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CIN - Branco Perfeito

Helena Kendall

Helena Kendall

“Quero transmitir paz e serenidade a quem ouve a minha música”

Voz inconfundível da cidade do Porto, Helena Kendall continua a diferenciar-se dos restantes talentos portugueses e a dar cartas no mundo da música. Depois de ter estreado o seu primeiro álbum, “Prefácio”, em plena pandemia, a cantautora encontra-se já a gravar o segundo, com uma sonoridade, segundo sublinha, muito mais orgânica do que a que encontramos no primeiro álbum.

“Prefácio” demorou cerca de três anos a ser lançado ao mundo. Um atraso, naturalmente, influenciado pela questão pandémica, mas também pelas várias dificuldades subjacentes a um disco com edição de autor. “Não há um guião que se possa seguir para lançar um disco nesse formato e essa foi, sem dúvida, a maior dificuldade de todas: compreender o que tinha que ser feito para o trabalho ser lançado com algum sucesso e da forma mais correta”, avançou.

As canções para o segundo álbum, que pressupõe um processo muito mais célere, foram escritas entre quatro paredes, num momento de profunda comunhão com o seu interior. O álbum em si, cujo nome ainda não quer revelar, fala sobre “natureza, ecologia e a ligação do Homem e do animal à natureza”, tendo surgido, em parte, “pela necessidade de sair e de estar em contacto com natureza”, algo que aprecia particularmente.

Já lhe conhecemos bem a história, a melodia e a sonoridade, mas queremos mais. Cerca de dois anos depois da última conversa, a VIVA! voltou a falar com Helena Kendall e conta-lhe, agora, tudo o que a cantautora portuense está a fazer neste momento, as dificuldades que vê na indústria musical, os sonhos para o futuro e as novidades que já podem ser avançadas sobre o seu novo disco. Entre elas, saiba que está o tema “Amanhã Pode ser Tarde”, que promete “dar coragem e força” às milhares de pessoas que, diariamente, passam pelo duro receio de “dar o primeiro passo”, o que, muitas das vezes, lhes pode custar o adiamento dos sonhos.

O que mudou na tua vida desde a última vez que conversamos?

A nível profissional, tenho um disco editado, que saiu em outubro de 2020 e que foi o meu disco de estreia. Já andava a ser preparado quando conversamos, em dezembro de 2019, mas só saiu no ano passado, devido, também, a questões pandémicas, que atrasaram muito o processo.

Entretanto, já estou a gravar o meu segundo álbum, desta vez produzido por mim, no meu estúdio, em casa. É um álbum muito diferente, acho que muito influenciado, também, pela dificuldade musical, isto é, em entrar no contexto e na indústria musical, também muito por causa da pandemia, claro… Se os músicos mais experientes estão com dificuldades em ter concertos e em fazer dinheiro com a sua música, quem está a começar ainda mais dificuldades sente.

Por isso, também decidi fazer este álbum por mim própria, com as minhas próprias mãos, com os recursos que tenho, de modo a não ter que depender de nenhuma agência, de nenhuma editora e de poder fazer as coisas…. Só quero dar a conhecer a minha música, mesmo que isso, depois, não me traga grande retorno financeiro. Só quero poder lançar um disco diferente e feito completamente à minha maneira. Tudo isso tem-me dado muito gozo. Comecei a gravar o disco a 1 de janeiro deste ano e, neste momento, é a isso que me tenho dedicado.

Como defines o teu primeiro álbum? E como foi lança-lo no meio de uma pandemia?

Acho que não sei bem definir o primeiro, porque não nasceu sendo um álbum, ou melhor, não foi pensado como um álbum. Foi um conjunto de canções que tinha, as primeiras canções que fui escrevendo, e que mais tarde juntei e lancei em álbum. Depois, também tiveram uma roupagem um bocadinho diferente, devido aos músicos que acabei por contratar para gravarem o disco comigo. Foram eles que definiram muito a sonoridade, que é muito pop português, um bocadinho acústico, mas nada de especial, com arranjos de sopros… De certa forma, conseguiram modernizar um bocadinho aquilo que eu tinha escrito.

Lançar o álbum no meio de uma pandemia não foi fácil. O disco já estava a ser preparado há muito tempo e demorou cerca de três anos a sair, ora por questões financeiras, ora por questões de agência e, depois, de decidir lançá-lo ou não com a pandemia. Tudo isso atrasou muito, mas chegou a um ponto, basicamente depois do verão do ano passado, em que decidi que já não fazia sentido ter o disco comigo e não o lançar ao público. E, por isso, mesmo sabendo que não ia poder fazer concerto de apresentação, que não ia poder publicitar muito o disco, decidi lançá-lo. Foi difícil, foi uma decisão de risco, mas que, felizmente, acabou por correr bem. Tem sido bem recebido e tem tido algum sucesso, dentro do esperado.

Quais foram as principais dificuldades que sentiste ao longo destes três anos, sobretudo desde que surgiu a pandemia?

O mais difícil de tudo foi perceber quais os passos que têm que ser dados para lançar um disco, neste caso, que foi edição de autor, ou seja, que foi totalmente patrocinado por mim, e não só, que não tem nenhuma editora por de trás disto tudo. Tive que descobrir, por mim própria, quais eram os passos a dar, desde a produção e gravação, em estúdio, ao tratamento de música, e, depois, como lançar um disco, como publicitar, como fazer todos estes passos da forma correta, o que eu considero ser a parte mais difícil. Felizmente, fui tendo várias ajudas, de algumas pessoas do meio, mas aconteceu tudo muito por tentativa-erro e de descobrir o que realmente fazia sentido. Talvez por isso tenha demorado também cerca de três anos a sair. Porque não é um caminho certo. Não há um guião que se possa seguir para lançar um disco com uma edição de autor e foi essa a maior dificuldade de todas: compreender o que é que tinha que ser feito para o disco ser lançado com algum sucesso e da forma mais correta.

Sentes que, com esta aprendizagem em nome individual, e com todas as circunstâncias adversas que vivemos, fruto da situação pandémica, a música ganhou ainda mais relevância na tua vida?

Sim, sem dúvida. Durante a pandemia, mesmo com a dificuldade em lançar o primeiro disco, comecei a escrever e a compor o segundo. E sinto que este, agora, vai ser muito mais fácil de lançar. Primeiro, porque já sei exatamente a sonoridade que quero e, depois, porque no que respeita a estes passos que têm que ser dados para lançar um disco, já tenho o trabalho de casa todo feito. Portanto, a partir do momento em que ele estiver pronto pode ser lançado e mostrado ao mundo.

Já tens alguma previsão de quando será ser lançado?

À partida será lançado até ao final deste ano. Eu comecei a gravar no dia 1 de janeiro, a contar conseguir acabá-lo até 31 de dezembro, ou antes disso.

Começaste a escrever e a compor os temas no meio da pandemia. Podes revelar que sensações e sentimentos descrevem essas canções?

O álbum fala muito sobre natureza, sobre ecologia, sobre a ligação do Homem e do animal à Natureza. Tem, assim, uma perspetiva muito National Geographic, diria eu. E tem muito a ver, também, com o sentimento de estarmos fechados entre quatro paredes com o mundo todo lá fora. Eu sinto que veio muito dessa necessidade, de sair, de estar em contacto com a natureza e de não estar fechada em quatro paredes. Por isso, surgiu um bocadinho dessa questão, mas, sobretudo, da minha paixão por animais e pela natureza.

O primeiro álbum tinha um tema que te era particularmente especial, “aDeus”. Há algum, neste segundo, que tenha também maior significado para ti?

Sim, o “Amanhã Pode ser Tarde”. É um tema que fala do adiamento dos sonhos, de, às vezes, termos medo de enfrentar ou de dar o primeiro passo, de tomar decisões que nos possam, eventualmente, fazer mais felizes, e da coragem que é preciso para isso. No fundo, o tema pretende dar alguma coragem e força às pessoas que passaram por essa indecisão e por esse medo. Por isso, é-me particularmente especial. Além disso, foi também a primeira música de todas a ser escrita para o álbum e tem uma sonoridade acústica que eu gosto muito e que também dá um bocadinho o mote para o resto do álbum.

Que palavra usarias para definir este novo álbum?

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Paz. Escolho esta palavra devido à forma como as músicas estão escritas, aos coros que têm e a toda a envolvência. Pretende criar um ambiente calmo, de paz e de serenidade, que é, precisamente, o que eu quero transmitir a quem ouve a minha música.

Que outras novidades nos podes adiantar sobre este álbum?

Ainda não quero revelar o título do álbum, mas, de resto, posso adiantar que terá entre 11 a 13 músicas, isto porque há duas que ainda estão a ser avaliadas. Provavelmente lançarei ainda dois singles este ano, antes do disco, com videoclipe.

Em termos de sonoridade, por exemplo, este álbum é muito mais orgânico do que o anterior e também é muito mais uniforme. Tem uma sonoridade base que faz parte de todas as músicas e depois os temas e os ritmos é que se vão alterando. Mas, tem também muito a ver com as minhas influências musicais até agora.

Como estás à espera que o público receba este novo trabalho, tendo em conta o sucesso do disco de estreia?

Honestamente não estou com grandes expectativas neste álbum. A diferença é que o primeiro foi feito, precisamente, para ver a reação do público, para me lançar com álbum de estreia, enquanto este nasce muito mais de uma necessidade de criar e de ver essas músicas terminadas e então lançadas ao público, mas sem grande expectativa de retorno.

Este nem sequer vai ter disco físico, só vai estar nas plataformas digitais. É muito mais uma necessidade de o pôr disponível do que pretender receber alguma coisa em troca ou pretender que chegue a muita gente. Claro que, quando fazemos música, queremos sempre que chegue a muita gente, mas, neste caso, pelo menos para já, não estou a pôr grandes expectativas. Só quero oferecer, de certa forma, esta música e este álbum ao mundo.

Sentes que a população em geral passou a valorizar mais as artes, sobretudo a música, durante estes últimos dois anos? Ou, pelo contrário, achas que sofreu um processo de desvalorização?

Acho que aumentou a vontade de se ouvir mais música e de se dar mais valor à cultura. Geralmente é quando uma pessoa não tem alguma coisa que passa a dar-lhe valor e eu sinto que, com a música, foi um bocadinho assim. Claro que há muitos artistas portugueses que continuaram a lançar músicas e a produzir, mas acho que está tudo muito sedento de espetáculos e de concertos. Por isso, quando for possível voltar a fazer concertos em grande escala, sinto que o público vai começar a assistir em força.

Os sonhos que tinhas pré-pandemia continuam a manter-se? Sentes que o caminho agora se tornou ainda mais longo, sobretudo para quem está a começar?

Sim, se já havia muitos artistas para poucas agências, e atenção que não considero que é necessário ter uma agência, como é o meu caso, agora ainda mais. As agências que têm grandes artistas, neste momento, estão aflitas, por isso, não estão, propriamente, a contratar ou a dar importância a pequenos artistas que dão muito mais trabalho e que tornam o processo mais difícil. Portanto sim, diria que se já era difícil entrar na indústria musical, talvez tenha ficado um bocadinho mais difícil agora.

Contudo, também temos casos que comprovam o contrário, temos artistas novos e que conseguiram vingar no meio da pandemia. Também depende sempre muito do estilo de música e eu sei que o meu estilo de música, por exemplo, é bastante mais difícil de vingar, porque não é tanto o que as pessoas querem ouvir hoje em dia. Por isso, é um caso mais difícil. Mas, no geral, acho que para quem está a começar agora no mundo da música se deve preparar para ter muita coragem.

Como esperas que seja o futuro da indústria musical?

Espero que abram mais portas a mais artistas, porque cada vez é mais fácil fazer música e, por isso, também surgem cada vez mais talentos. Espero, honestamente, que o negócio cresça, que abra mais portas aos novos músicos, aos novos artistas e que, assim que seja possível, se possa demonstrar algum concerto, algum show case ou publicidade a esses artistas, porque eles merecem.

Que projetos tens para o teu futuro?

Neste momento, em termos musicais, estou só muito concentrada neste novo disco. Provavelmente não vou deixar de fazer música, mas vou ter uma pausa durante três anos. Vou ter outro projeto, mais pessoal e, por isso, durante algum tempo acho que não vou fazer música nova, o que não quer dizer que não continue a dar concertos e a tocar as músicas destes dois discos que, entretanto, vou ter.

Como defines a musicalidade que há em ti?

Se tivesse que descrever numa só palavra seria acústica. Mas, de uma forma mais abrangente, diria que tem muito a ver com as sensações e com aquilo que eu fui vivendo e sentindo assim como com a minha personalidade, que é de muita serenidade e muita calma. E, por isso, a minha música nunca poderia ser de outra forma que não essa também. Ultimamente, tenho preferido mais as sonoridades acústicas do que as eletrónicas, também um bocadinho para me destacar, porque, hoje, é tudo eletrónico e eu sempre gostei muito das sonoridades acústicas, principalmente da guitarra. Então, neste disco vou apostar muito mais nessa sonoridade, que até acho que tem muito mais a ver comigo do que a que está presente no primeiro disco.

Que Helena Kendall é esta que se vai apresentar no novo álbum?

É uma Helena muito mais crescida, com muito mais noção da música que quer fazer, de como a quer fazer e de como a quer apresentar.

Que mensagem gostavas de deixar aos artistas que estão a começar no mundo da música?

Que se preparem para levar com muitos “não’s” e poucos “sim’s”, mas que isso não os faça perder a coragem de continuar a fazer música e de acreditarem neles próprios.

Recorde, aqui, a conversa com Helena Kendall, em dezembro de 2019.

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