O percurso museológico da Ordem de São Francisco, que abrange a igreja do antigo convento, a Igreja dos Terceiros de São Francisco e a Casa do Despacho, inclui um dos seus maiores atrativos: o Cemitério Catacumbal. Este local subterrâneo, envolto em mistério, desperta grande curiosidade entre os visitantes.
Analdina Rocha, diretora técnica do Museu da Ordem de São Francisco, onde trabalha há 25 anos, fala com entusiasmo sobre o Cemitério Catacumbal. Para ela, este cemitério é único no país e os visitantes ficam fascinados com o lugar.
Em 1746, após um incêndio que destruiu um albergue para irmãos pobres, a Mesa da Venerável Ordem Terceira de São Francisco decidiu construir um cemitério para os seus membros e, por cima, uma casa para Despacho e Secretaria. Os primeiros 12 túmulos foram destinados aos administradores da Ordem.
Esta foi a primeira fase de construção do Cemitério Catacumbal, destinado exclusivamente aos membros falecidos da Ordem.
Os túmulos situam-se no chão, nas paredes e em pequenos cofres-urna. Em 1795, durante a construção da atual Igreja dos Terceiros de São Francisco, decidiu-se ampliar o cemitério para debaixo do pavimento da igreja. A terceira fase ocorreu em 1802, ligando o novo cemitério ao existente, sob a capela de Santo António.
O último enterro neste cemitério aconteceu em 1866, passando os enterros para o talhão privado da Ordem no cemitério de Agramonte. O número exato de corpos sepultados no Cemitério Catacumbal é desconhecido. Analdina Rocha admite que nunca os contou. Hoje, o cemitério é visitado por cerca de 1500 pessoas diariamente.
A diretora do museu partilha algumas histórias interessantes, como as dificuldades dos visitantes brasileiros em descer ao cemitério, seguidas pela alegria ao encontrar apelidos familiares nos túmulos.
Franceses, espanhóis e mexicanos, que encaram a morte de forma mais natural devido às suas crenças religiosas, também demonstram grande interesse pelo cemitério. Entre os visitantes regulares está o músico Pedro Abrunhosa.
Analdina Rocha revela ainda detalhes fascinantes, como os jazigos que abrigaram vítimas do desastre da Ponte das Barcas em 1809, durante as invasões francesas, e algumas peças expostas no museu, como antigas caixas de esmolas e andores usados em procissões de quarta-feira de cinzas. Segundo ela,”As pessoas não vão, daqui, desagradadas de todo”