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Recheio 2025

Liga Portuguesa de Profilaxia Social

Liga Portuguesa de Profilaxia Social

Em mais uma edição da rubrica “Lojas Históricas”, a VIVA! esteve à conversa com Edite Silva, da Liga Portuguesa de Profilaxia Social (LPPS). O espaço já é reconhecido com o selo “Porto de Tradição” da Câmara do Porto, desde setembro de 2020.

Em entrevista, conseguimos conhecer melhor a história da instituição, as diferentes áreas de atuação, algumas recordações especiais e muito mais. Em baixo, pode ler na íntegra todas as respostas.

Como e quando surgiu a ideia de abrir o estabelecimento?

A Liga Portuguesa de Profilaxia Social (LPPS) deu os seus primeiros passos em 1924, na cidade
do Porto, após uma viagem do seu principal fundador, Dr. António Emílio de Magalhães à
Argentina, no âmbito da sua atividade clínica em navios da marinha mercante. Aí, conheceu a
Liga Argentina de Profilaxia Social e as campanhas que desenvolvia. Juntamente com outros
dois jovens médicos, Cândido Henrique Gil da Costa e Arnaldo Veiga Pires, a LPPS iniciou,
então, o que viria a ser uma longa história de intervenção médico-social, vocacionada para a
prevenção de problemas sociais de impacto relevante nas diferentes épocas subsequentes.

Têm funcionários presentes (quase) desde a abertura ou que já vos acompanhem há muito tempo?

Não, até porque hoje já teriam mais de 100 anos! Seria, sem dúvida, uma mais-valia podermos
contar com esses testemunhos vivos — seriam valiosos para todos nós. Até 2015, tivemos o
privilégio de contar com o Sr. José Carlos Silva, que iniciou funções na Liga ainda no tempo do
seu fundador, o Dr. António Emílio de Magalhães. Recordava frequentemente a dedicação
incansável e a forma tenaz com que este se entregava às causas e, sobretudo, às pessoas em
situação de maior vulnerabilidade.

Fale-nos um pouco sobre os serviços da LPPS.

A Liga oferece atualmente diversos serviços e projetos focados na promoção da saúde
e bem-estar social. Entre eles destacam-se:

  1. Projeto ADOMI (Apoio Domiciliário a Dependentes) – Este serviço presta assistência
    e cuidados a pessoas dependentes, visando melhorar a sua qualidade de vida. Apoia na
    higiene pessoal e conforto, na alimentação, no tratamento de roupa, apoio psicossocial,
    entre outros.
  1. Projeto APROXIMA – Focado em combater o isolamento social e promover a coesão
    comunitária, apoia pessoas dependentes, sem retaguarda familiar, na preparação do
    descanso noturno (higiene pessoal, alimentação, medicação…). Atua ao nível das
    freguesias do Centro Histórico do Porto.
  2. Serviço Educativo – Configura-se como uma iniciativa estratégica para a
    institucionalização de ações de mediação cultural e educativa, com foco na promoção e
    valorização do acervo histórico e patrimonial. Este projeto articula a preservação da
    memória institucional com objetivos de sensibilização e formação, estabelecendo um eixo
    de comunicação entre a dimensão patrimonial e a comunidade, potenciando o
    envolvimento de diferentes públicos em experiências significativas de aprendizagem,
    reflexão crítica e participação ativa.
  3. Educação e Formação – A instituição promove atividades educativas e formativas para
    os seus recursos humanos e para a comunidade, visando a promoção de estilos de vida
    saudáveis e a sensibilização para questões de saúde pública.

O que sentem que mudou durante os últimos anos? Houve um aumento de áreas de ação com o passar dos anos? Alguma evolução a destacar?

Desde a sua fundação a LPPS tem enfrentado mudanças significativas na sociedade portuguesa,
procurando adaptar-se para responder eficazmente aos desafios emergentes. As principais
transformações e desafios incluem a transição demográfica, a evolução das doenças, a mudança
nos comportamentos sociais, os avanços tecnológicos e informação e, indubitavelmente, os
desafios sociais e económicos.
Se nos primórdios da LPPS, Portugal enfrentava elevados índices de mortalidade infantil e uma
esperança média de vida reduzida, hoje o país é caraterizado por um acentuado envelhecimento
populacional, e uma proporção crescente de pessoas idosas. Este cenário tem exigido da
instituição uma reorientação dos seus serviços para atender às necessidades específicas desta
faixa etária, como o apoio domiciliário e o combate ao isolamento social.
O foco no combate a doenças infetocontagiosas como a sífilis, a tuberculose, o tétano e lepra,
que representavam graves problemas de saúde pública na época, necessariamente sofreu
mudanças. Hoje, os desafios são outros e relacionam-se com uma maior prevalência de doenças
crónicas não transmissíveis (diabetes, hipertensão) e as questões de saúde mental, exigindo da
LPPS uma adaptação nas suas estratégias de intervenção. Os comportamentos, relacionados
com os estilos de vida muito influem nesta nova realidade. Aliás, estamos perante mudanças nos
padrões de comportamento social, muito interligados à era digital, que tem transformado a forma
como as pessoas interagem, trabalham e acedem à informação. Importa abordar estas novas
dinâmicas e desafios numa perspetiva holística e integrada.
A era digital transformou a forma como a informação é disseminada e consumida. Se, no
passado, a LPPS utilizava as conferências e publicações impressas para educar a população,
hoje enfrenta o desafio de se adaptar às novas plataformas digitais, enquanto formas de
combater a desinformação e promover a literacia em saúde.
Os novos desafios económicos e sociais, por sua vez, afetam determinantes sociais da saúde
como a habitação, a educação, o acesso à saúde entre outras. A instituição tem de considerar
estes fatores nas suas intervenções, promovendo ações que visem a equidade e o apoio às
populações mais vulneráveis.
Em síntese, ao longo dos anos, a LPPS demonstrou resiliência e capacidade de adaptação face
às transformações sociais e desafios emergentes, mantendo-se fiel à sua missão de promover a
saúde pública e o bem-estar social em Portugal.

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Quais são as melhores histórias/recordações que guardam essas quatro paredes?

Estas quatro paredes são palco de inúmeras histórias e memórias que refletem o compromisso
da LPPS com a saúde pública e o bem-estar social. Em pleno coração do Centro Histórico do
Porto, possui um vasto património, que retrata não só a sua história, pioneira na intervenção
socioeducativa em questões tão diversificadas quanto progressistas, como também a sua ligação
à cidade do Porto e ao país.
Todos os espaços contemplam testemunhos marcantes da sua história, i) a biblioteca com um
amplo conjunto de edições publicadas, reportando o intenso trabalho de educação direta da
população (44 cadernos culturais), entre outras obras reportadas e associadas à Medicina Social;
ii) a sala museu com a exposição de objetos históricos alusivos às inúmeras campanhas
desenvolvidas; iii) e todos os restantes espaços com retratos vivos de uma instituição ímpar e
centenária na cidade do Porto.
Podemos salientar a campanha a favor do Casamento das Telefonistas e das Enfermeiras –
Quando os telefones eram geridos pela “Anglo-Portuguese Telephone Company”, esta não
permitia no serviço mulheres casadas, o que contrariava todas as condições humanas e sociais
que resultam da constituição da família, como base de uma sociedade bem organizada. Foi uma
luta titânica que a LPPS estabeleceu, por se tratar de uma companhia inglesa, mas que foi
terminada com sucesso. Posteriormente, o mesmo aconteceu com as enfermeiras, não sendo
esta luta menos intensa, por contrariar uma posição imposta pelo Presidente do Conselho, Dr.
Oliveira Salazar.

Por norma, quem vos visita e qual a sua reação?

A Liga tem vindo a promover diversas iniciativas que atraem visitantes interessados na história
da saúde pública em Portugal, sobretudo investigadores ligados a centros de investigação de
diferentes universidades (Porto, Minho, Coimbra, entre outras).
Uma outra atração é o Espaço Histórico, que alberga a exposição “LPPS: 100 Anos de
Compromisso com a Saúde e o Bem-Estar Social”. Esta exposição celebra o centenário da
instituição, destacando as suas intervenções significativas ao longo de um século. O espaço
recebe visitas de segunda a sexta-feira, aceitando-se marcações prévias.
Os visitantes do Espaço Histórico da LPPS demonstram uma participação ativa e um interesse
genuíno nas suas atividades. A exposição tem sido particularmente eficaz em despertar a
curiosidade e o apreço do público pelas diversas campanhas desenvolvidas ao longo do século
passado. Esta interação reflete o reconhecimento do impacto significativo da LPPS na promoção
da saúde pública em Portugal.

Quais os melhores elogios que já receberam?

A exposição “LPPS: 100 Anos de Compromisso com a Saúde e Bem-Estar Social” tem sido
amplamente reconhecida pelos visitantes e pela comunidade científica, dado o seu contributo
relevante na preservação e divulgação da memória institucional da LPPS, ao reunir um conjunto
de elementos que documentam tanto a formação e o percurso da instituição centenária como as
transformações sociais e culturais do país ao longo do último século. Nas antigas instalações da
Rua de Santa Catarina existia já um espaço histórico dedicado à memória; no entanto, com a
mudança para o coração do Centro Histórico, surgiu a oportunidade de repensar esse legado e
construir um novo núcleo expositivo, agora sustentado por princípios museológicos
contemporâneos. Marca uma clara evolução face ao antigo espaço, onde, embora existisse já
uma intenção de preservação da memória, não se verificava uma estrutura coerente em termos
de percurso, narrativa expositiva ou enquadramento museográfico. Esta reconfiguração tem sido
particularmente valorizada por visitantes que conheceram o espaço anterior (e não
só), reconhecendo neste novo núcleo um salto qualitativo na forma como a história institucional
é apresentada e comunicada.
Para além da exposição, embora a organização do espólio documental ainda se encontre numa
fase inicial – dada a sua vasta dimensão e a necessidade de uma abordagem mais sistematizada
e rigorosa -, é já possível reconhecer o trabalho significativo que tem vindo a ser desenvolvido,
tanto por colaboradores como por voluntários. Muito há ainda por fazer neste projeto, mas o
progresso alcançado já é notório, tornando o espólio cada vez mais acessível e reconhecido
como um recurso fundamental para a investigação e valorização patrimonial.

Na vossa opinião, o que distingue este espaço dos restantes?

No nosso entender o Espaço Histórico da LPPS distingue-se de outros museus e centros
históricos, especialmente com foco na saúde pública em Portugal. Como acima referido, a
exposição “LPPS: 100 Anos de Compromisso com a Saúde e o Bem-Estar Social” destaca o
papel fundamental da instituição na educação e mobilização de recursos para a saúde pública
ao longo de um século.
O espaço preserva e documenta várias campanhas emblemáticas promovidas pela LPPS, como
a “Luta contra o Pé Descalço” (1927-1965), que visava erradicar o hábito de andar descalço
devido aos riscos de infeção por tétano. Esta campanha é um exemplo do compromisso da LPPS
em abordar questões de saúde pública específicas e culturalmente enraizadas.
Além de preservar a história, a instituição mantém-se ativa na promoção da saúde pública,
através da implementação de um serviço educativo dinâmico, enquanto espaço de aprendizagem
e discussão, oferecendo atividades como oficinas e seminários que incentivam a reflexão sobre
temas atuais de saúde e bem-estar. Com o intuito de enriquecer continuamente este serviço e
assegurar uma programação diversificada e socialmente relevante, estão a ser estabelecidas
parcerias com diversas entidades, incluindo instituições académicas, associações e coletivos
artísticos e comunitários. Neste contexto, encontra-se aberta uma open call para propostas de
colaboração, dirigida a instituições, investigadores, criadores e agentes culturais interessados
em desenvolver projetos alinhados com as áreas de atuação da LPPS — saúde pública, história
da saúde, bem-estar e intervenção social — e que contribuam para o reforço do papel da
educação e da cultura na transformação social.
Aproveitamos a oportunidade para apresentar algumas das atividades já calendarizadas no
âmbito do Serviço Educativo, concebidas com o objetivo de promover o diálogo, a participação
ativa e a sensibilização em torno de temas essenciais como a saúde pública e o bem-estar. Entre
as iniciativas em destaque, encontra-se Uma Pausa Teatral sobre Saúde e Bem-Estar, a realizar
em breve, que propõe uma abordagem participativa à saúde mental e ao bem-estar emocional,
recorrendo a jogos e dinâmicas do Teatro do Oprimido, com especial enfoque na técnica do
Teatro Jornal. Através desta metodologia, pretende-se criar um espaço de escuta ativa, partilha
de experiências e reflexão crítica, incentivando a cidadania e a transformação social por meio da
expressão artística.
No âmbito das parcerias em desenvolvimento, salienta-se a colaboração com a Faculdade de
Psicologia e de Ciências da Educação, no âmbito de um estágio de Mestrado de Ciências da
Educação, que dará origem à criação de atividades educativas dirigidas ao primeiro ciclo do
ensino básico, com enfoque na promoção de boas práticas de higiene e bem-estar,
contribuindo para a formação cívica e preventiva desde a infância.
A estas propostas junta-se ainda o projeto Afetos à Mesa, com data a anunciar, que visa
fomentar momentos de convívio intergeracional e partilha de memórias, através de encontros
informais que cruzam alimentação, afetividade e histórias de vida.

Quais os maiores desafios que enfrentam e quais são as perspetivas para o futuro?

A instituição enfrenta desafios como a sustentabilidade financeira, a captação e retenção de
recursos humanos qualificados, a adaptação a mudanças legislativas e a integração de
tecnologias digitais. Torna-se, por isso, pertinente promover a inovação nos seus processos
internos e garantir qualidade nos serviços prestados à comunidade. A procura por parcerias
estratégicas, o investimento em capacitação contínua e o aprimoramento da comunicação
institucional são aspetos fundamentais para lidar com estes desafios.
Por outro lado, está a reforçar a sua missão na promoção da saúde pública e do bem-estar social
através de quatro grandes eixos de intervenção: a expansão do apoio domiciliário com o projeto
ADOMI, o combate ao isolamento social com o APROXIMA, a preservação do seu património
histórico-artístico e o desenvolvimento de um Serviço Educativo no Espaço Histórico. Estas
iniciativas visam não só responder às necessidades atuais da comunidade — nomeadamente o
envelhecimento populacional e a exclusão social — mas também garantir a continuidade do
legado cultural da instituição, proporcionando um espaço de aprendizagem ativa e de diálogo
intergeracional.

Qual é a importância de estarem abrangidos pelo programa “Porto de Tradição”?

O reconhecimento e a distinção do Programa “Porto de Tradição”, desde setembro de 2020,
destaca a importância histórica, cultural e social da LPPS na cidade do Porto e no país,
especialmente nas áreas da saúde pública e do apoio social. Possibilitou o acesso a uma linha
de apoio financeiro do programa que permitiu à LPPS investir na conservação do seu espólio
histórico, incluindo a digitalização de gravações de conferências antigas, tornando-as acessíveis
ao público. Ainda a modernização institucional, tendo utilizado os fundos para adquirir software
de gestão e atualizar asua presença online, melhorando a comunicação e os serviços oferecidos
aos associados e à comunidade em geral.
Este reconhecimento reforça o compromisso contínuo da LPPS com a promoção da saúde
pública e do bem-estar social, assegurando a continuidade de suas atividades e a valorização
do seu legado histórico na cidade do Porto.

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