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Feira Medieval de Leça do Balio

Feira Medieval de Leça do Balio
Pelos caminhos medievais

Se, ao longo do ano, o estilo românico e gótico já lhe confere um ar misterioso e imponente, em setembro, o Mosteiro de Leça do Balio, em Matosinhos, transforma-se, por completo, no palco de uma cena histórica passada, com uma envolvência medieval capaz de arrepiar qualquer apaixonado pelas páginas amareladas do tempo.

E este ano não será exceção. Entre os dias 5 e 8 deste mês, os “Hospitalários no Caminho de Santiago” vão voltar a estar em destaque em mais uma edição da Feira Medieval, que vem comprovar a íntima ligação de Matosinhos às rotas seculares das peregrinações religiosas.

O mosteiro, que chegou a ser, no século XII, a casa mãe da Ordem dos Hospitalários em Portugal – que se dedicava, entre outras coisas, a ajudar os peregrinos – surge, assim, como uma importante peça do vasto Património da Humanidade de que fazem parte os Caminhos de Santiago.

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Entre aromas afrodisíacos, impingidos às “moças”, tiaras feitas das mais variadas flores, aves raras de olhar penetrante e sons típicos de espadas em ação, os visitantes – regra geral mais de 200 mil – têm à sua disposição um conjunto de recriações destinadas a fazê-los viajar no tempo em poucos segundos. E é exatamente “com o propósito de reavivar memórias e tradições dispersas e em risco”, que a Câmara de Matosinhos dinamiza, “no segundo fim de semana de setembro, uma festa de multifacetadas vertentes”. “Esta é a recriação histórica do artesanato, da música, dos mercados, tabernas medievais e saltimbancos”, esclarece a autarquia local, não deixando de referir também as conferências e visitas guiadas ao mosteiro: “o ator belo e austero que tem, neste teatro, o papel principal”.
O “cenário singular e mágico” da Feira Medieval dá as boas-vindas ao público às 17 horas do dia 5, com os “almocreves, bufarinheiros e mesteirais a acorrerem à praça para montarem as suas tendas e bancas”, enquanto saltimbancos e menestréis preparam as suas atuações burlescas e jocosas. Entretanto, “em anúncio da visitação do Reposteiro-Mor de D. Fernando ao mosteiro, senhores e servos saem a receber a nobre comitiva, aprestando-se o tabelião e aprendizes em trazer para o terreiro as mesas e assentos com que se há-de redigir o termo desta visita”, antes da qual se enxotam “os cães sarnentos para longe das vistas”. E é chegado o momento de receber o visitante: “ao som das trombetas, o préstito irrompe na praça de armas”. “O cortejo detém-se e dessedentam-se as visitas com água e malvasia. O comendador da Ordem do Hospital agradece ao nobre Reposteiro-Mor o empenho e a preparação dos esponsais de El-Rei. Há bênção e oração devota. E mandam-se dar vivas ao Rei”, descreve a autarquia.

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Algum tempo depois, pelas 19h30, arranca a segunda recriação histórica da feira, com a chegada dos peregrinos ao mosteiro de Leça do Balio. A obedecer às memórias e aos testemunhos antiquíssimos que ligam Matosinhos à conhecida peregrinação, “os freires Hospitalários recebem e acolhem os viandantes e os peregrinos de Santiago de Compostela, dando-lhes agasalho, lavando-lhes as feridas e chagas” e concedendo-lhes ainda algum alimento e palha enxuta para pernoitarem”. Meia hora mais tarde, as personagens humanas cedem o protagonismo às aves, com a já habitual demonstração de falcoaria, capaz de conquistar miúdos e graúdos. Agendado para as 21 horas está o primeiro ajuste de contas: o Auto de Fé da época medieval. Assim, “em juízo eclesiástico são julgados heréticos, acusados de desmandos contra a Santa Madre Igreja”. Como punição, estes “parceiros do diabo” serão chicoteados até à pública confissão das suas perversões. O primeiro dia do evento não termina sem o tão apreciado concerto de música da época e o espetáculo de malabarismo com fogo, que vai aquecer o recinto já de madrugada.
No final da manhã seguinte (sexta-feira, 6) o reboliço medieval invadirá o mercado, com a “fiscalização das tavernas e vinhos pelo Almotacé [funcionário de confiança dos concelhos na Idade Média] e a “certificação de Mesteirais e Mestre de ofícios e artes pelo Almoxarife”. Pouco tempo depois, pelas 13 horas, os visitantes são convidados a deixarem-se seduzir pelos cavaleiros vilões do burgo, que vão provar a sua destreza de movimentos numa mostra de armas, seguida de um treino de falcoaria. Ao longo do resto da tarde, não vão faltar acrobacias, malabarismos, momentos sedutores de dança do ventre e ainda a arte – para muitos surpreendente – do encantador de serpentes. Quando os ponteiros do tempo estiverem a marcar as 20h30, é chegado o momento de uma nova recriação histórica, desta vez de um torneio medieval a cavalo, na sequência do qual se apuram os mais aguerridos. 
E como o velho mosteiro esconde, no seu silêncio, muitas lendas e tesouros, as reconstruções históricas não se ficam por aqui. À meia-noite do segundo dia da feira vai ser retratada a Lenda do Ferro-Caldo. De acordo com esta narrativa popular, a mulher de um ferreiro do lugar do Souto, acusada de adultério, vê-se obrigada a ser submetida à referida prova como meio de afirmar a sua inocência. Recorda o historiador Joel Cleto, na sua página pessoal na Internet, que o desafio consistia em “caminhar pelo menos oito pés com um ferro em brasa nas mãos, sem o largar ou emitir qualquer queixume”. “Submetida a tal teste, a mulher não só não gemeu, como andou muitos mais metros do que seria necessário para provar a sua inocência, reforçada ainda pelo facto de, no final, não ter ficado com qualquer marca de queimadura nas mãos”, esclarece. O milagre terá ocorrido pela mulher ter avançado, com a brasa, em direção ao túmulo de D. Frei Garcia Martins, que, durante muitos anos, esteve à frente dos destinos do Mosteiro de Leça do Balio. 

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Os segredos do monumento continuam a ser revelados no sábado, dia 7 de setembro, com o episódio “El Rei D. Fernando vem de Lisboa a Leça”. Assim, pelas 15 horas, e depois de uma manhã preenchida com várias das atividades medievais já referidas, o rei D. Fernando, ameaçado pelo povo de Lisboa, que não vê com bons olhos o seu relacionamento com D. Leonor Telles, chega ao Porto, acolhendo-se no mosteiro, “onde já estão aprazados os seus esponsais e onde se encontra com a comitiva dos mais altos dignitários da Ordem dos Hospitalários”. Como toda a festa que se preza tem uma boa mesa, pelas 20h30 é servida a Ceia Medieval, enriquecida por finas iguarias e pelos acordes líricos dos poetas. 
A programação do último dia do evento arranca logo às 10 horas, com uma peregrinação da Capela de Santo António do Telheiro até ao Mosteiro de Leça do Balio. Como já é habitual, no domingo, “Os Hospitalários no Caminho de Santiago” recebem uma das recriações mais emblemáticas de toda a festa – o casamento de D. Fernando e D. Leonor Teles. Assim, às 17 horas, o rei contraria definitivamente o descontentamento do povo e, “reprimindo violentamente os seus protestos, toma-a como sua esposa”, no velho mosteiro. Um momento que pode ser testemunhado por todos aqueles que não tiverem medo de se apaixonar pela história de Matosinhos. 

Texto: Mariana Albuquerque

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