Território de crenças, votos e devoções fervorosas, a Terra de Santa Maria subsistiu no tempo e no espaço, distinguindo-se no plano nacional pela sua identidade.
Foi na união de um “voto coletivo” que os santamarianos eliminaram as adversidades e moldaram parte dos princípios da sua prosperidade e subsistência.
Assim, foi a partir do emblemático Castelo de Santa Maria da Feira que se moldou e expandiu todo um culto peculiar, o das “Fogaceiras”.
A celebração
Reza a história que a festa das fogaceiras teve origem num voto ao Mártir S. Sebastião, feito pelo povo da Terra de Santa Maria, numa altura em que a região teria sido assolada por um surto de peste que dizimou parte da população. Em troca de proteção, o povo prometeu, em cada dia 20 de janeiro, uma procissão e a oferta de um pão doce e delgado, habituado a ser confecionado para ocasiões especiais: a ainda hoje ‘cobiçada’ fogaça.
Esta devoção popular do culto a S. Sebastião recrudesceu na época medieval, devido às catástrofes da altura, como aconteceu em 1505, levando a que manifestações religiosas anteriores, como a festa do Espírito Santo, promovida na época da rainha Santa Isabel, donatária do Castelo da Feira, fossem convertidas no cerimonial da devoção ao Mártir, sempre acompanhado pela fogaça, o pão doce distribuído pelos pobres, dando continuidade à partilha comunitária e assistencial já vivida.
No início do cumprimento do voto, é referida a existência de três fogaças confecionadas especificamente para o ritual da devoção, que eram levadas em procissão por três jovens donzelas, desde o Castelo até à Igreja Matriz, onde eram benzidas, cortadas e repartidas pelo povo aí presente, servindo de paliativo contra os males do mundo: a fome, a peste e a guerra.
Já em 1758, continuam a ir em procissão cinco jovens: três delas levam à cabeça as fogaças de um alqueire cada uma; uma leva o tabuleiro com cinco velas; e outra leva à cabeça a miniatura do Castelo da Feira “ornado de muitas bandeiras”. Nesta altura, a fogaça poderia já ter o formato que tem hoje, com a representação das quatro torres do Castelo de Santa Maria, também visto como símbolo de união deste vasto território que outrora se designou por Terra de Santa Maria.
Com o cerimonial um pouco diferente após a implantação da República, acrescenta-se o Cortejo Cívico, realizado antes da Missa Solene, e que sai dos Paços do Concelho até à Igreja Matriz do Espírito Santo, incorporando dezenas, e por vezes, centenas de meninas calçadas e vestidas de branco com uma faixa de cor à cintura – as fogaceiras –, levando à cabeça a doce Fogaça da Feira, mantendo-se a tradição dos três mandados – as três fogaças maiores –, o tabuleiro com as velas de cera e o castelo em miniatura, ornamentados com bandeiras feitas de papel colorido, recortadas de maneira a que lembrem as muralhas do castelo, acompanhadas, no couce do cortejo, pelas autoridades políticas, administrativas, judiciais e militares e outras personalidades de relevo na vida municipal.
A tradição continua no século XXI. Santa Maria das Feira proporciona à população em janeiro uma serie de atividades culturais, que culminam com a festa das fogaceiras.
Exposição “São Sebastião: O voto – a identidade – a arte”
O núcleo temático “São Sebastião: O voto – a identidade – a arte”, integrado na exposição permanente do Museu explora a História, a Iconografia e a Personalidade do Voto, o “Pão doce” do tributo (a “Fogaça”), a identidade populacional e patrimonial da Terra de Santa Maria.
Para contemplar até 31 de janeiro, no Museu de Santa Maria de Lamas.
Música
Sonya Bach & ConcentusPerTempora-Ensemble
Internacionalmente premiada, a pianista Sonya Bach apresenta, juntamente com os músicos Concentus PerTempora – Ensemble, um “momento musical único”, revelado pela cor e o peso que um piano de cauda moderno pode imprimir na criação. Sonya Bach tem conquistado corações do público e críticos apresentando se nos mais prestigiados palcos de concerto da Europa, América do Norte e Ásia. Concentus PerTempora – Ensemble já atuou em salas consagradas como o Salão Árabe do Palácio da Bolsa no Porto ou o Convento de São Bento da Vitória (Porto), entre inúmeras salas de museus do centro e norte de Portugal.
Este sábado, 6 de janeiro, às 21h30 na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira. A entrada é livre.
Filarmonia no Fado
Fado Filarmónico proporciona um novo enquadramento para a música filarmónica, colocando a em contacto e contraste com a linguagem do Fado. O espetáculo, que reunirá cerca de 250 músicos em palco, é o resultado do trabalho colaborativo desenvolvido entre quatro maestros, quatro bandas filarmónicas de Santa Maria da Feira, a fadista Sandra Correia e Luís Cardoso, responsável pela transcriação e arranjos das obras.
Ao palco sobem a Banda de Música de Arrifana, a Banda Musical de S. Tiago de Lobão, a Banda Marcial do Vale e a Banda Musical de Souto, representantes de uma matriz cultural filarmónica tão evidente no país.
Uma verdadeira celebração da harmonia.
Sábado, 13 de janeiro, às 21h45 no Grande auditório do Europarque. Bilhetes a €10 (1ª Plateia Central); €8 (1ª Plateia Lateral e 2ª Plateia Central); €6 (2.ª Plateia Lateral)
Gastronomia
Castelo e Fogaça em Festim ao Jantar
Neste segundo grande festim, que revisitará sons e sabores da tradição feirense, o Castelo será Rei e a Fogaça Rainha. Será em homenagem à Fogaça e à Festa das Fogaceiras, que o Castelo de Santa Maria da Feira abrirá as suas portas, convidando toda a comunidade feirense e visitantes a participar num certamente grandioso jantar de tributo à tradição.
Todos os participantes serão bem acolhidos no ex libris da cidade, ao som da Trova da Vila da Feira e outras melodias da história de Santa Maria da Feira. Um mestre de cerimónias guiará os convivas relembrando especialmente Afonso do Couto que em 1905 foi o primeiro feirense a pugnar pela conservação do castelo. As lareiras estarão acesas no Salão Nobre, onde os sabores dos janeiros tradicionais feirenses serão servidos ao jantar, com fogaças à sobremesa, que por mão de fogaceiras virão do forno do Castelo diretamente para as mesas dos convivas. Mostrar se á como se faz fogaça e haverá poesia e mais música ao jantar, acabando se com a Canção da Fogaceira para todos os convivas cantarem.
Dia 26 de janeiro, às 19h30, no Castelo de Santa Maria da Feira. Bilhetes a 35€.
Workshops
Fogaça ou Fogaceira?!
Visita e Oficina de Expressão Plástica
Após a visita ao núcleo temático “São Sebastião: O Voto, A Identidade e A Arte”, os participantes vão, de forma simbólica, cumprir o voto e a tradição, através da elaboração de fogaças, com recurso à sobreposição de camadas de aglomerado de cortiça, ou meninas fogaceiras, sob a forma de marcador de livro ou magnético.
Até 31 de janeiro, no Museu de Santa Maria de Lamas, das 10h às 12h e das 14h30 às16h30.
20 de janeiro: A Festa das Fogaceiras
A Festa das Fogaceiras é uma tradição secular com 513 anos de história, marcados pela devoção do povo das Terras de Santa Maria. É a mais simbólica e antiga festividade do concelho de Santa Maria da Feira.
Tal como outrora, hoje as gentes do concelho de Santa Maria da Feira têm a oportunidade de manifestar o culto a S. Sebastião numa festa e num voto, que é a fogaça, representando a figura do Castelo da Feira, símbolo de união e de identidade coletiva deste vasto território repartido por vários concelhos e que outrora pertenciam à Terra de Santa Maria e mais tarde ao condado da Feira, governado na sua plenitude pelos condes Pereira desde o final da centúria de quatrocentos até 1700.
Uma curiosidade: a fogaça, pão doce referido em diversos documentos medievais, principalmente no Norte do país, integrava parte dos foros e tributos que o camponês devia pagar ao senhor da terra por alturas de festas religiosas. Na Terra de Santa Maria, a fogaça, de formato peculiar, simbolizando as quatro torres do castelo da Feira, foi transformada em voto sagrado dedicado ao Mártir S. Sebastião, dando origem ao nome da maior festa religiosa centenária realizada neste Município – a Festa das Fogaceiras.
A fogaça, comercializada durante todo o ano, é cozida diariamente em várias casas de fabrico do concelho e distingue-se pelos tradicionais preparos assim como na forma como vai a cozer ao forno.
Manda a tradição que, por ocasião da Festa das Fogaceiras, os santamarianos enviem fogaças aos familiares e amigos que se encontram longe.
Programa
10h30: Cortejo Cívico | Paços do Concelho?Igreja Matriz
11h: Missa Solene com Bênção das Fogaças | Igreja Matriz
15h30: Tradicional Procissão das Fogaceiras | Ruas do centro histórico
Tradicional Teatro – Revista das Fogaceiras
Pra Pior… Basta Assim!!!
O Teatro Revista do Centro de Cultura e Recreio do Orfeão da Feira está de volta ao palco do Cineteatro António Lamoso para uma noite de teatro definitivamente muito especial. A noite das fogaceiras serve sempre como mote para sair à rua e soltar umas gargalhadas. A revista apresentada adivinha uma crítica perspicaz, divertida e irónica à sociedade feirense. Um espetáculo em cheio que revive o humor e a arte, muitas vezes engenhosa, de se ser feirense. Entre momentos de comédia, música e teatro haverá espaço para reconhecer personagens ilustres da vida feirense. Ao longo da noite, o público é convidado a envolver?se nos afazeres e peripécias da cidade e dos seus principais protagonistas.
Dia 20 de janeiro, às 21h30, no Cineteatro António Lamoso – Santa Maria da Feira. Preços a €6 (plateia inferior), €7 (plateia central) e €5 (plateia recuada).