
Entre quarta-feira e domingo, o Teatro Carlos Alberto (TeCA) recebe a obra que cruza o universo do dramaturgo irlandês Samuel Beckett e a filmografia do cinema português, com os atores Pedro Diogo, Estevão Antunes, Mário Moutinho e Óscar Silva a interpretarem personagens edificadas por Ribeirinho, Vasco Santana, Reginaldo Duarte e Armando Machado, respetivamente.
Inspirando-se e evocando a peça de Samuel Beckett “À Espera de Godot”, Jorge Louraço Figueira apresenta no TeCA, entre os dias 9 e 13 de janeiro, o espetáculo “À Espera de Beckett ou Quaquaquaqua”.
A peça cruza as lembranças de personagens de teatro com os factos da história de um país, fazendo uma homenagem especial a Francisco Ribeiro, conhecido como Ribeirinho, o ator de filmes como “O Pai Tirano” ou “O Pátio das Cantigas”.
O mote para o espetáculo é o ano de 1959, data em que Ribeirinho encenou pela primeira vez o clássico de Beckett. No primeiro ato, a trupe de atores tenta levar à cena a peça “À Espera de Godot”, assombrados pela ditadura e censura que o país atravessava, personificada pelo ponto.
“Acompanhamos a relação tensa entre os atores e o ponto, que sussurra ao ouvido dos atores o que devem dizer. Tentei que fosse uma metáfora para o tempo presente, em que nos socorremos de alguns pontos que nos dizem o que devemos pensar, que seguimos e debitamos o que nos sussurram ao ouvido sem pensar”, explicou Jorge Louraço Figueira à Lusa.
Samuel Beckett esteve em Cascais em 1969, numa altura em que o grupo estava a montar o mesmo espetáculo pela segunda vez, mantendo-se, até aos dias de hoje, o enigma de o dramaturgo saber que a sua encenação estava a ser representada por portugueses, o que levou Jorge Louraço Figueira a criar um “universo paralelo”.
“Deu para imaginar este universo paralelo em que o Beckett teria assistido a esse ensaio, os atores nervosos, uns a querer que ele estivesse presente, outros não. A partir daí criou-se a oportunidade para uma fantasia do que teria acontecido. Essa fantasia deu-me vontade de ver isso posto em cena”, disse.
A peça culmina no ano de 1973, altura em que Francisco Ribeiro fez chegar o seu espetáculo a Angola, apresentando-o a colonos e militares.
Responsável pelo texto e encenação, Jorge Louraço Figueira afirma que o espetáculo “é uma reflexão sobre a vontade de não fazer nada e sobre o dilema entre desistir e perseverar”.
“À Espera de Beckett ou Quaquaquaqua” pode ser visto de quarta a sexta-feira, às 21h; ao sábado, às 19h; e ao domingo, às 16h. O preço dos bilhetes para o espetáculo é de 10 euros.