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Projeto fotográfico “Ruin’Arte”

Projeto fotográfico “Ruin’Arte”
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Para o autor do trabalho, a cidade do Porto apresenta uma “arquitetura majestosa, mas, ao mesmo tempo, um pouco anónima”. “A maior parte das ruínas que fotografei são prédios urbanos com pouca história sem, no entanto, lhes ser retirado o valor arquitetónico ou patrimonial. De um modo geral, fui fotografando toda a cidade apenas focando a degradação do ambiente urbano e o seu contexto social”, explicou, à Viva, Gastão Brito e Silva.

As dificuldades começaram a aparecer no momento de reunir informação sobre os edifícios retratados. “Embora tenha fotografado algumas fábricas, chalets, palácios e quintas importantes, tem-me sido difícil não só identificá-los como também fazer pesquisa histórica que possa suportar um texto elucidativo”, referiu.

Denunciar o “romantismo de uma ruína”

A intenção da exposição patente no Palácio das Artes é, de acordo com o autor do projeto, “chamar a atenção para a degradação do património arquitetónico deste país à beira mar plantado”. Para isso, Gastão Brito e Silva serviu-se de “pedaços de história perdidos” para ilustrar a vertente romântica de um edifício ao abandono. “São ruínas industriais, urbanas, clericais, palacianas, rurais, humanas” que o artista utiliza para “denunciar e catalogar alguns exemplos dramáticos que testemunham a falta de atenção de que o património arquitetónico tem sido alvo ao longo de várias gerações”.

ruinarte_4Uma viagem de comboio como fonte de inspiração

Gastão Brito e Silva confessou à Viva ser um apaixonado por fotografia, história e arquitetura. O “Ruin’Arte” nasceu da feliz combinação dos referidos ingredientes numa viagem de comboio. “A ideia propriamente dita surgiu um dia que vinha da recruta, de comboio, e vislumbrei um monumento que acabou por ser a minha musa de inspiração. Tratava-se do Mosteiro de Nossa Senhora de Seiça, uma igreja colossal em termos de fachada e volumetria, bizarramente ‘embelezada’ por uma chaminé industrial (…). Desde então, sempre quis lá voltar e estudar esse monumento”.

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Após ter concluído a exposição “Rust in Peace”, que retrata objetos de arqueologia industrial abandonados na natureza, o fotógrafo decidiu dedicar-se, “de corpo e alma”, às ruínas. “Pouco tempo depois tive de ir à mesma zona fotografar para um cliente e foi como um chamamento, localizei o mosteiro e, nesse mesmo dia, começou o projeto ‘Ruin’Arte’”, revelou.

A partir daí, a lente de Gastão Brito e Silva percorreu praticamente todo o país. “Já visitei quase todas as regiões continentais, por cidades, vilas e aldeias, mas o meu trabalho tem-se centrado essencialmente na região de Lisboa, não só pelo número de ruínas, como também por serem mais acessíveis”, notou o artista, assumindo um gosto especial por “ruínas recônditas em espaços abertos”, cenários “amplos, iluminados e fotogénicos”.

ruinarte_5Grande parte do impacto das fotografias do projeto é conseguida através da criação de contrastes. “As imagens são captadas em RAW e abertas no Photoshop. É difícil descrever com exatidão todos os passos dados até chegar ao tratamento final, mas posso dizer que é essencialmente uma seleção de objeto e dessaturação de toda a envolvência, além de afinação de contrastes, uma vez que a maior parte do impacto gráfico reside precisamente nos contrastes criados”, sustentou.

Um trabalho dedicado a Portugal

Para Gastão Brito e Silva, o “Ruin’Arte” é uma obra “para dez milhões de portugueses”, já que é inteiramente dedicada à nação. Ainda assim, repara o fotógrafo, “é evidente que a classe política só fará algo quando houver pressões por parte da sociedade”.
Depois de ter o projeto exposto em dois museus e dois centros de arte, a maior vitória do fotógrafo foi “ter sido convidado para ser júri de um projeto escolar” e saber que “inspirou uma geração inteira de miúdos que estão ávidos de encontrar ruínas e pesquisar as suas histórias”. “Isto sim, soube-me bem”, concluiu o autor.

Mariana Albuquerque

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