No âmbito do processo de entregas às misericórdias dos hospitais, que se iniciou na passada sexta-feira, o provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP), António Tavares, defendeu a restituição do Hospital de Santo António à instituição.
Gerido até 1976 pela SCMP, o Hospital de Santo António é ainda hoje propriedade daquela instituição, tendo ali sido ministrado, durante 130 anos, o ensino da Medicina.
Aplaudindo a “coragem” do atual Governo em iniciar, nos termos de um decreto-lei de outubro de 2013, o processo de devolução às Misericórdias dos hospitais que foram integrados no setor público e são atualmente geridos por estabelecimentos ou serviços do Serviço Nacional de Saúde, António Tavares espera que tal signifique “uma nova fase de relacionamento mais próximo entre Misericórdias e Governo”.
“Há outros hospitais que ainda estão a ser estudados. Acima de tudo, são hospitais que foram e são propriedade das Santas Casas da Misericórdia e, portanto, é uma atitude legítima de devolução aos seus proprietários”, afirmou.
“A alternativa – acrescentou – é chamar americanos e chineses [para gerir esses hospitais] e penso que não é isso que os portugueses querem, penso que querem ter portugueses a tomar conta da sua saúde e dos seus problemas”.
António Tavares considera que, apesar da “coragem” do atual executivo, a devolução dos três primeiros hospitais (Fafe, Anadia e Serpa) às misericórdias foi ainda “feita com alguma timidez e desconfiança”, situação justificada com a “suspeição” ainda “muitas vezes” sentida por “parte de alguma classe política” relativamente à “importância” daquele movimento, “não só na área da saúde, mas também da proteção social”.
“A sociedade portuguesa está muito crispada” e “com muitos problemas na abordagem às situações” que tem vivido, pelo que António Tavares defende que se “acredite mais uns nos outros” e lembrou que “as misericórdias foram fundamentais neste processo de crise económica e social” e podem, ainda, “ter um papel mais importante na inovação social e na defesa do Estado Social”.
“As misericórdias querem contribuir para a defesa do Estado Social com a sua experiência, que é muito grande. São cinco séculos em que, lado a lado com o Governo, com os municípios e com o Estado, as misericórdias sempre serviram os portugueses”, defendeu.
O provedor disse ainda que o atual Governo “conseguiu compreender que a sociedade civil pode ajudar a resolver muitos dos problemas que o Estado já não tem condições para resolver, quer seja no interior do país, fundamentalmente, quer seja nas grandes zonas urbanas”, pelo que destacou a importância que esta intervenção pode ter, “nomeadamente, no grande flagelo do combate ao desemprego”.
“Quer o primeiro-ministro, quer o ministro da Saúde, quer o ministro da Solidariedade Social e os seus secretários de Estado tiveram sempre uma grande compreensão para este fenómeno, e por isso houve a coragem de entregar os primeiros hospitais”, que “são de meios mais pequenos, com não tão grande expressão”, mas representam um “passo que queremos que seja continuado”, concluiu.