O arquiteto Siza Vieira afirmou este sábado que Portugal está a viver um momento de “paragem” na habitação social, defendendo que um programa como o Serviço Ambulatório de Apoio Local (SAAL), desenvolvido no pós-25 de Abril, é “irrepetível”. Durante um evento, realizado na Associação de Moradores do Bairro da Bouça e centrado no SAAL, o portuense mostrou-se pouco confiante na possibilidade de assistir, atualmente, a um processo semelhante. “Possível é, mas não estão a ser criadas condições para isso. O que se verifica, de um modo geral, em relação à habitação social, é que há uma paragem. É muito reduzido o que se faz e não só em Portugal”, constatou.
Siza Vieira referiu igualmente que “a inviabilidade do SAAL” se manifestou “quando o projeto começou a mexer com os problemas da cidade” e que foi com enorme “satisfação” que, em 2006, viu o projeto do Bairro da Bouça, parado desde 1979, ser concluído. No entanto, reconheceu que o princípio que norteou a sua criação acabou por não ser cumprido na totalidade. “Houve, como aqui foi mencionado, algumas pessoas que gostavam de vir para cá e que não conseguiram chegar às condições que foram impostas para a venda das casas”, referiu, acrescentando que, mesmo assim, “não se perdeu tudo” porque “a maneira de encarar a habitação social não foi a mesma desde que houve o SAAL”.
De esclarecer que este foi o primeiro de quatro encontros de cariz “ambulatório” que decorrerão em quatro bairros construídos no âmbito do SAAL Norte (Bouça, Leal, Antas e São Vítor), no contexto da exposição “O Processo SAAL: Arquitetura e Participação”, que o Museu de Serralves está a apresentar. O programa surgiu na sequência da revolução de 1974 por iniciativa legislativa do então secretário de Estado da Habitação e Urbanismo, Nuno Portas, tendo como objetivo envolver as populações que residiam em condições precárias na resolução dos seus problemas habitacionais.