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Sandra Santos: “Eu acho que podemos gostar de muita coisa e não seguir apenas um caminho”

Sandra Santos:

Neste mês de junho, Sandra Santos foi a grande “Protagonista” da revista VIVA Porto. À conversa com a atriz e fundadora da “Papinhas da Xica”, ficamos a conhecer um pouco mais sobre os desafios de ambas as áreas. Sandra Santos nasceu no Porto, em 1982, e já participou em vários projetos de destaque como “Conta-me Como Foi”, “Bem-Vindos a Beirais”, entre muitos outros êxitos.

Começando pela vertente mais artística da Sandra, o que a levou a seguir uma carreira na representação?

Eu comecei por fazer teatro muito nova, com cerca de 14 anos. A fazer cursos de teatro e teatro amador. Isso fez-me perceber que era algo que eu gostava de fazer de um modo profissional. Foi basicamente algo que experimentei e gostei, e que me imaginei a fazer depois num futuro.

Já fez teatro, cinema, televisão. Qual destas modalidades considera mais desafiante e porquê?

Eu acho que depende muito do projeto, mas eu diria que eventualmente a mais desafiante seja o teatro, pelo facto de não haver margem para erro. Quando eu digo margem para erro, o teatro é a vida: os erros acontecem e fazem parte. No entanto, é ao vivo, logo quando não corre bem, não há nada que possamos fazer para voltar atrás, regravar ou fazer outro take. Eu acredito que, por esse motivo, e por ser algo tão em direto, tão vivo, seja o teatro o mais desafiante.

Sente que, com uma base de teatro, chegar depois à televisão foi mais fácil a transição?

 Nem por isso. Honestamente, acho que são linguagens um bocadinho diferentes. No início, até acho que o facto de ter um percurso em teatro me dificultou a vida, por ser mais desafiante compreender as diferenças em termos de linguagem. 

Qual a maior diferença que sentiu?

Também depende dos projetos. Quando foi o “Conta-me Como Foi”, não senti muito choque, tínhamos muito tempo para ensaiar cada cena e isso fazia com que acabasse por ser um processo bastante semelhante ao do teatro. Havia mais tempo. Depois quando passei a fazer novelas, a rapidez com que é feito, já diz o ditado, rápido e bem há pouco quem. Há algumas questões relacionadas até com algum cuidado que é necessário acabam por ficar comprometidas, por esse motivo. Então acho que se calhar a maior diferença foi em termos de tempo e de cuidado, talvez. 

Fez parte do fenómeno “Morangos com Açúcar”. Que memórias guarda dessa experiência? Algum episódio ou colega que tenha marcado especialmente? Sentiu aquela “febre” dos Morangos?

Não, de todo! Primeiro, porque participei já na nona série e até acho que foi a última. Os Morangos já tinham tido o seu boom, aquele efeito novidade já tinha passado. Na verdade, nem fiz parte do elenco juvenil. Fiz parte do elenco de apoio. Para mim, os Morangos foi um projeto muito igual a tantos outros que fiz em televisão.

Para além dos “Morangos”, também fez parte de projetos muito conhecidos, como “Bem-Vindos a Beirais”, “Conta-me Como Foi”, “Pai à Força”, entre muitos outros. Ainda que todos sejam especiais à sua maneira, há algum que guarde com especial carinho?

Sem dúvida o “Conta-me Como Foi”. Foi uma série que, ainda hoje, eu acho que é considerada como uma série de excelência na ficção nacional. Depois alguns telefilmes que também protagonizei, é sempre diferente fazer um protagonista. Foram experiências muito gratificantes.

É também formada em Ciências da Nutrição. O que levou a enveredar por uma área tão diferente da representação?

Na realidade, acho que elas sempre andaram em paralelo. Quando comecei a fazer teatro, era muito nova, mas eu estava na área de científico-natural. Quando acabei o 12º ano, eu fiz os primeiros 2 anos de nutrição. Depois, interrompi e vim fazer o meu curso como atriz e só depois é que acabei a licenciatura. Quanto à nutrição, eu já vinha com um background de formação, até pela área que tinha escolhido do científico-natural. Depois tinha também esta parte artística, mas era uma parte mais performativa. Eu não tinha escolhido Artes, porque estava tramada se tivesse de desenhar alguma coisa (risos). A escola está muito formatada para isso. As Artes não são propriamente performativas. Na verdade, até foi muito difícil para mim perceber que área é que ia seguir, porque podia ser qualquer uma delas, para ser muito sincera. No 9º ano, podia ser qualquer área. Eu acho que podemos gostar de muita coisa e não temos necessariamente de seguir apenas um caminho.

Já alguma vez se sentiu dividida por ter duas carreiras em áreas tão distintas? Ou até conotado como atriz no meio da nutrição e como nutricionista no meio artístico?

Na verdade, houve uma altura em que tive algum receio que isso acontecesse. Ou seja, que o facto de ter outra área fosse visto como pejorativo ou impeditivo, em ambas as questões. Ao trabalhar como atriz que pudessem diminuir-me, porque não era 100% atriz. Ou como nutricionista não me levarem a sério pelo facto de ser atriz. Mas eu acho que a idade também te traz outro tipo de maturidade, deixando de ser tão importante o que os outros pensam e começa a ser mais importante o que nós pensamos e sabemos sobre nós próprios.

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Portanto, um à vontade cada vez maior em ambas as áreas?

Numa fase inicial, mais receio da forma como me pudessem ver e a maneira como se enquadrariam em conjunto. Com o tempo, o importante é nós realmente fazemos o nosso trabalho o melhor que conseguimos e sermos fiéis a ele do ponto de vista ético, da entrega e da dedicação. Se isso estiver presente, o resto não tem qualquer importância.

A Sandra é CEO e fundadora do projeto “Papinhas da Xica”. Para quem não está familiarizado com o mesmo, como descreve este projeto?

Este projeto é um projeto de nutrição materno-infantil. Começou por ser através da partilha de conhecimento e do aumento da literacia acerca da nutrição para mães, bebés e crianças. Mães numa fase especial, neste caso numa gravidez e pós-parto. Bebés e crianças no que diz respeito à sua alimentação. O projeto acabou por crescer, deu origem a dois livros e também a produtos alimentares. Neste momento, estão disponíveis online e em várias lojas.

Pode dizer-se que é um projeto com muito sucesso. Só no Instagram, conta com mais de 100.000 seguidores, tendo já tido destaque na televisão, inclusive. Qual foi a “receita” de um sucesso tão evidente? 

Foco, perseverança, resiliência. Acho que é esse o segredo do sucesso. Não aconteceu de um dia para o outro. O projeto enquanto blog foi lançado em 2016, ou seja, há 9 anos. Realmente, começou com uma dimensão mais pequenina, mas não cresceu de um dia para o outro. Foi preciso nutri-lo muito, para que hoje tenha mais de 100.000 seguidores nas redes sociais e que vá crescendo com novos projetos, novos pontos de venda, novas parcerias. É um trabalho diário, esse é o segredo: trabalho diário.

O “Papinhas da Xica” é o projeto mais desafiante da carreira neste momento?

Neste momento, quase que me sinto totalmente dedicada às “Papinhas da Xica”. Embora tenha a sorte de pontualmente conseguir conciliar com o ser atriz. Nunca vou deixar de ser atriz, é algo que faz parte de mim. Ano passado tive a sorte de fazer um espetáculo de teatro que até ganhou um Globo de Ouro. Tive a sorte de fazer a digressão de um espetáculo no Chile, mas são coisas que eu faço pontualmente. Não tenho tempo, já que, sendo CEO de uma empresa, isso rouba-me muito tempo e tenho de estar presente. Nesta fase do projeto, sem mim, o projeto morre. Estou muito contente naquilo que são as minhas escolhas.

A Sandra representa, é gestora de uma marca, é mãe, tem a sua vida pessoal. Acredita que a eficácia na gestão de tempo é um skill que se trabalha ou é algo já veio consigo?

Eu acho que não sou a melhor pessoa para falar da gestão do tempo. Não sou a mais organizada ou, em termos da gestão do tempo, a que eu consideraria mais eficaz. O que eu acho é que consigo, na minha cabeça, dentro da minha confusão mental, ter as coisas mais ou menos organizadas e acabar por dar resposta. Esse skill de ter muitas gavetas abertas ao mesmo tempo e dar resposta é maior do que o skill de gerir o tempo.

A Sandra nasceu no Porto, no entanto já não se encontra na cidade atualmente. O que leva consigo do Porto, mesmo estando fora?

Eu moro em Lisboa há mais tempo do que vivi no Porto. Vivi no Porto até aos 19, então já dá mais tempo em Lisboa. Mas é no Porto que eu tenho a minha família toda, as minhas raízes, muitos amigos. Acredito que lá também está a minha identidade. É como quando se vai viver para outro país. Para onde quer que vá, não deixo de ser portuguesa. Eu acho que, também, mesmo vivendo em Lisboa, continuo a ter o meu sotaque, continuo a ter o meu clube que é o FC Porto, continuo a sentir-me parte daquilo que é a cidade do Porto.

Acha que ser do Norte ainda é um obstáculo, para quem quer singrar no meio artístico?

Sim. Sinto que há muito preconceito e, até sobre o sotaque, este acaba por ser um impedimento. A primeira coisa que nos dizem é que temos de limpar o sotaque. É claro que se estamos a falar de um personagem com certas especificidades, acaba por fazer sentido. Quando isso não está presente, não sei porque não posso assumir uma forma de falar que é portuguesa e que é tão certa e tão válida como qualquer outra.

Qual o projeto que ainda falta fazer, tanto numa área como noutra?

Não sei, não consigo responder, porque eu funciono muito no presente. Depois, a vida acaba por me dar presentes no futuro. Às vezes, dizer o que falta fazer traz um caminho de expectativa e frustração. Neste momento, estou muito realizada com o que faço todos os dias. Por isso, aquilo que vier e que me surpreender, será bem-vindo.

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