“A Ribeira Negra” é, em boa verdade, uma excelente obra, considerada por muitos a obra prima de Júlio Resende, que foi doada há mais de duas décadas à cidade pelo pintor e que os responsáveis autárquicos tão mal trataram, ao longo do tempo.
Ou, melhor, não trataram, deixaram-na estar encaixotada nos armazéns camarários durante muitos anos. Sei mesmo, porque conversei várias vezes com Júlio Resende, que, durante esse período, o mestre andava descontente, desiludido, triste mesmo, com a atitude da Câmara Municipal do Porto e até me disse, e está referenciado numa entrevista que concedeu ao Jornal de Notícias, que, “se fosse hoje (naquela altura), não tinha doado o painel à cidade”. Finalmente, e com a intervenção de diversas instituições, nomeadamente a Câmara do Porto, o painel original conseguiu um lugar digno, à altura da qualidade estética da obra, onde poderá ser visto e apreciado por todos os portuenses (e não só) que o desejem fazer.
É evidente que o edifício da Alfândega poderá não ser o local ideal (óptimo seria, por exemplo, o Museu Soares dos Reis ou, até, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves), mas é, no entanto, e disso não tenho dúvidas, muito melhor do que estar, como esteve, durante vários anos, encaixotado num frio armazém camarário.
“Ribeira Negra” está em exposição e ao dispor de todos, protagonizando, agora sim, o principal objectivo do pintor quando o doou à sua cidade. Cumpriu-se finalmente a vontade de um grande nome da nossa arte contemporânea e deu-se (até que enfim) a oportunidade ao público para se deliciar com uma obra desta natureza.
Agostinho Santos
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