
Em 2015, as mães portuguesas com 35 anos ou mais representavam já quase 30% do total, colocando Portugal na quinta posição da União Europeia a este nível.
Os dados constam do European Perinatal Health Report, desenvolvido no âmbito do projeto europeu Euro-Peristat, coordenado pelo Inserm e do qual o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) é parceiro.
Segundo os dados do relatório, que faz um retrato da saúde materna e neonatal em 31 países da Europa (os da UE mais a Suíça, a Islândia e a Noruega), há uma tendência geral para se ter filhos mais tarde no continente. A exceção acontece na Alemanha, na Estónia, na Holanda e na Suécia. Em Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda, a percentagem de mães tardias disparou entre 2010 e 2015.
Para Henrique Barros, presidente do ISPUP e um dos autores do relatório, “é interessante verificar que foi nos países mais afetados pela crise económica e financeira que as mulheres mais adiaram a maternidade”. O investigador considera que “são necessárias políticas de suporte às mães e pais trabalhadores para incentivar a maternidade em idades mais jovens. Além disso, os serviços de saúde em países que têm mães em idades mais avançadas têm de garantir que as necessidades destas mulheres são asseguradas durante a gravidez”.
O relatório, que analisou dados relativos a cinco milhões de partos ocorridos em 2015, comparando-os com números de 2010, mostra que Portugal está bem posicionado em indicadores como mortalidade infantil e a maternidade na adolescência (antes dos 20 anos).
Existem, contudo, outros indicadores com resultados não tão positivos. Por exemplo, estão a nascer no país cada vez mais crianças com baixo peso (menos de 2500 gramas), 8,9% em 2015, uma das proporções mais elevadas dos países da União Europeia, e que se poderá justificar em parte pelo aumento da maternidade tardia, presença de doença crónica e pelo maior número de gravidezes múltiplas (gémeos).
Henrique Barros sublinha que “se temos menos bebés pré-termo e mais com baixo peso, significa que estão a ocorrer circunstâncias que estão a dificultar a nutrição fetal”.
Quanto às taxas de mortalidade neonatal (até 28 dias após o parto), constatou-se que, no geral, a situação melhorou, tendo as taxas baixado cerca de 10% face a 2010. Neste aspeto, Portugal está bem colocado, mas “há ainda espaço para melhorar, uma vez que existem países com números de mortalidade neonatal mais baixos”. Além disso, é necessário saber quantos bebés morrem e em que circunstâncias morrem, assim como conhecer os dados das maternidades e hospitais privados, onde são feitos cerca de 15% dos partos.
No que diz respeito aos partos por cesariana, verificou-se que entre 2010 e 2015 a situação melhorou em Portugal, mas, segundo o presidente do ISPUP, os números continuam elevados.