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Pauliteiros de Nevogilde

Pauliteiros de Nevogilde

Em mais uma rubrica de “Lojas Históricas”, a VIVA esteve à conversa com o presidente dos Pauliteiros de Nevogilde. José Luís Guimarães falou-nos ao detalhe sobre esta associação emblemática da cidade, que acabou de ser distinguida com o selo “Porto de Tradição”.

Como e quando surgiu a ideia de abrir o estabelecimento? 

Os Pauliteiros existem desde o dia 27 de abril de 1929, vão fazer 96 anos para o mês que vem. Na altura, as pessoas juntaram-se e fizeram a associação. Quanto à associação em si, nós dançamos os paus, as danças são idênticas às dos Pauliteiros de Miranda. Isto porque, na história, quem acabou por ajudar a fazer a associação com as pessoas de Nevogilde foi um guarda fiscal, chamado Francisco Fernandes, de origem transmontana. Na época, ele ajudou a chamar os jovens a fazer esta coletividade.

Quando se fala em Pauliteiros, é possível que façamos logo uma associação aos Pauliteiros de Miranda do Douro. Isso é um desafio, por estarem sediados no Porto? 

Sim, realmente, há muitos anos, pelo menos desde que faço parte da associação, há pessoas que ficam admiradas por haver Pauliteiros no Porto. De vez em quando, até perguntam que tipo de parceria temos com os Pauliteiros de Miranda. No entanto, nós não temos qualquer tipo de parceria. Fomos fundados em 1929 e fomos dando seguimento ao longo dos anos, até hoje. Mantemos o grupo de paus, cada vez com mais dificuldade, porque há menos pessoas. Mas vamos conseguindo manter.

Há quantos anos está presente na associação?

Eu tenho 70 anos e sou sócio desde os 14. No entanto, acho que paro lá naquela coletividade há quase 65 anos.

Como é estar há tanto tempo nos Pauliteiros de Nevogilde e acompanhar a evolução dos tempos na associação?

Eu falo por mim. Nasci em Nevogilde, depois quando era novo, não havia tudo aquilo que há hoje. Ir para uma sede na altura já era muito bom. Não esquecemos as raízes, o nome, o que fazemos e vamos conseguindo aperfeiçoar em função da época. Costumo dizer que sou um indivíduo velho mas com espírito novo. É principalmente um gosto fazer parte de uma associação que vai fazer 96 anos e dar continuidade a quem criou esta coletividade.

Há membros mais jovens na equipa? Se sim, como é a integração?

Elementos mais jovens na equipa, não. Uma das dificuldades que as associações têm, e a nossa não foge a isso, é que as pessoas mais novas não se ligam ao associativismo. Porquê? Porque têm outras coisas para usufruir, do tempo deles. As associações estão cada vez mais a ficar com pessoas de idade. Há associações que eu conheço, que já fecharam por causa disso. Não há continuidade. Ainda há malta nova que é sócia, mas se formos a ver, há uns anos, havia rapazes ou raparigas de 15 anos que gostavam de dançar os paus, hoje não. Enquanto andar por cá, vamos tentar manter os Pauliteiros até onde pudermos.

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Quais são as histórias caricatas/melhores recordações que guardam da associação? 

O carinho que eu guardo da associação é de quando fui para sócio. Só se podia aos 14 anos, estava sempre à espera de fazer 14 anos para isso. Depois disso, há tanta coisa, que nem consigo justificar um momento que ressalve mais. Entretanto, aprendi a dançar paus. Na altura, era quase impossível as pessoas que lá andavam, nao o fazerem. Era algo quase obrigatório. Fui sócio durante muitos anos, fui presidente da assembleia geral durante 25 anos, sou presidente da direção há 8 anos. Nunca quis ser presidente da direção. Fui forçado, já que aquilo estava a começar a ficar muito mau e as pessoas depositaram em mim a crença de que era a pessoa indicada para guiar os destinos dos Pauliteiros de Nevogilde. O meu medo foi que, se um dia deixar de ser presidente, vai ser complicado os Pauliteiros continuarem. Não é pelo meu valor, mas é o que eu digo: é muito difícil gerir uma coletividade com a carolice que nós temos. Mas temos momentos muito bons, desde os paus, ao lazer, bailes, karaoke. Tentamos manter a chama acesa. 

Falava das atividades que fazem e das dinâmicas que proporcionam. Quais costuma ser as reações?

Digo-lhe uma coisa, de tudo o que falei, hoje muita gente que se tornou sócia por causa destas atividades. São pessoas que ajudam muito a coletividade, pagam as cotas, vão aos bailes. Os paus se calhar não lhes dizem tanto. Só a malta que nasceu em Nevogilde, praticamente, é que está ligada aos paus. Mas os dias da coletividade são preenchidos com isto, principalmente o fim de semana, e as pessoas aderem.

Quais os melhores elogios que já receberam? 

Os maiores elogios que recebemos têm a ver com a nossa dedicação. As pessoas elogiam a direção, pela dificuldade que existe neste momento e nós, mesmo assim, conseguimos manter a sede participativa. No entanto, o maior elogio de todos é sobre a dedicação que temos aos Pauliteiros de Nevogilde. De resto, daquilo que eu sei, nunca ouvi ninguém dizer mal da associação. Quando falam, falam bem, pelo movimento que nós criamos.

Na vossa opinião, o que distingue os Pauliteiros de Nevogilde?

Acho que não posso dizer isso. Todas as associações lutam pelas associações que defendem. Para nós, são as melhores maneiras de os fazer. Dançar os paus, não conheço mais nenhuma no Porto. Não somos diferentes de ninguém, tentamos fazer o nosso trabalho. E apoiamos muito, até amigos de outras associações, naquilo que é o associativismo. O associativismo é uma parte integrante da sociedade. É claro que se calhar não é tanto para uma classe alta, se calhar mais para uma classe baixa e trabalhadora. Não é dizer mal, mas à classe alta diz menos. É mais para pessoas que chegam ao fim do dia de trabalho e depois se querem distrair com qualquer coisa, mais antigamente. Para nós, que nascemos dentro disto, conseguir manter a associação já é uma vitória. E um orgulho.

Sobre o espírito de associativismo que mencionou, sente que entre os seus pares é algo que ainda está bem presente?

Sim, posso dizer que sim. Temos boas relações com outras associações. Como eu digo, até na minha vida profissional, ser concorrente não é ser inimigo. Não é. A concorrência, muitas vezes, até ajuda a melhorar algumas coisas em que estamos mal.

Recentemente foram distinguidos pela Câmara do Porto. Qual é a importância de estarem abrangidos pelo programa “Porto de Tradição”?

Foi algo que a junta de freguesia nos disse, que podíamos concorrer ao “Porto de Tradição”. Eu disse que vamos concorrer, já que é algo que vai enaltecer a coletividade. Posto isto, ao fim deste tempo todo, recebermos a notícia de que podíamos fazer parte já foi bom. Saber depois que já fazíamos parte, foi ótimo. O que nos vai beneficiar, fico à espera de que possa ser uma coisa muito boa para os Pauliteiros de Nevogilde.

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