Tenho medo de morrer, tenho medo de sofrer e tenho medo que o medo se torne em pânico e histeria, nós percamos o controlo da situação.
Esta pandemia foi uma pancada nunca vista nas nossas vidas. Reduziu-nos à dimensão do que sempre fomos: não contamos para nada e somos pin ups neste mundo.
Nós todos temos que ser a resistência contra esta ocupação vírica. A vitória não chegará num dia, numa semana, num mês, mas em bastante tempo.
A distância social de agora vai-nos converter no futuro para pessoas menos comunicativas e menos sociáveis. Tudo terá que ser pensado com a distância de dois metros.
A nossa sociedade, com a crise económica de 2008 tornou-nos mais egoístas, mas esta crise viral vai-nos tornar mais desconfiados.
Nesta hora de tragédia colectiva não é oportuno apontar responsabilidades, mas no futuro é preciso repensar o nosso SNS e dotá-lo de meios para o tornar mais eficiente e capaz de responder em momentos como este.
Tenho medo das consequências que o nosso isolamento em casa seguido de algumas restrições, com o consequente desgaste psicológico que durará algum tempo nos faça desmoralizar.
É um momento de colossal esforço colectivo que tem por finalidade proteger a vida e a saúde de todos.
Não podemos baixar os braços nem relaxar em demasia temos que ser fortes, estar atentos e informados.
Portugal transformou-se num hospital. Toda a gente fala do coronavírus como se fosse um especialista e tece considerações mirabolantes.
Joaquim Jorge
Biólogo, fundador do Clube dos Pensadores
*texto extraído do seu último livro publicado “Notas da Covid-19”