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Noa: “A música mexe com a energia das pessoas e há algo invisível que nos liga para sempre”

Noa:

Esta quinta-feira, dia 3 de abril, fica marcada pelo lançamento da música “Quero-te Ter Perto de Mim”, de Noa. A VIVA aproveitou para estar à conversa com a artista. Em entrevista, ficamos a saber mais sobre o novo projeto, planos futuros, o balanço dos últimos anos e muito mais.

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Começando pelo início, perguntava-lhe quando é que se apercebeu de que a música era algo mais do que um simples hobby.

De facto, a música é algo que já vem de trás, com a educação que os meus pais me deram, também o meu avô tocava bandolim, o meu pai tocava guitarra e já compunha canções para a minha mãe… Nunca faltou música cá em casa. Talvez por isso, fui aos 10 anos para o violino. Com essa formação clássica uns anos mais tarde comecei a tocar em casamentos, festas cerimoniosas, galas e assim comecei a ganhar dinheiro com o violino…depois enveredei pela Improvisação, na antiga Escola de Jazz do Porto e, mais tarde, comecei a tocar violino com housemusic juntamente com amigos meus dj’s. Também desde os meus 18 anos que comecei a dar aulas de iniciação musical a crianças. Sempre consegui compatibilizar as diferentes vertentes da música.

Para além de cantora, a Noa compõe, é instrumentista, palestrante, poetisa, estudante e professora. No caso de alguém que faz tanto de tudo, é possível ser-se 100% nas coisas todas? Ou por vezes é complicado desdobrar-se por tudo o que a apaixona? 

Eu acho que, mesmo que fizesse uma só coisa, nunca seria completamente 100%. Há uns anos, um antigo professor meu encontrou-me na rua e, depois de conversar um bocadinho, ele saiu-se com esta: “Tu hás-de ser sempre uma estudante”. Naquela altura, isso magoou-me muito porque percebi aquilo, exactamente, como se nunca fosse ser boa em nada. Mas com o tempo, fui ficando mais madura e encaixei essas palavras de outra forma: eu não tenho interesse em ser um produto acabado! Eu quererei ser sempre estudante e continuar a querer aprofundar o meu conhecimento sempre mais e mais. Por isso, respondendo-te ao que me perguntaste: sou 100% boa como mãe e sou 100% como lutadora, como guerreira. Mas sim, por vezes, não é fácil conciliar os diferentes mundos porque cada um deles exige muita demanda. O segredo é lidar com um problema de cada vez. Perceber a prioridade que cada um ocupa na minha vida e ir resolvendo e assim vai…

Hoje, dia 3 de abril, é lançado o tema “Quero-te ter perto de mim”. Diria que foi um processo criativo especial, também pelo facto de ter sido feito além fronteiras? 

Sem dúvida! Todo o processo surgiu de forma inusitada. Conheci o Armandinho em 2018, em casa de amigos comuns na Praia de Guarajuba, na Bahía. Aí, num repente ele puxou a minha cadeira e disse: – Quero você perto de mim. E eu respondi a cantar: – Ter seu sorriso só para mim… E ele pegou na sua guitarra baiana e continuou melodicamente. Foi nesse preciso momento que estava dado o mote para aquilo que algm tempo mais tarde viria a tornar-se neste tema que será lançado hoje. A produção foi feita cá, em Portugal, incluindo todas as gravações.  Conseguimos juntar a Baianidade com a nossa Portugalidade. A Saudade é um tema comum na nossa Língua.

Quem acompanha o percurso artístico da Noa, consegue reparar que há uma forte ligação ao Brasil. O que é que mais a apaixona neste país? Há alguma razão para se associar artisticamente ao Brasil?  

A primeira razão é o facto de ter uma tetravó indígena da Amazónia. É algo do qual só tive conhecimento há relativamente pouco tempo mas que, na verdade, sempre o senti. Havia algo que me “puxava” para o Brasil, mas não para qualquer cidade: só para a Bahía e para a Amazónia. Já tive oportunidade de conhecer mais cidades do Brasil mas nada me preenche tanto como a Amazónia e a Bahía. Há algo na sua Natureza que me envolve e artisticamente falando, há algo no ritmo que mexe comigo. Paralelamente, há uma espécie de dolência na melodia ancestral brasileira que encontramos no nosso fado. Há vários pontos em comum apesar da ligação não ser imediata, para mim, a conexão é imediata.

Esta canção faz parte da coletânea “Saudade”. Diria que o “Quero-te ter perto de mim” é uma espécie de antecâmara do que ainda vem aí? Ou poderemos ver a Noa em registos diferentes? 

Há muitas Noas dentro da Noa. Ela é o alterego artístico da Lia, a primeira a aparecer. Essa é que foi forjada por muitas ferramentas diferentes, muitas influências musicais e artísticas que esculpiram o que a Noa agora, expressa. Por isso, a Noa vai sempre mostrar mais do que um registo. Faz parte dela. Esta colectânea “Saudade” vem celebrar 10 anos desde o lançamento do primeiro álbum “As coisas boas”. Reúne os melhores temas destes últimos 10 anos e ainda mais três temas inéditos cujos registos também serão diferentes entre eles. No entanto, o meu”som”, esse, mantém-se. É o ponto comum entre todos estes registos diferentes. Aquilo que , para quem ouve a primeira vez, faz dizer: esta é a Noa!

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Porquê o nome “Saudade”? De que forma diria que este sentimento se encontra presente nas canções do álbum? 

Saudade é um sentimento universal da Língua Portuguesa.
A palavra “saudade” ocupa um lugar especial na cultura e na identidade dos povos de língua portuguesa. É um termo singular, de difícil tradução, que exprime um sentimento profundo de nostalgia e de desejo  por algo que ainda não foi realizado, algo que ainda está por acontecer, algo que ainda está no futuro. No fundo, há um sentimento generalizado de algo que falta cumprir. Em Portugal, este sentimento está profundamente enraizado na cultura popular e na literatura, refletindo a história de um povo marcado pelas partidas e descobertas.
Fernando Pessoa afirmou: A minha pátria é a língua portuguesa.  Esta frase evidencia que a identidade lusófona não está presa a fronteiras geográficas, mas sim ao idioma que une os povos de Portugal, Brasil e outros países de expressão portuguesa. Por isso, a Saudade, quer se queira quer não, estará sempre presente na minha música porque na verdade há uma herança cultural partilhada.

Qual é o balanço que faz de 10 anos discográficos? Algum desafio que destaque em particular? 

São 10  anos que passaram a correr. Se fosse possível fazer um gráfico diria que a seta é sempre em sentido ascendente mas de forma consistente, sem subidas acentuadas nem descidas vertiginosas. É um processo consistente, parece-me. O desafio é manter o equilíbrio entre a pertinência no panorama musical e a vontade de se fazer o que se ama e apetece naquele momento. Nem sempre andam de mãos dadas e um passo em falso pode significar um retrocesso nessa subida. Mas a vida é também isso mesmo: errar, levantar rapidamente e seguir em frente.

A Noa já atuou em diversos locais, ao longo da sua carreira. Diria que há algum palco que é diferente dos outros por alguma razão? Confirma a teoria de que atuar no Porto tem sempre outro encanto? 

O que torna os concertos especiais, para mim, é o público. Não é tanto a geografia. Claro que o palco do Montreaux Jazz Festival foi um palco importantíssimo para mim. Lembro-me que desatei a chorar no camarim quando acabei o concerto.  Mas também já actuei em locais mais pequenos onde a proximidade com o público fez com que nos galvanizássemos uns aos outros. A música mexe com a energia das pessoas e há mesmo algo invisível nos olhos que acontece e que nos liga para sempre. Este é o encanto da música.

Quando a Noa não está em palco ou a pensar em música, o que mais gosta de fazer nos tempos livres? 

Tento aproveitar todo o tempo possível com a minha filha Luz, seja a brincar com ela, a passear, em concertos por exemplo. Quando estou sozinha, gosto de ler e de, literalmente, não fazer nada a não ser ficar a olhar o infinito, em silêncio.

No mundo da música, qual é aquele plano futuro que sente que ainda falta cumprir?

Falta fundar uma escola de música e de criação artística para todos. O que me move no mundo é a Educação. Acredito que será sempre através da educação que poderemos mudar o paradigma mundial actual. Por isso, urge haver mais livros sobre música, mais poesia para as crianças, mais literatura, mais arte para os cidadãos. Tornar a Arte essencial e vital na vida e na existência humana. 

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