“No FIMP queremos imaginar o nosso público de uma forma singular, como parte de um colectivo no qual também nos inserimos”, afirmou o director artístico do festival, Igor Gandra, em declarações à Viva. O desafio é, então, uma espécie de regresso à infância, “a um momento em que o jogo (teatral) e as convenções em que este jogo da representação se desenvolve parecem mais sólidas e, de certo modo, mais claras e saudáveis”.
Crise chega às marionetas
Esta forma de “viver” a marioneta concretiza-se num conjunto de espectáculos de dança, artes plásticas, artes de rua e vídeo idealizados e protagonizados por artistas da cidade, do país e do mundo. A programação do FIMP 2010 é, nas palavras de Igor Gandra, “muito diversificada e destinada a diferentes públicos”, mas não deixa de reflectir o corte de quase 70 por cento do apoio financeiro cedido pela Câmara Municipal do Porto.
“Creio que o corte é de 67%. É a crise. Toca a todos, diz-se. Mas muito mais a alguns”, notou o director artístico. Ainda assim, o marionetista demonstra segurança em relação à qualidade do festival. “Falta concretizar a coisa em si, mas estamos confiantes e atentos, assegurou.
A aposta nos aspirantes
Homenagear os percursos académicos da própria equipa organizadora é um dos objectivos do FIMP 2010. “Nós acreditamos no nosso próprio percurso. Estivemos ligados às primeiras edições do festival enquanto estudantes. Entendemos, agora, que é nosso dever proporcionar experiências semelhantes às pessoas que se estão a formar”, afirmou Igor Gandra.
A par desta intenção, destaca-se, também, a vontade de sensibilizar o público para o papel que a marioneta desempenha diariamente. “Pensemos na noção de mão invisível que supostamente regula a economia. Há uma certa magia, um certo animismo na forma como percebemos o dia-a-dia. A vida própria das coisas é uma ilusão que regula uma boa parte das nossas vidas e das nossas relações”, explicou o sucessor de Isabel Alves Costa.
Programação multidisciplinar
Até ao dia 26 deste mês, o Porto vai receber artistas italianos, russos, franceses e alemães. O festival abre com “Ópera dos Cinco Euros – Trans Gueto Express”, um espectáculo apresentando pelo Teatro de Ferro, Radar 360º e Teatro do Frio, no Mosteiro de São Bento da Vitória, às 22 horas. Esta performance representa uma tentativa de “tirar da gaiola dos especialistas (…) alguns temores, inquietudes e fechamentos que nos tocam a todos”. Uma hora mais tarde, o Arquivo Distrital do Porto abre portas a “Pequenas Cerimónias”, de João Calixto e Tiago Viegas, que recriam “a trágica saga duma noite de café curto com cheirinho”.
Além dos espectáculos, o FIMP 2010 conta com um conjunto de workshops e mostras de trabalhos em processo, os chamados WIP (Work In Progress). “O festival é uma festa de todos”, resumiu Igor Gandra, em tom de convite ao público portuense.
Para o director artístico, o aspecto menos positivo do evento é a ausência da sua antecessora. “Não poder partilhar e discutir certas matérias com a fundadora deste festival, Isabel Alves Costa, é difícil”, lamentou o marionetista.
Mariana Albuquerque