Cinco anos depois da concretização do plano, o sucesso da Universidade Sénior Tirsense já convenceu professores, alunos e entidades que apoiaram Eusébio Machado na abertura da instituição. “Hoje, a existência de um público sénior com expectativas e motivações culturais mais acentuadas, a prevalência de um paradigma de aprendizagem ao longo da vida e, sobretudo, a ideia da inclusão por via da aquisição de ferramentas para a interacção social convenceram aqueles que acreditaram que a UST era um projecto com condições para vingar”, afirmou, satisfeito, o professor.
Conversar, aprender e viver
O ano lectivo na Universidade Sénior Tirsense está organizado em torno de três tipos de actividades: aulas, oficinas criativas e actividades extracurriculares. As aulas, “no sentido tradicional do termo”, apresentam, de acordo com o docente criador da instituição, “um carácter flexível e interactivo, uma vez que as matérias são tratadas numa permanente interacção com os alunos”. O objectivo das oficinas ligadas à área das expressões é “incentivar o fazer artístico, seja através da pintura, informática, escrita ou teatro”. Para finalizar, as actividades extracurriculares estão destinadas a “levar as pessoas a conhecer o mundo e a levar o mundo até às pessoas”, através de visitas a museus, sessões de cinema e palestras sobre os mais variados temas.
Informática, Inglês, Cultura Contemporânea, Educação para a Saúde, Poesia, Pintura e Ioga são as disciplinas que Goretti Machado está a frequentar e das quais já não prescinde. “Aprendemos, conversamos, convivemos, logo sentimo-nos mais válidos como elementos de uma sociedade que se quer mais culta, justa e solidária”, referiu à Viva, acrescentando que na UST não há espaço para hierarquias.
Desafiar convicções
Eusébio Machado está ligado a várias instituições de ensino superior, como as Universidades do Minho, Católica e Portucalense, mas admite que o público sénior constitui um desafio diferente. “São pessoas que fazem as aulas, enchem-nas de vida, de experiências e memórias. São pessoas que reclamam o prazer de saber, aprender e dizer”, constatou o investigador.
Assim, apesar de acumular muitas outras experiências de docência académica, o fundador da UST acredita que dar aulas a seniores é um desafio às suas próprias convicções. “Este público [mais velho] atingiu uma maturidade que tem um deslumbre reflexivo e uma ironia serena da experiência”,defendeu, acrescentando que os seus alunos são “pessoas riquíssimas, cheias de vidas e de vida, reencantadas com a redescoberta das coisas antigas e com a aprendizagem das coisas novas”. Das palestras que realiza ocasionalmente na UST, sob temáticas ligadas à cultura contemporânea (filosofia, ética, religião, política e estética), o professor relembra “pessoas que levam livros, recitam poemas e convidam os netos, como se, de facto, a aula fosse um ponto de encontro, onde se podem cruzar todas as coisas que inscrevem a vida no tempo e nos outros”.
A lição dada pelos alunos
A gratidão destes estudantes experientes é a maior lição que Eusébio Machado recebe no fim de cada aula. “No mundo onde todos temos direito a tudo, esquecemo-nos das dádivas dos outros e, sobretudo, esquecemo-nos de agradecer a alegria que, por vezes, os outros acendem em nós. (…) A redenção de um professor sempre foi o reconhecimento do valor do seu saber, o ‘obrigado’ no final de cada aula. E é esta a lição dada por estas pessoas: o valor incomensurável do que parece que já se perdeu”, constatou o docente.
Mariana Albuquerque