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Relatos do Dia da Liberdade no Porto

Relatos do Dia da Liberdade no Porto

No Porto as notícias da revolução levaram as pessoas espontaneamente à Avenida dos Aliados, a PSP chegou para dispersar e ainda disparou, mas aquele dia era diferente, o povo não se deixou ficar e os militares correram com a polícia.

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Na manhã do dia 25 de Abril de 1974, a cidade acordou com colunas de militares em pontos estratégicos como a ponte da Arrábida, a Luiz I ou a Via Norte e quem foi trabalhar depressa voltou, correu a ligar a rádio, soube do que se passava em Lisboa e seguiu para a Baixa – era onde estava a Câmara e os jornais – o Comércio do Porto disponibilizou, até, um placard com notícias à porta. Não havia outra forma de estar na rua e ter acesso às novidades. Nem sequer se tratava de uma manifestação, as pessoas iam aparecendo, e a polícia acabou por fugir deixando cassetetes e capacetes pelo caminho. Tratava-se de mais uma prova de que o país tinha mudado, acabara a ditadura, as pessoas podiam estar na rua sem que aparecesse a PIDE, sendo, precisamente, na cadeia e nos presos políticos que depois se centraram as atenções da multidão. “Houve alguma indefinição na Baixa. A PSP teve uma posição inicial de confronto. O que se notava nas pessoas era uma espécie de bomba prestes a explodir. Aquela gente, que esteve uma série de anos habituada a olhar para as esquinas à espera de aparecer a polícia a carregar, de repente percebeu que o dono da rua era o povo”, descreveu Honório Novo, ex-deputado do PCP na Assembleia da República, num relato “como cidadão”, porque na altura não pertencia ao partido. Com 23 anos, o jovem estava a fazer um estágio profissional e tão depressa lá chegou como veio embora. “A meio da manhã já estava em casa. Pelo caminho cruzei-me com várias barreiras do exército. À hora de almoço vi o noticiário na televisão e a partir daí saí de casa e não sei a que horas voltei”, recordou. “No início houve algum temor e cuidado na confrontação. Havia uma presença espontânea nas ruas. Depois, a desconfiança começou a desaparecer e as pessoas tomaram a rua como sua, com a certeza crescente de que o fascismo tinha caído e de que se podia estar na rua de forma livre e espontânea, expressando a raiva contida durante 48 anos”, descreveu Honório Novo, atualmente eleito pelo PCP na Assembleia Municipal do Porto.

“De um dia para o outro”
Um dos milicianos que participou no golpe a partir do Porto, destacou a viragem “de um dia para o outro”. “Os comandos intervieram [nos Aliados] e a polícia teve de fugir. Antes eram as pessoas a ‘levar’, naquele dia ‘levava’ a polícia. Depois veio uma manifestação muito grande, impressionante, para o quartel-general. Arrepiava porque aquilo, feito na véspera, deixaria as instalações da PIDE cheias”, lembra.

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