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Ponte de Entre-os-Rios: 20 anos de uma tragédia que nunca será esquecida

Ponte de Entre-os-Rios: 20 anos de uma tragédia que nunca será esquecida

Faz esta quinta-feira duas décadas que Portugal assistiu à maior tragédia rodoviária do país. Foi no dia 4 de março de 2001, um domingo, que, pelas 21h10 de uma noite fria e chuvosa, colapsou o tabuleiro da ponte de Entre-os-Rios, perto de Castelo de Paiva, atirando para as águas gélidas do rio Douro um autocarro com 53 passageiros a bordo e três viaturas ligeiras, com um total de seis ocupantes. 

As 53 vítimas que seguiam no autocarro regressavam de uma excursão a Trás-os-Montes, onde tinham ido ver as amendoeiras em flor.  

No total, foram 59 as pessoas que perderam a vida nesta tragédia, cujas buscas pelos corpos duraram largos meses. Muitos foram encontrados na Galiza, a mais de 200 quilómetros do local do acidente, mas houve, infelizmente, outros que nunca chegaram a aparecer. 36 no total. Um número que continua a assombrar e a perturbar, ainda mais, a vida das dezenas de famílias que choraram a morte dos seus entes-queridos sem nunca se terem conseguido despedir deles. 

“É um dia que está sempre muito marcado na minha vida. Perdi a minha mãe, o meu irmão, um sobrinho e sete primos (…) o que mais me custa é não ter aparecido o corpo do meu sobrinho e do meu irmão. Nós não sabemos onde eles estão”, lamentou Ilda Martins, em entrevista à SIC. 

O momento em que se deu a queda da ponte de Entre-os-Rios foi relatado pelos familiares das vítimas como “a coisa mais horrível que assistiram até então”. Assim que se soube da tragédia, e ainda sem grande parte das informações confirmadas oficialmente, foram várias as pessoas que se deslocaram ao local. A visibilidade era fraca, devido ao forte nevoeiro que se fazia sentir e à falta de iluminação na ponte. “Só se ouviam gritos”, recordou. 

Também o então presidente da Câmara Municipal de Castelo de Paiva, Paulo Teixeira, relatou o mesmo acontecimento: “Quando chego próximo da ponte e paro o carro começo a ouvir muitos gritos. Recordo-me como se fosse hoje de uma senhora a dizer “Presidente, não avance mais, porque não há ponte”. Só com o nascer do sol, na manhã de seguinte, de 5 de março, o autarca teve a real noção da dimensão da tragédia que havia assolado o concelho. 

Foto: Jornal Económico

Inaugurada em 1887, a batizada ponte Hintze Ribeiro, que fazia ligação entre Castelo de Paiva e Entre-os-Rios, já havia sido notificada para um possível colapso cerca de uma década antes do incidente. Segundo avançou, na altura, o Jornal de Notícias, o pilar da ponte que colapsou estava assente em estacas de madeira. 

“Desde 1998 que eu vinha a assistir ao adiar de uma obra necessária”, lembrou Paulo Teixeira.  

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Ainda na madrugada de 5 de março, Jorge Coelho, o então ministro do Equipamento Social demitiu-se, assumindo a responsabilidade política do acidente. “Não ficaria bem com a minha consciência se não o fizesse”, afirmou, destacando que “a culpa não pode morrer solteira”. Cerca de um ano antes, o responsável havia visitado a ponte e tinha constatado que a infraestrutura, com mais de um século de existência, apresentava “alguma degradação ao nível do tabuleiro”, razão pela qual iria avançar-se com a construção de uma nova ponte. 

Após o sucedido, o Governo abriu um inquérito, que viria a concluir que o colapso da ponte teve em causa “uma conjugação de fatores”, incluindo a extração de inertes a montante de Entre-os-Rios. 

O caso foi a julgamento e, mais de cinco anos depois, em outubro de 2006, os quatro engenheiros da ex-Junta Autónoma de Estradas (JAE) e outros dois de uma empresa projetista, que o Ministério Público responsabilizava pela queda da ponte, foram absolvidos, por não existirem provas que sustentassem a acusação. 

Foto: AFVTE-R

Para Augusto Moreira, presidente da Associação de Familiares das Vítimas da Tragédia de Entre-os-Rios (AFVTE-R), fica a “mágoa” de não ver “ninguém responsabilizado criminalmente pela morte de 59 pessoas”. 

O Estado atribuiu 50 mil euros a cada família enlutada e um adicional entre os 10 mil e os 20 mil euros para cada herdeiro, em função do seu grau de parentesco.  

Adicionalmente, o Governo lançou um programa de obras de emergência em Castelo de Paiva, onde se incluiu a construção de duas novas pontes. A 4 de maio de 2002 foi inaugurada a nova travessia do rio Douro que substituiria a ponte que ruiu, naquela que foi uma obra construída em tempo recorde. 

Junto ao local do acidente, está um monumento, da autoria do arquiteto Henrique Coelho, que evoca a queda da ponte. O “Anjo de Portugal” consiste num conjunto escultórico com 20 metros de altura, constituído por um pedestal de betão, pintado de branco e um anjo em bronze, com doze metros de altura. Na base, estão gravados os nomes das 59 pessoas que perderam a vida nesta tragédia em Entre-os-Rios que Portugal jamais esquecerá. 

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