Faltam apenas 15 dias para a reabertura do emblemático Mercado do Bolhão depois de terem sido realizadas as obras de restauro e de modernização, iniciadas em 2018 pela empresa municipal, Go Porto.
O edifício, o mercado e as pessoas nortearam todos os trabalhos de recuperação e de atualização do Mercado, conservando a identidade do edifício, sem esquecer o desafio de o preparar adequadamente para o presente e futuro.
Em causa estiveram diversas intervenções, entre as quais, a total recuperação da fachada, os revestimentos com azulejo em vários compartimentos, a recuperação de toda a cobertura do edifício e o reforço da sua estrutura em soletos de ardósia. Também na cobertura, contemplou-se o tratamento de todo o gradeamento metálico das cumieiras.
O novo edifício terá um total de 38 lojas, 10 restaurantes e 81 bancas, acomodando 62 comerciantes (mais 29 novos) e 27 inquilinos históricos (e 12 estreantes). Quanto à reorganização do espaço, o mercado de frescos é no piso térreo e os restaurantes, que assumem o compromisso de comprar os produtos nas bancas do mercado, são no piso superior.
Já as lojas ficam voltadas para o exterior, num edifício mais transparente e que reforça a sua interligação com a cidade através da praça na entrada da Rua Formosa, onde vai ser possível fazer eventos, de uma ponte que liga diretamente as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira e ainda de uma entrada direta a partir da estação de metro.
A principal novidade tem que ver a cave logística, que, no subsolo, ocupa todo o monumento com armazéns, câmaras frigoríficas, produção de gelo e um espaço destinado às cargas e descargas. Neste espaço existe ainda uma zona de balneários e outra de separação e tratamento dos resíduos.
A partir do dia 15 de setembro haverá também uma maior oferta de produtos, visto que, os comerciantes, que estavam restringidos a uma licença, poderão vender bens de outras categorias. “Foi feito um trabalho a nível de alargamento desses produtos e de 22 categorias, para cada um poder ter a sua oferta alargada, ficando disponíveis quase 4.500 produtos”, sublinhou, a vice-presidente da Go Porto, Cátia Meirinhos, aquando da visita guiada, pelo Mercado, à imprensa.
No âmbito da mesma iniciativa, o arquiteto e autor do projeto, Nuno Valentim, garantiu que os visitantes vão ficar “surpreendidos com a qualidade original, identitária que o Bolhão sempre teve e que estava encoberta”. “O projeto ajudou a destapar e a ler esses valores. Por exemplo, o do perímetro da praça original do mercado, a cobertura em ardósia, que tinha desaparecido, o voltar a ter uma relação com os vendedores e os produtos”, detalhava.
A Câmara Municipal revelou também algumas curiosidades neste processo de reabilitação do Mercado Bolhão, como por exemplo, a utilização de “12 tonalidades para conseguir uma maior aproximação à cor de origem” dos azulejos e “a execução de 19 protótipos ao longo da empreitada, como o do toldo das lojas exteriores, o da cobertura das bancas no piso térreo ou o do tramo de cobertura da galeria”.
No que toca à marca Bolhão, esta resulta de uma estratégia que se começou a desenhar em 2018, aquando da abertura do Mercado Temporário do Bolhão (MTB). O processo da sua construção foi iniciado nesse momento e “previu a filiação do MTB na gramática da identidade visual da cidade do Porto”, esclarece a autarquia.
Na construção da marca pretendeu-se consolidar a dimensão municipal do mercado, bem como a sua centralidade e importância, integrando-o na linguagem global da cidade e comunicando o Bolhão e a cidade como complementares e indissociáveis.
O município do Porto prevê que marca Bolhão possa ser «da época», “adaptando-se a festas e sazonalidades, comunicando os ciclos, e a vida, do mercado e da cidade”. No momento da sua apresentação, a marca surge sobre imagens de vendedoras do mercado em 1932, provenientes do Arquivo Histórico da Câmara Municipal e pertencentes à coleção Hélder Pacheco. “Com esta memoria do passado e a promessa de que «É para sempre.» pretende-se reforçar a ideia de que o mercado, com as suas funções, gentes e espaços, está a ser devolvido à cidade para um compromisso de futuro”, acrescenta.
Em jeito de balanço da emblemática intervenção, o presidente da autarquia portuense, Rui Moreira, relembrou o desafio que foi levar a cabo este projeto, procurando o exigente equilíbrio entre a preservação do património material e imaterial intrínseco ao Bolhão e a criação de melhores condições para fruição do espaço e para o exercício das atividades.
Para Rui Moreira a etapa mais difícil foi reconquistar a confiança dos comerciantes e confessou compreender as suas desconfianças: “eles tinham muitas razões para suspeitar. É bom lembrar que quiseram fazer aqui centros comerciais”.
“Conquistar a sua confiança foi vital e foi conseguido”, frisou, acrescentando que os comerciantes
“merecem” o trabalho de requalificação realizado. “Foram eles que aguentaram o Bolhão, sem as mínimas condições. O mercado só existia porque os comerciantes não queriam ir embora daqui. Não fosse isso e ele tinha acabado”, concluiu.