A sétima edição do Spring On – Rito da Primavera, que decorre entre esta quinta-feira e domingo, volta a reunir na Casa da Música algumas das propostas mais desafiantes do jazz atual, privilegiando os projetos de jovens músicos europeus.
O Spring On dá particular destaque à vertente da improvisação, apresentando, para tal, formações cujas referências podem “distanciar-se mais ou menos da tradição do jazz, para se atravessarem sem qualquer pudor pelas sonoridades do rock, da eletrónica, das músicas tradicionais ou das novas tendências urbanas”.
O ciclo tem início esta quinta-feira, pelas 22h, com um concerto de entrada livre pelo trio B-Mesmo, cujo trabalho assenta em canções das mais inesperadas proveniências, desde melodias populares judaicas a temas como “São Jorge”, do brasileiro Kiko Dinucci, ou “Dolcenera”, do italiano Fabrizio De André. O contrabaixista Walter Areia junta-se neste projeto a Elena La Conte (flauta e voz) e Kristina Van de Sand (violino e voz), apresentando arranjos originais que transpiram multiculturalidade.
Na sexta-feira, pelas 22h, sobe ao palco da Casa da Música Paisiel, o enigmático nome do projeto que reúne o baterista, percussionista e escultor sonoro João Pais Filipe com o saxofonista alemão Julius Gabriel. Alicerçada numa exploração individual do som e das possibilidades expressivas dos instrumentos, a música deste duo traduz um impulso de sistematização de referências sem correspondências nem afinidades óbvias.
Uma hora depois é a vez do quinteto Honest John, que reúne alguns dos músicos mais ativos e criativos do jazz e da música improvisada da Noruega. Inspirando-se em fontes tão diversas como o free jazz holandês, o samba jazz brasileiro e compositores eruditos como Webern e Sciarrino, o resultado são composições enérgicas com grande abertura para a improvisação do coletivo em palco.
A noite de sábado está reservada às atuações de Julius Gabriel (22h) e do septeto Heartbreakers (23h).
No seu primeiro álbum a solo, “Dream Dream Beam Beam,” o saxofonista alemão Julius Gabriel organiza as suas idiossincráticas influências musicais por forma a criar um mantra fluido de padrões circulares, overtones e erupções de free jazz, que pode ser compreendido como a síntese possível de uma longa tradição jazzística intersectada por imaginativas intrusões de drones e noise.
Já o septeto Heartbreakers desafiou a cineasta francesa Amarante Abramovici para embarcar numa colaboração com vista à criação de um espetáculo audiovisual. A partir de linguagens musicais que preenchem o repertório deste septeto, Abramovici empresta uma visão transversal da história, um olhar sobre o passado com vista a interpretar o presente e informar um possível futuro. A sonoridade dos Heartbreakers constrói-se numa interação simbiótica entre instrumentos acústicos e digitais, incidindo sobre quatro compositores do século XX que muito marcaram a sétima arte: do minimalismo de Michael Nyman e Marc Mellits à linguagem avant-pop de JacobTV e aos ragas indianos de David Brown.
O Spring On termina no domingo com a atuação de Enrico Zanisi (21h) e Roque (22h).
Enrico Zanisi é um jovem músico italiano com uma formação multifacetada e provas dadas no domínio do jazz, género que se tornou o seu habitat natural desde os 15 anos. Aos 27, é uma das mais sonantes revelações do jazz italiano recente, multiplicando atuações em festivais e clubes de jazz do seu país e em paragens tão diversas como Noruega, Reino Unido, Polónia, México, Brasil, Índia, Marrocos e Israel.
O quarteto Roque é formado por João Roque (composição e guitarras), João Capinha (saxofones e clarinete), Xico Santos (contrabaixo) e João Rijo (bateria). Com um disco editado em 2016, Roque apresenta a música de João Roque, fundindo influências do rock e do jazz e privilegiando melodias cativantes e ambientes sonoros com forte componente imagética.
A entrada nos concertos custa 5 euros, exceto esta quinta-feira, que tem entrada livre. O público poderá comprar uma assinatura Spring On por 10 euros.