Corria o ano de 1957 quando a rainha de Inglaterra, Isabel II, acompanhada pelo duque de Edimburgo, passou pela cidade do Porto, numa visita rápida, mas marcante. A monarca britânica de 30 anos, na época, foi recebida na cidade Invicta com grande entusiasmo popular, relatava o Diário de Lisboa, na primeira página da edição de 21 de fevereiro de 1957: “a cidade do Porto, última terra portuguesa visitada pela rainha Isabel e pelo duque de Edimburgo, viveu hoje um dos seus dias grandes, dando mais uma afirmação clara e expressiva da sincera e espontânea hospitalidade que caracteriza os seus habitantes”.
“A burguesia e a gente humilde mais uma vez se misturaram nas suas ruas, praças e avenidas, numa afirmação entusiástica, imprimindo à cidade um ambiente de acontecimento invulgar, que ficará a perdurar na memória de todos”, acrescentava.
De acordo com a Máxima, duas semanas antes da chega do casal real, “os jornais começaram a publicar avisos em relação às alterações de trânsito impostas pela passagem das comitivas, ao mesmo tempo que forneciam indicações” a quem sonhava ver a rainha de perto.
“Ensaiavam-se cortejos e cerimonias, procedeu-se à reparação da sempre difícil calçada portuguesa e as mulheres da Nazaré prepararam uma boneca tradicional, devidamente vestida com as sete saias da praxe, para oferecer à princesa Ana, então com seis anos de idade”, descreve a publicação.
O Diário de Lisboa escrevia sobre a “espontânea euforia e simpatia da multidão, que deu assim a nota de profunda estima e especial simpatia que o povo do Porto sente pela Inglaterra, pela sua gente e pela sua soberana”, e recordava as razões para esta afeição: a cidade nortenha é “berço da maior e mais antiga colónia britânica em Portugal, que com a Inglaterra sempre manteve relações de intenso comércio e o seu grande embaixador – o vinho do Porto – granjeou na Grã-Bretanha invulgar prestígio. Daí, reivindicar o Porto para si o título de a mais anglófila cidade portuguesa.”
“O cortejo penetrou na cidade pela Rua do Monte dos Burgos, seguindo pelas ruas do Carvalhido e da Prelada, Avenida da França e Praça de Mouzinho de Albuquerque, onde se aglomerava enorme multidão”, detalhava o jornal, acrescentando que pela Avenida dos Aliados e Praça da Liberdade “assumiu aspetos deslumbrantes pelo ambiente de verdadeira apoteose que envolveu o pequeno cortejo. Nos passeios, a multidão comprimida procurava por todos os meios testemunhar à rainha a sua simpatia enquanto das janelas não cessava também de cair flores.”
A monarca britânica, cujos 70 anos de reinado foram celebrados em junho, cruzou o Douro para Vila Nova de Gaia pelo tabuleiro superior da Ponte Luiz I, e regressou ao Porto pelo tabuleiro inferior, “dirigindo-se ao Palácio da Bolsa, onde teve lugar a receção oficial. Ao ato solene seguiu-se uma refeição ligeira, e os cumprimentos à multidão a partir da varanda do edifício”, lê-se no portal de notícias da Câmara Municipal.
A monarca dirigiu-se mais tarde à Feitoria Inglesa para contacto com a comunidade britânica na cidade. “Sua Majestade, que tinha ocupado um automóvel fechado, disse que era seu desejo seguir num carro aberto, pelo que, não havendo perto outro, passou para um carro de transporte de guardas da PSP”, realçava a reportagem do Diário de Lisboa.
A visita de Isabel II ao Porto estava a chegar ao fim: “O cortejo regressou a Pedras Rubras em ambiente verdadeiramente apoteótico, com a multidão comprimida ao longo do percurso. As aclamações atingiram o rubro e no ar estralejavam foguetes. O cortejo passou pela Marginal, atravessou a Foz do Douro, sendo então lançadas flores sobre o carro que transportava o régio casal.”
De realçar que a rainha Isabel II visitou o país numa altura em que ainda se vivia a ditadura e Salazar aproveitou, precisamente, a visita da monarca para aliviar a pressão internacional, especialmente nas Nações Unidas, onde a política colonial portuguesa era posta em causa cada vez com mais frequência.
A monarca britânica só voltaria a visitar a cidade do Porto quase três décadas depois, em 1985, tendo sido recebida pelo então presidente do município, Paulo Vallada, nos Paços do Concelho. “O autarca entregou as chaves da cidade à rainha de Inglaterra, que seria mais tarde brindada com uma parada militar na Ribeira”.
Foto de capa: Museu da Presidência da República
Fotos da galeria: Arquivo Municipal do Porto