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PD - Revista Sabe Bem

Guia para conhecer os Clérigos

Guia para conhecer os Clérigos
Revisitando o ex-libris da cidade com a preciosa ajuda de Germano Silva
No livro ’Clérigos – guia para conhecer o ex-libris do Porto’, Germano Silva apresenta um curioso guia prático que dá a conhecer ao leitor todos os pormenores e curiosidades sobre aquele que é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade Invicta. A VIVA! leu e concede algumas diretrizes.

Sabia que o projeto de reabilitação e requalificação dos Clérigos (igreja, antigo hospital e torre) tem sido distinguido com vários prémios e todos eles de incontestável prestígio? Esta e outras curiosidades podem ser contempladas no mais recente livro de Germano Silva.
“Não é um tratado de história o que aqui se apresenta. Muito menos um ensaio sobre o Barroco ou uma monografia da Irmandade dos Clérigos”, avisa desde logo este grande contador de estórias. ´
Se hoje temos a chamada “Casa dos Clérigos”, constituída pela igreja, enfermaria e torre, deve-se à iniciativa da Irmandade dos Clérigos. Juntar essas três entidades não foi propriamente fácil. Só viria a concretizar-se em 1731.
livroFoi nesse ano, mais precisamente a 31 de maio, em reunião ordinária da mesa administrativa, que a Irmandade dos Clérigos deliberou aceitar a oferta feita por Bento Freire da Silva e Manuel Mendes Machado (ambos clérigos) e por João da Silva Guimarães (leigo) de uma terra baldia para nela ser construída a Igreja da Irmandade.
Foi também na reunião de 31 de maio de 1731 que se decidiu “o título que se havia de dar à nova igreja”. Trocando por miúdos, quem devia ser a padroeira do templo a erguer?
Não houve unanimidade dos presentes quanto ao nome a escolher e foi resolvido “que se fizesse umas sortes”. Embrulharam-se os papelinhos, meteram-se num escrutínio e o presidente tirou um. Nele estava escrito Nossa Senhora da Assunção.
A obra da empreitada coube a Nicolau Nasoni. O artista exerceu no Porto e Norte de Portugal uma intensa e importante atividade. Grandes obras arquitetónicas tiveram o seu nome. Clérigos, Igreja da Santa Casa da Misericórdia do Porto, entre tantos outros.
Outra curiosidade: Nicolau Nasoni morreu no dia 30 de agosto de 1773. Na qualidade de irmão leigo da Irmandade dos Clérigos, foi sepultado no interior da igreja que ele próprio construiu.

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O esplendor do Barroco
Sabe-se que Nasoni soube aproveitar, de uma forma “genial”, as péssimas condições do terreno para realizar a sua obra.
No dia 28 de junho de 1748 foi ali celebrada a primeira missa. A igreja ainda não estava totalmente pronta, mas os cofres da irmandade estavam vazios.
Os trabalhos não pararam porque a generosidade dos irmãos, que emprestavam à confraria avultadas quantias sem juros, permitiu que as obras continuassem.
A construção do conjunto arquitetónico dos Clérigos (igreja, enfermaria, hospital e torre) durou de 1732 a 1773, aproximadamente. Foram mais de 40 anos de uma estreita colaboração entre Nicolau Nasoni e a Irmandade.
Na igreja trabalhou-se de 1732 a 1750 e as obras subsequentes, da enfermaria e torre, duraram de 1754 a 1763.
No entanto, os trabalhos prolongaram-se por muito mais tempo e só em 1779 a igreja foi sagrada pelo bispo D. Frei João Rafael de Mendonça.
D. Frei João Rafael de Mendonça foi o aclamado presidente da Irmandade dos Clérigos no mesmo ano em que sagrou a igreja. O seu retrato está na casa do Despacho.

clerigosVamos então conhecer o ex-libris da cidade do Porto. Comecemos pela igreja exterior…
Começou a ser construída em 1732, num período em que o estilo barroco fazia parte do imaginário dos arquitetos. Ficou pronta por volta de 1750.
É considerada uma das mais importantes obras de Nasoni. Só depois começou a construção do edifício destinado à enfermaria, e a seguir foi levantada a torre.
A entrada na igreja faz-se por onde hoje se acede a todo o conjunto, pela porta que fica do lado poente, também chamada a porta grande ou Porta do Anjo, por aí se encontrar a imagem do Anjo Custódio ou de S. Miguel o Anjo a que o povo chama simplesmente o Anjo.
Por Casa dos Clérigos devemos entender o edifício entre a igreja e a torre onde funcionou o hospital ou enfermaria. Mal entramos na ampla sala, a nossa atenção vai direita para um retábulo de madeira policromada (século XVIII) colocado na parede do lado sul com a imagem da padroeira, Nossa Senhora da Assunção.
No centro da sala está a “enorme” mesa rodeada de cadeiras, que serviam para as reuniões da Irmandade.
clerigos5Consta que nos estatutos da Irmandade dos Clérigos de 1642, há um capítulo que alude à “visita dos irmãos enfermos os quais se forem pobres, serão tratados por conta da Irmandade”.
“E para os que não pudessem vir de seu pé” foram compradas “três cadeirinhas de mão” para os conduzir.
A enfermaria era composta por uma única sala com um altar ao fundo e por detrás deste ficava a sacristia.
Para um irmão pobre dar entrada no hospital, tinha de fazer uma petição que faria acompanhar de uma certidão médica a respeito do tipo de doença de que padecia ao fim de se saber se era ou não contagiosa. No caso de a doença ser contagiosa, os irmãos eram socorridos em sua casa por conta da Mesa da Irmandade. O primeiro enfermo deu entrada no hospital em 2 de março de 1754.
A Torre dos Clérigos, como assim é conhecida e que viria a tornar célebre a igreja, foi construída entre 1757 e 1763. Nas obras trabalhariam os mestres de pedraria Manuel António de Sousa, Domingos da Costa, José Francisco Caetano Pereira e Manuel Bento da Silva.
Germano explica que a maioria das cidades europeias tem um monumento que as tornou célebres. O do Porto é, sem sombra de dúvidas, a Torre dos Clérigos.
O empreendimento tem 75, 6 metros de altura e para se chegar ao cume é preciso subir nada mais nada menos que 240 degraus!
Mas o que fica mais na retina de quem tenha a coragem de percorrer os 240 degraus(!)? Aventure-se…
Só em 1910 a Torre foi classificada como monumento nacional. Hoje integra o perfil da cidade e acabou por ser adotada como o ex-libris do Porto.
A obra foi considerada por Robert Smith como uma “síntese do estilo nasoniano”.
Nasoni, que deixou ao Porto este tão famoso monumento que é a Torre dos Clérigos, morreu a 30 de agosto de 1773, pobre. No entanto, a sua genialidade mantém-se atual.

Sabia que…
A igreja, a enfermaria e a Torre dos Clérigos foram construídas em duas estreitas faixas de terreno baldio, a que se dava o nome de Campo das Malvas e Cruz de Cassoa. A primeira ficava junto à parte cimeira da rua dos Clérigos, a segunda ficava logo a seguir, mais para norte.
Por causa dos seus 75 metros de altura, a Torre dos Clérigos foi utilizada ao longo dos anos, para as mais variadas iniciativas, incluindo as de caráter político.
escaladaA título de exemplo, os monárquicos, durante a chamada Monarquia do Norte (1919) utilizaram-na para hastear a bandeira azul e branca – as cores da monarquia.
Muito antes, em 1872, o imperador do Brasil, D. Pedro II, filho de D. Pedro IV, numa visita que fez ao Porto, percorreu a emblemática Torre dos Clérigos e subiu os 240 degraus da torre.
O evento com mais impacto foi o que teve a famosa torre como cenário: o primeiro filme publicitário que se fez, não só no Porto, mas no mundo.
Aconteceu em 1917. O filme intitula-se “Um chá nas nuvens” e algumas partes ainda constam na internet (https://www.youtube.com/watch?v=SgyF7E5ZOyk).

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