Desde o início da pandemia do novo coronavírus que foram criadas várias frentes para combater o mesmo. Exemplo disso é, entre outros, o COVID-19 High Performance Computing Consortium, uma iniciativa público-privada, criada no final do mês de março, que tem como objetivo tirar partido das capacidades da supercomputação.
Reunindo líderes da indústria, da academia e de entidades governamentais, num total de 37 membros, e sob a liderança da IBM, o consórcio foi criado em poucos dias com o objetivo de disponibilizar “sem custos uma capacidade computacional sem precedentes”. “Atualmente tem mais de 30 supercomputadores com mais de 420 petaflops – para ajudar rapidamente os investigadores de todo o mundo a encontrar formas de combater a covid-19”.
O consórcio tem estado a rever “propostas de investigadores de todo o mundo, disponibilizando os recursos dos supercomputadores apenas a projetos que possam criar maior impacto, tanto na criação de terapêuticas e de uma possível vacina, como no desenvolvimento de modelos preditivos para avaliar a progressão da doença”.
Entre os 40 projetos aprovados até ao momento em todo o mundo, há um trabalho português, liderado por Maria João Ramos, professora da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, que visa a descoberta de fármacos contra a protease principal do vírus da covid-19.
O projeto em causa, da responsabilidade do Grupo de Bioquímica Computacional / LAQV, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, está a ser desenvolvido com o apoio da IBM através da plataforma Extreme Science and Engineering Discovery Environment (XSEDE) e tem como objetivos principais: “a determinação do mecanismo de ação da protease principal do vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19 (a protease principal do vírus é uma enzima fundamental para a sua sobrevivência no hospedeiro humano, sem a qual este não consegue replicar-se)” e a “apresentação de uma lista de compostos inibidores da protease principal do vírus, com potencial para servirem de base para o desenvolvimento de fármacos para tratar infeções pelo vírus”.
Segundo explica Maria João Ramos, o grupo está muito habituado a trabalhar na descoberta de fármacos e tem tido várias consultorias de empresas nacionais e internacionais nesse sentido. “É com enorme entusiasmo e dedicação que o nosso grupo está a desenvolver este projeto que assume particular importância para nós, dado o significado que o mesmo assume atualmente e o seu impacto a nível mundial”, completa.