
Como explica Sebastião Feyo de Azevedo, num artigo de opinião do JN, “a Região do Porto tem todas as condições competitivas, com o conhecimento científico das suas instituições universitárias, com os seus fortíssimos clusters da saúde e farmacêutico, em mão de obra qualificada e em infraestruturas, para uma candidatura bem sucedida, a menos de razões e condições potencialmente exigidas que não sejam do conhecimento das instituições, e sobre as quais bom seria que o Governo informasse”.
E o reitor da U.Porto acrescenta: “bem mais gravoso é este sinal de concentração quase total na Região de Lisboa de instituições, de equipamentos, de instrumentos de desenvolvimento, em assimetria territorial única na Europa”.
A concentração, na ótica de Sebastião Feyo de Azevedo, pode ser um entrave. “A realidade é que não é possível um desenvolvimento harmonioso de Portugal com o acumular desta realidade concentracionista, de que aliás o caso tão recente da política de transportes da TAP, particularmente assumindo-a como instituição pública, é um importante mau exemplo”, sustenta.
De referir que o vereador do PS Manuel Pizarro pediu hoje que a Câmara do Porto constituísse uma comissão para candidatar o Porto à sede da EMA – Agência Europeia do Medicamento.
No entanto, Rui Moreira revelou uma carta recebida ontem [segunda-feira] de António Costa, onde, explica o portal de notícias da autarquia, o Primeiro-Ministro informa o presidente da Câmara do Porto que a questão está “fechada”, focando duas razões.
Segundo a carta, o Governo decidiu candidatar Lisboa por lá estar já instalado o Infarmed e porque, com uma terceira agência europeia instalada na capital, seria possível criar uma escola europeia.
Rui Moreira explicou o exemplo de Espanha, que discute o assunto desde julho de 2016, depois do Governo ter aberto a discussão nacional, culminando com a candidatura de Barcelona. Em Espanha há cinco agências e todas elas fora de Madrid. O presidente da Câmara explicou que a escola europeia, em Espanha, fica em Alicante.
O autarca citou, ainda, outros casos noutros países para explicar que a escolha de Lisboa é, em si, uma “fraqueza” da candidatura nacional.
“Em Itália, há duas agências. Nenhuma fica em Roma. A escola europeia em Itália fica em Varese, onde não há agências. Itália está a candidatar Milão à AEM. Na Alemanha, há duas agências. Nenhuma é em Berlim. Há três escolas. Nenhuma é em Berlim. Mas há uma em Karlsruhe, onde não há agências. Na Holanda há uma agência europeia. E há uma escola. A agência é em Haia e a escola em Bergen. Em Inglaterra, onde as duas agências que existem estão em Londres, entre as quais esta AEM, mas a escola europeia é em Culham”, explicou Rui Moreira.
O presidente da Câmara do Porto avançou ainda que estava disposto a votar a proposta de Manuel Pizarro, desde que o Primeiro-Ministro aceite revogar a resolução em que dá por definitivo que candidatará Lisboa.
Pediu também ao vereador socialista para dizer se estaria em condições de garantir junto de António Costa que haveria essa abertura. Mas Manuel Pizarro disse não conhecer a carta enviada e recebida ontem e que não podia garantir tal, embora também não se conforme e propôs mesmo para presidir ao grupo de trabalho Eurico Castro Alves.
O Conselho de Ministros aprovou a 28 de abril a candidatura de Portugal a sede da Agência Europeia do Medicamento, e a resolução publicada a 5 de junho em Diário da República indica que o objetivo do Governo é instalar a AEM “na cidade de Lisboa”.