
“Para nós é uma vitória estar aqui ao fim de dez anos”
A pensar na chegada do tempo mais frio, os Virgem Suta vestem-se a rigor e apresentam-se “Sem Rede” a 27 de outubro no Passos Manuel, no Porto. Um concerto cru, sem filtros, numa carta aberta aos fãs. Ponto de partida para uma agradável conversa com Nuno Figueiredo, que nos conta que a banda não anda na música para cumprir agenda.
Amizade e cumplicidade são adjetivos que marcam esta já duradoura parceria entre Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo. O que um escreve, o outro canta ou transforma em música. Sempre em conjunto, em verdadeiro espírito de equipa.
É a primeira vez que os Virgem Suta fazem um espetáculo deste género: reunir as canções e (re)interpretá-las na sua forma mais simples, mais “pura”, privilegiando a suavidade e a doçura do acústico. Este é um desafio em que os dois artistas procuram regressar às “raízes” dos temas, aproveitando ainda a ocasião para interpretar as músicas que poucas vezes foram tocadas ao vivo. Guitarra e voz são os ingredientes principais de concertos que prometem deliciar os verdadeiros fãs.
Com início marcado para cidade invicta, “Sem Rede” segue depois para outras salas do país. Os bilhetes já estão à venda.
“A música é apenas um dos pilares da nossa vida. Não andamos na música para cumprir agenda. É quando tiver que ser”, disse-nos Nuno Figueiredo em jeito de balanço e a propósito do ansiado quarto registo da banda.
E acrescentou: “Para nós é uma vitória estar aqui ao fim de dez anos, numa fase em que as modas são tão rápidas. Nós já não somos moda e temos consciência disso. Tocar e ter público já é tão bom que não temos ambição de muito mais. O caminho passa por manter a identidade e não nos vendermos”, disse.
“Seguir aquele lema dos Xutos: ‘Não me vendo nem por ideais nem por dinheiro’. Acho uma boa regra de vida para tudo, mas para a música é ainda mais importante segui-la. Penso que o Jorge (Benvinda) também concorda…”
Como e quando tudo começou?
A história já tem uns bons anos. Na realidade, já tínhamos começado muito antes do lançamento do primeiro disco.
Tanto eu como o Jorge (Benvinda) já nos conhecemos desde os tempos da faculdade, com 20 anos. A partir desse momento, começamos a tocar, a criar músicas e uma linha estética.
Uma série de anos depois, já em 2008, é que pensamos mais a sério gravar o primeiro disco.
Nesse ano juntamo-nos com o Hélder Gonçalves (Clã), gravamos umas canções e nasceu o nosso primeiro disco em 2009. Já estamos a preparar o quarto registo discográfico.
Porquê o nome Virgem Suta?
É um nome como outro qualquer.
Neste caso, como o nosso ponto de partida geográfico é Beja, o termo “Suta” aqui tem um significado particular. É associado ao exagero. Surgiu de algo inconsciente, não pensado, sem qualquer filtro. Era o sumo dessa experiência.
Nessa altura fazia, de facto, todo o sentido aplicar esse termo.
Era a junção desses dois termos: um (Virgem) mais calmo, mais contido e outro (Suta) mais tenso.
Como é que funciona o processo criativo?
Varia muito. O Jorge compõe. Eu também. Há temas em que um faz a música, outro a letra. Não temos grande regra nisso. É sempre um trabalho em conjunto.
Hélder Gonçalves foi e continua a ser alguém muito importante no vosso percurso…
Sem dúvida. O Hélder é mesmo aquele guia. É aquela pessoa que serve de exemplo. Tivemos a sorte de poder trabalhar com ele. Continuamos a respeitá-lo muito e a apreciar o que faz.
Chegaram, com o tema “Linhas Cruzadas”, a colaborar com a Manuela Azevedo (Clã). Como olham para essa colaboração?
Foi incrível. Dá-nos um gosto tremendo privar e aprender com eles [Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves].
Em termos de linha temática, como a descrevem? É um facto de que há uma portugalidade… que acaba por ser o mote?
É um mote, tendo em conta que a nossa música é um retrato daquilo que é a nossa vida em Portugal. Nas histórias que contamos, muitas delas apresentam traços da vida real, o nosso quotidiano, ou então da vida de pessoas que conhecemos. Inevitavelmente estas canções constituem um espelho e caracterizam o que é ser português, o que é viver em Portugal, as dificuldades e, por outro lado, o gozo.
Em termos de estilo musical, eu remeto para uma certa fusão. Mas como é que definem a vossa música estilisticamente?
Provavelmente fusão. E cada vez mais será. As balizas que se impõem inicialmente vão-se alargando bastante conforme o amadurecimento. O mundo acaba por ser visto de forma diferente. Eu, por exemplo, não tenho metade dos preconceitos que teria aos 20 anos. Não tenho problema nenhum em envolver-me noutros estilos musicais. Por outro lado, também dá gozo experimentar. Na verdade, fazemos aquilo que achamos piada. Porque a música nasceu para nós como um prazer. Só assim faz sentido continuar.
Esta fusão sonora aparece agora despida e ‘sem rede’ nos próximos concertos, a começar precisamente na cidade do Porto. O que podem adiantar?
Este concerto é curioso. Nasce fruto de um conjunto de experiências que tivemos lá fora. Uma das coisas que percebemos é que há coisas que vão fazendo sentido naturalmente. Parecia um ponto desfavorável quando nos apresentávamos em formatos mais reduzidos. Agora, sentimos um gozo enorme em fazê-lo. Também constatamos que é uma forma mais íntima de chegar às pessoas que apreciam o nosso trabalho, que dão valor ao lado lírico da nossa música. É um concerto que nos permite falar mais, mostrar como fazemos as coisas. Por outro lado, permite-nos trazer em registo concerto canções pouco ou nada conhecidas da banda. Cantar as canções exatamente como nasceram. Isso deixa-nos nervosos, obviamente. Ali mesmo, sem rede…Mas ao mesmo tempo é prazeroso. O feedback que fomos tendo aos ‘testes’ sobre o formato destes concertos foram muito bons, agradáveis. As pessoas gostaram. E esperamos que no Porto seja incrível.
Como caracterizam o público portuense?
É efusivo. Para já, eu também sou do Porto. Vivo no Alentejo, mas sou de cá. Gosto muito de ir tocar à minha terra. O povo é muito direto. Percebe-se muito facilmente o que está a sentir. E gosto muito dessa reação direta. Diz sempre se gosta ou não gosta, o que é sempre positivo. Gostamos de lidar com essa reação rápida.
E influências?
Clã, Deolinda, Ornatos Violeta, Sérgio Godinho (muito), o Zeca Afonso também, entre outros. Há uma série de cantautores que nos influenciaram desde o início.
O que se segue no percurso dos Virgem Suta?
Temos canções novas. Na verdade, ainda não nos juntamos para definir o rumo do novo disco. Há alguma ou outra que já temos tocado como o “Cantar até cair”. Agora é mesmo a questão de definir o alinhamento.