
Fundada em 1860, a histórica Casa dos Linhos, reconhecida como Porto de Tradição, e que já fez parte da rubrica Loja Histórica da Viva!, enfrenta o desafio de um despejo iminente. De acordo com o JN, após uma longa disputa judicial, o Tribunal da Relação manteve a decisão favorável ao senhorio, que exige uma renda quase nove vezes superior à atual, rondando os cinco mil euros.
Os atuais gestores, Felisberto Carvalho e Estela Pinto, têm agora 20 dias para abandonar o número 660 da Rua de Fernandes Tomás, no coração da Baixa do Porto, junto ao Mercado do Bolhão.
Júlia Martins, cliente de longa data, expressa a sua tristeza: “É um desgosto muito grande; esta loja é uma preciosidade, uma casa-museu, e devia prevalecer, porque faz parte da nossa identidade”. (via JN) Especializada em retrosaria e bordados artesanais, a loja preserva tradições que abrangem todo o país, desde o Norte até ao Sul, com peças certificadas que valorizam o trabalho das bordadeiras.
Um negócio ameaçado pela pressão imobiliária
Os gestores enfrentam dificuldades em encontrar um espaço acessível na cidade. “Não temos alternativa; se tivéssemos, mudávamos. Tentamos ver espaços, mas não é fácil. Pedem cinco e seis mil euros de renda, na melhor das hipóteses. Por uma loja na Rua de Alexandre Braga pediram oito mil, e não temos rentabilidade para isso”, lamenta Felisberto. Apesar do cenário desfavorável, o sócio-gerente assegura que a luta pela continuidade do negócio é uma prioridade . A ideia é não fechar a Casa dos Linhos e encontrar apoio para um local viável. (via JN)
A situação atual decorre de uma disputa jurídica em torno da venda de quotas do negócio, que o senhorio alega ter violado o seu direito de preferência. Enquanto procuram uma solução, os clientes expressam solidariedade e indignação.
Um espaço que vai além do comércio
A Casa dos Linhos é mais do que uma retrosaria; é um centro de saber e tradição. Além de vender bordados e materiais de tricô, os funcionários oferecem aconselhamento técnico e promovem o artesanato nacional. “É um espaço onde as pessoas tiram dúvidas sobre bordados ou tricô. Aqui temos as duas coisas: pessoas que vendem e percebem de bordados e que aconselham os clientes”, explica Felisberto.
O espaço também abriga um pequeno museu no piso superior, onde estão expostos utensílios históricos, como a primeira tesoura e o ferro de engomar da loja, bem como painéis bordados que retratam a história do Porto e da Casa dos Linhos.

Investimentos para preservar a tradição
Em 2011, durante a crise económica, os atuais gestores assumiram a responsabilidade de revitalizar a loja, prometendo ao descendente do fundador preservar as suas características originais. Posteriormente, em 2014, investiram 120 mil euros na reabilitação do espaço, criando um ambiente único que inclui uma varanda móvel em ferro, inspirada nos elétricos do Porto, e um teto decorado com painéis bordados.
Sem um novo espaço acessível, a Casa dos Linhos corre o risco de fechar as portas definitivamente, encerrando um capítulo de 165 anos de história. Os gestores apelam à comunidade para ajudar a preservar este símbolo da identidade portuense.