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João Serrenho

João Serrenho
No entanto, não descura a prudência necessária na área dos negócios, frisando que gosta de tomar decisões arriscadas, mas sempre calculadas. “Às cegas não faço nada, de maneira nenhuma. As minhas decisões são normalmente ponderadas e muito discutidas. Só avanço quando tenho elementos suficientes”, assegura.
 
Um curioso de sucesso
Licenciado em engenharia química, João Serrenho diz-se dono de uma curiosidade inata. “Sou muito curioso. Gosto de perceber bem as coisas e tenho alguma capacidade de juntar uma série de aspectos diversos e com eles fazer um todo coerente e contínuo”, assinala. Revela-se também um preguiçoso “saudável”. “Sou preguiçoso, no sentido em que trabalho hoje para amanhã não ter que repetir. Gosto de pensar bem nas coisas, executar, entregar e não tocar mais naquilo. Quando as coisas são mal feitas e mal pensadas, há a tendência de o resultado ser desagradável”, garante.  
Apesar de ser um caso de sucesso incontornável, não esconde que ainda hoje sente receio quando tem que fazer uma operação mais arriscada. “Há factores que não controlamos, factores externos e mesmo internos. A maior parte das vezes corre bem, mas há sempre aspectos que não podemos prever. Por isso é que é fundamental calcular o risco e equilibrar tudo”, refere.
Numa carreira recheada de êxitos, confessa que ser eleito presidente da Confederação Europeia da Indústria de Tintas (CEP) teve um significado especial. “É o orgulho de ser um português o presidente”, refere, salientando que “é também o reconhecimento das nossas capacidades enquanto portugueses e do percurso da empresa”.

Tempo para ser pai
Apesar de ter uma vida profissional extremamente exigente, João Serrenho faz questão de reservar tempo para os filhos, embora assuma que, por vezes, a tarefa não é fácil. “Há alturas em que há muito trabalho, ando sempre a correr, são muitas viagens e sobra pouco tempo. Mas faço os possíveis e os impossíveis para conseguir”, assegura.
Os livros são uma das grandes paixões do empresário, mas admite que, de há uns tempos para cá, tem sido difícil manter vivo o hábito da leitura de lazer. “Como tenho sempre uma lista enorme de coisas para fazer, quando tenho algum tempo livre, tento recuperar as atrasadas. De maneira que agora ando com o mesmo livro há mais de quatro anos!”, frisa.

A criação de uma multinacional

Criada em 1926 na versão actual (as raízes vêm de 1917), a CIN destaca-se como líder do mercado ibérico de tintas e é hoje uma verdadeira multinacional, marcando presença, para além de Portugal, em Espanha, França, Alemanha, Holanda e ainda noutros continentes, com fábricas em Angola, Moçambique e na China. O empresário recorda, no entanto, o papel fundamental do pai, António Serrenho, no percurso de sucesso da empresa. “A marca do meu pai é inconfundível. Foi o primeiro químico que pôs os pés dentro desta casa e quando entrei para cá, nos anos 70, a CIN já era reconhecida como líder dos acabamentos industriais”, lembra, acrescentando que, até há bem pouco o tempo, o pai manteve o hábito de visitar a fábrica todos os dias.
João Serrenho aponta o fim dos anos setenta como uma época de grande importância na história da empresa. “Com o fim do condicionamento industrial, entrámos numa altura de grande crescimento, altura em que propus que, em vez de se comprarem novas máquinas, se fizesse uma linha completamente nova”, assinala, referindo que, desde então, a empresa cresceu de uma maneira “perfeitamente diabólica”. Igualmente importante foi a aquisição da Valentine, em Espanha (Barcelona), em 1995. “Deu-nos um grande alento para continuarmos a fazer aquisições”, assegura.

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Internacionalização e inovação
A internacionalização é justamente uma das grandes apostas da CIN, uma tendência que, diz João Serrenho, acaba por ser natural. “Portugal é um mercado muito pequeno, muito estreito. Se nos dedicássemos só ao mercado nacional, isso limitaria as nossas possibilidades de crescimento”, explica. O mercado externo é, na óptica do empresário, fundamental para o negócio. “Procuro sempre que os nossos quadros principais visitem muitas feiras, da Europa, à Ásia e aos Estados Unidos, para poderem pegar naquilo que de bom se faz nas várias partes do mundo e tentar juntar aqui as melhores práticas que encontrarmos”.
A principal filosofia da CIN é “estar sempre na vanguarda”. “Acreditamos que temos que inovar permanentemente. Inovar não é só inventar coisas fantásticas. É pegar naquilo que está feito e melhorar, porque uma das coisas em que acredito é que é sempre possível «construir uma ratoeira melhor»”, salienta. Por isso, a empresa dedica uma parte importante do capital aos centros de Investigação & Desenvolvimento. Ao todo, há 140 técnicos a trabalhar nos laboratórios da empresa, distribuídos pelo Porto, Barcelona, França e China.
João Serrenho não esconde que a actual conjuntura económica tem dificultado o progresso da CIN, mas, ainda assim, revela objectivos ambiciosos. “Daqui a dez anos, vamos tentar apontar para uma facturação de 700 milhões de euros“, explica, embora tenha consciência que não será tarefa fácil. “Tenho uma ideia de como é que se poderá fazer isso, mas não depende só de nós”, afirma.

Orgulho portuense

Filho de pais alentejanos mas nascido e criado no Porto, João Serrenho confessa-se um admirador da cidade e da gastronomia portuense. “Adoro o Porto, é uma cidade fantástica, com uma história fascinante… e tenho um especial carinho pela gastronomia portuense”, salienta. Apreciador, entre muitas outras coisas, de tripas e francesinhas, elege a Foz e a Baixa da cidade como locais favoritos e recorda, com saudade, os “bailaricos” de São João, as Fontainhas, os banhos no mar e os tempos de estudante no Liceu D. Manuel.
Considera o Porto uma cidade “tradicionalmente empreendedora” e, embora admita que tem vindo a perder algum protagonismo, acredita que é possível inverter esta tendência. “O Porto às vezes preocupa-se de mais com a perda de protagonismo, quando devia esforçar-se para protagonizar. O que é preciso é fazer o que algumas empresas fizeram: crescerem, continuarem aqui e serem importantes”, aponta.
Adepto do FC Porto, elogia a importância do clube para a cidade e para o país, mas, questionado quanto às cores que daria à Invicta, foge do “cliché” do azul e branco. “Acho que as cores do Porto são as cores clássicas que, hoje em dia, se vêem muito outra vez, principalmente na zona da Ribeira. Falo daquelas cores tipicamente inglesas: os ocres, os rosas velhos, os verdes secos…”, refere. Sempre fiel à cidade que o viu nascer, diz-se, orgulhosamente, um verdadeiro “homem do norte”.

Texto: Ana Tulha
Revista VIVA! – Edição Março 2010

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