelo Reino Unido, era exigida a retirada das tropas portuguesas dos territórios entre Angola e Moçambique, sob a ameaça do rompimento de relações entre as duas nações.

Por outro lado, a proclamação da República no Brasil, que tinha ocorrido dois anos antes, foi também um fator de motivação para os setores mais radicais do movimento.
O Porto foi o local escolhido devido à sua tradição revolucionária ao longo de todo o século XIX e pelo facto de o movimento republicano dispor de fortes apoios na cidade: “afinal, era aqui que havia uma tradição revolucionária” que se iria prolongar “ao longo de todo o século XIX”, não sendo “totalmente estranhos os acontecimentos ocorridos a 31 de janeiro”, lê-se no portal de notícias da Câmara Municipal.
De acordo com João Chagas e Manuel Maria Coelho, citados na plataforma, na época conspirava-se por toda a cidade: “[…] discutia-se em toda a parte, mormente nos cafés; e nos lugares, os mais públicos, se exibiam opiniões revolucionárias. Os militares confundiam-se com os civis; conspirava-se ao ar livre. […] Citavam-se nomes de militares que aderiam. Os sargentos andavam em grupos, fardados, pelas ruas. Não se tomava precauções, não se guardava sigilo”.
A revolta do Porto ficou assim conhecida como “revolta dos sargentos”, devido ao papel preponderante desempenhado pelos sargentos de diversos regimentos de infantaria, bem como da guarda fiscal.

Ainda hoje se discute se o golpe foi preparado com a concordância das chefias republicanas ou se resultou da precipitação de alguns elementos militares (sargentos) que juntavam o descontentamento pelas condições de trabalho e de salário à causa republicana.
A ação teve início no Campo de Santo Ovídio, atual Praça da República, dirigindo-se depois para o edifício da Câmara Municipal. Foi aí que Alves da Veiga, advogado, professor, jornalista e um dos mais prestigiados republicanos do Porto, proclamou a República, onde se hasteou a bandeira vermelha e verde do Centro Democrático Federal 15 de Novembro, um clube republicano do Porto.

Os envolvidos na tentativa de revolta foram rapidamente cercados pela Guarda Municipal, que disparou sobre a multidão e travou a revolta. Estes foram presos e julgados, tendo muitos sido condenados a penas de degredo em África.
Quanto ao movimento republicano o desfecho da revolta obrigou a uma reflexão sobre as implicações de um golpe militar, uma vez que a implicação do Partido Republicano em aventuras mal planeadas poderia ser altamente prejudicial.
Apesar do seu desfecho, a revolta do Porto é considerada como um primeiro antecedente da proclamação da República, que apenas ocorreria 19 anos mais tarde, a 5 de outubro de 1910, já em circunstâncias políticas e sociais muito diferentes.
Foto de capa: RTP