O Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ) foi a terceira unidade hospitalar do mundo a implantar um dispositivo médico num paciente com doença de Parkinson que, ao registar as ondas cerebrais associadas aos sintomas da doença, permite “individualizar o tratamento”.
Funcionando como “um diário eletrónico”, o novo dispositivo, colocado pela primeira vez esta terça-feira em Portugal, no Hospital de São João, representa mais um “passo” na melhoria do tratamento dos doentes com Parkinson.
“Com este novo sistema, conseguimos ter um registo das ondas cerebrais relacionadas com os sintomas da doença – as ondas beta – e, portanto, sabemos quando é que o doente tem mais ou menos ondas, adaptando o tratamento a essas alturas. De algum modo, individualizamos o tratamento”, afirmou à Agência Lusa Rui Vaz, neurocirurgião do CHUSJ responsável pelo procedimento.
De acordo com o médico, o novo dispositivo associa a “direcionalidade” já existente à “capacidade de receber informação sobre as ondas cerebrais” relacionadas com os sintomas da doença, permitindo dar resposta às necessidades dos doentes e dos clínicos.
No entanto, ainda não é possível adaptar o tratamento “à variabilidade ao longo do dia, ou seja, aquilo que se chama passar do tratamento da doença para o tratamento do doente”, disse.
“O dispositivo vai com o doente para casa e quando o doente vem à consulta revemos o registo todo, e aí podemos melhorar a estimulação que estamos a dar”, referiu Rui Vaz, citado pelo portal do Serviço Nacional de Saúde.
A cirurgia de implantação do dispositivo é semelhante à da estimulação cerebral profunda, não acarretando “nenhum risco acrescido para o doente”, explicou o neurocirurgião, e todos os doentes com Parkinson são elegíveis a receber o dispositivo.
O procedimento foi já realizado no Hospital Universitário de Wurzburg, na Alemanha, e no Hospital Universitário Grenobles Alpes, em França. O Hospital de São João foi a terceira unidade hospitalar do mundo a implantar este dispositivo, cuja tecnologia ainda está a ser avaliada pela Food and Drug Administration (FDA) para ser lançada nos Estados Unidos.
De referir que, depois da doença de Alzheimer, o Parkinson é a doença neurodegenerativa mais comum, afetando cerca de 20 mil portugueses.
A doença de Parkinson resulta da redução dos níveis de dopamina, uma substância que funciona como um mensageiro químico cerebral nos centros que comandam os movimentos, sendo quatro os sintomas que se destacam: lentidão de movimentos, rigidez muscular, tremor e alterações da postura.