“O Fim das Possibilidades” é uma “fábula satânica”, onde Deus e Satã arquitetam uma “solução final” para resolver um “problema sistémico”, nome de guerra para a crise que decretou o fim do futuro.
Nesta parábola, Job é J.B., uma personagem que seria, hoje em dia, o homem comum. No espetáculo, Deus faz um pacto com Satã, dando-lhe permissão para infligir sofrimento a J.B., mas sem o matar. Satã faz J.B. perder o emprego e envia-o para as profundezas da terra, para junto de todos os desfavorecidos. É aqui que, nas palavras de Sarrazac, J.B. se apresenta “como um campeão da ‘sobremorte’”: faz uma partida a Satã e encena o seu próprio suicídio por enforcamento, declarando-se morto, algo que Satã estava proibido por Deus de fazer.
“É uma alusão aos tempos de crise que estamos a passar. Mas o espetáculo é o reverso disso, é o pôr tudo em questão para que possamos discutir e abrir novos caminhos”, explicou Nuno Carinhas, o diretor artístico do TNSJ que, nesta peça, partilha a encenação com Fernando Mora Ramos, do Teatro Rainha.
Segundo Jean-Pierre Sarrazac, “o Job contemporâneo já não é essa figura patrícia e única que ele encarna na Bíblia: Job, hoje em dia, é a multidão, a multidão dos mais desfavorecidos, os descartáveis da nossa sociedade – operários e empregados em situação precária, desempregados de longa duração, sem-abrigo, sem-papéis, imigrantes”.
“O Fim das possibilidades” faz a sua estreia mundial no palco do São João, onde estará em cena até 27 de março, Dia Mundial do Teatro. A peça será apresentada de quarta a domingo [quartas-feiras, às 19h, de quinta a sábado, às 21h, e aos domingos, às 16h].