
Dramaturga Emergente Europeia: Catalunha
27 de março
Com este programa de leituras encenadas abrimos uma nova via de colaboração entre os teatros nacionais do Porto e da Catalunha, iniciada em Ensaio Sobre a Cegueira. No Dia Mundial do Teatro, lemos Ventura e M’hauríeu de pagar, peças dos dramaturgos catalães Cristina Clemente e Jordi Prat i Coll, dirigidas por encenadores catalães, com um elenco português. No dia seguinte, em Barcelona, o Teatre Nacional de Catalunya promove a leitura de peças de Sara Barros Leitão e Joana Craveiro, com direção de encenadores portugueses, com um elenco catalão. Damo-nos a ler uns aos outros, colocamos em relação textos, equipas, culturas, línguas. Pequenos grandes gestos que estruturam experiências reais de internacionalização, discretas mas efetivas, que transcendem o costumeiro import/export da produção e circulação artística.
As Bruxas de Salém
Até 2 de abril

“As Bruxas de Salém foi um ato de desespero.” Palavras do dramaturgo Arthur Miller sobre a génese desta peça, baseada em factos históricos. Em 1692, na pequena comunidade americana de Salém, mulheres e homens são perseguidos e julgados por bruxaria. O rumor e a mentira incandescem e ninguém parece a salvo da acusação ou da vingança. Estreada em 1953, As Bruxas de Salém foi pensada como um paralelo às trevas do macarthismo que corroíam o coração da América, consumida pela febre anticomunista, que também vitimou Miller. Do seu epicentro – um fascínio primevo pela paranoia, que sacrifica indivíduos na sua fúria coletiva – ressoam hoje múltiplos ecos. É com ela que Nuno Cardoso prossegue a inquirição dos alicerces da vida em comunidade, num outro ensaio sobre a cegueira do homem social. De novo Miller: “Por debaixo das questões sobre justiça, a peça desenterra um caldo letal de sexualidade ilícita, medo do sobrenatural e manipulação política.”

Longa Jornada Para a Noite
20 de abril a 7 de maio
Eugene O’Neill compôs esta “peça de antigas penas, escrita a lágrimas e sangue” entre 1939 e 1941, mas a autobiográfica Longa Jornada Para a Noite só seria publicada e representada postumamente, em 1956, a pedido do autor. É como se ele fizesse suas as palavras de Jamie, um dos quatro membros da família Tyronne: “Não consigo esquecer o passado. Esse é que é o inferno.” O crítico Harold Bloom notou que “nenhum dramaturgo americano igualou O’Neill na descrição das tormentosas realidades que afligem a vida familiar no mundo ocidental”. Para companheiros de estrada desta Longa Jornada, o Ensemble convocou um conjunto de nomes indissociáveis da nossa identidade artística. Da tradutora Luísa Costa Gomes ao encenador Ricardo Pais, da atriz Emília Silvestre aos atores João Reis e Pedro Almendra. Um ensemble capaz de conferir espessura a estas criaturas a um tempo vulneráveis e implacáveis, sarcásticas e melancólicas, gagas e eloquentes. “Gaguejar é a eloquência nativa da nossa gente, o povo do nevoeiro.”

Hamlet
12 e 13 de maio
Um grupo de pessoas com síndrome de Down sobe ao palco para partilhar os seus desejos e frustrações a partir de uma versão muito livre de Hamlet. O espetáculo resulta de um cruzamento entre o texto de Shakespeare e as vidas dos atores, animado pela pergunta existencial que popularizou o príncipe da Dinamarca: ser ou não ser? O que significa ser para pessoas que são consideradas um fardo, um refugo social? Que sentido e valor tem a sua existência num mundo em que a eficácia e modelos inatingíveis de consumo e beleza são o paradigma do humano? Hamlet é dirigido por Chela De Ferrari, um dos membros fundadores do Teatro La Plaza, coletivo peruano que parte de textos de autores clássicos e contemporâneos para levantar espetáculos capazes de “questionar, provocar e surpreender”.