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O tempo em que a “burca” se usava em Portugal

O tempo em que a “burca” se usava em Portugal

Côca, bioco ou capelo. São nomes que, atualmente, podem soar estranho à grande maioria dos cidadãos, mas que, em tempos, já fizeram parte da história portuguesa. É que, houve uma altura, no reinado de Filipe II, no ano de 1609, em que, à semelhança de outros países da Europa, foi implementada a utilização de uma espécie de burca em Portugal.

Volvidos mais de 400 anos, e depois de toda a situação reportada no Afeganistão, em que as mulheres foram privadas de tantos direitos, nomeadamente a possibilidade de “mostrarem a cara”, o assunto, que pode ser uma verdadeira novidade para muitos, ganha especial relevância. Segundo conta a história, a utilização da burca, cujo fim foi decretado por lei, abrangia todo o território português, tendo nomes distintos de acordo com a região onde se apresentava. O que variava era a forma como o traje em si “cobria a cabeça”.

No Algarve, por exemplo, região onde, à semelhança do Alto Alentejo e dos Açores, o costume predominou até meados do século XX, o traje, uma capa que cobria inteiramente quem a usava, era designado de “bioco”. “A cabeça era oculta pelo próprio cabeção ou por um rebuço feito por qualquer xaile, lenço ou mantilha. As mulheres embiocadas pareciam «ursos com cabeça de elefante», sublinha a Vortexmag num artigo a propósito do tema.

O escritor portuense Raul Brandão escreveu, inclusivamente, sobre o bioco no seu livro “Os Pescadores”, de 1922, recordando que “todas (as mulheres de Olhão) usavam cloques e bioco” e que o capote “muito amplo e atirado com elegância sobre a cabeça” tornava as mulheres “impenetráveis”. Aquando da saída da publicação, o traje já havia sido extinto há, pelo menos, uma década, por indicação de Júlio Lourenço Pinto, na época Governador Civil do Algarve.

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Por sua vez, no Alentejo a, agora designada burca, era apelidada de “côca”. Tratava-se de um traje de noiva da região na segunda metade do sec. XIX, cuja dimensão e posição do véu podia ter três formas distintas, de acordo com o estatuto da noiva.

Segundo a Vortexmag, este terá caído em “desuso enquanto traje nupcial”, passando a ser utilizado por “aristocratas ou mulheres da alta burguesia quando saíam à rua para visitas ou para assistir a atos religiosos”. Estas “usavam os biocos pegados a uma capa curta, existindo uma renda larga que caía pelas costas. Na frente, o bioco era armado com papelão ou tarlatana, para se manter aberto. Podia ou não ter também renda sobre a parte da cara. O traje era completado por uma saia de merino”.

Já nos Açores, o destaque, até meados do século XX, ia para as mulheres envoltas no seu capote preto, “uma capa muito ampla, mais farta nas laterais que nas costas” e capelo armado, sobretudo em meios citadinos. “Quando se usava o manto, o capelo era armado com cartão e atado na cintura, sendo que a mulher o segurava com as mãos, de modo a cobrir o rosto. O capelo era usado sobre os ombros, sendo um amplo capuz que era suportado por um arco de osso de baleia, com a sua rigidez a ser conferida pelo forro de cânhamo”, lê-se ainda.

Independentemente do nome, a utilização desta espécie de burca, que se baseava numa “mantilha”, tinha apenas um objetivo: esconder a identidade de cada mulher e impedir o contacto com transeuntes.

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