O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda (BE) colocou um conjunto de questões ao Ministério da Cultura relativamente à transformação de um castelo, com origem em 1126, num hotel de quatro estrelas, projeto que o partido considera estar a comprometer seriamente a integridade e identidade do imóvel.
Segundo o Porto Canal, Joana Mortágua questionou a ministra da Cultura sobre o conhecimento que o Governo tem desta intervenção e os motivos por detrás dos pareceres favoráveis que permitem a obra, alertando para os possíveis danos irreparáveis num monumento que está classificado como Imóvel de Interesse Público.
Além disso, o BE solicita que seja esclarecido se o processo está a ser acompanhado por especialistas em arqueologia, dado o valor histórico do local, com ligações à ocupação medieval.
O edifício em causa é o Paço de Curutêlo, também chamado Castelo de Curutêlo, situado na freguesia de Ardegão, Freixo e Mato, no concelho de Ponte de Lima, distrito de Viana do Castelo. Este monumento de traça românica foi declarado Imóvel de Interesse Público em 1977 e está localizado numa área rural junto ao monte de São Cristóvão dos Milagres.
O grupo Vila Galé adquiriu o Paço de Curutêlo em 2022, através da Xvinus – Companhia Enoturística, Lda., e anunciou um investimento de 20 milhões de euros para transformar o espaço num empreendimento de enoturismo, com uma vertente de produção de vinhos verdes, prevendo a abertura para 2025 e a criação de 42 empregos. O projeto inclui ainda a construção de um hotel e outras infraestruturas ligadas ao enoturismo.
No entanto, o Bloco de Esquerda alerta para os impactos negativos das obras em curso, afirmando que estão a alterar a envolvência do monumento e a descaracterizar profundamente a paisagem. O partido sublinha que a construção de novos edifícios de grandes dimensões não respeita a harmonia do conjunto histórico e que as transformações causam grande desagrado entre a população local.
A Associação para a Defesa, Estudo e Divulgação do Património Cultural e Natural (ASPA) também se pronunciou contra o projeto, considerando que está a ocorrer uma descaracterização grave do Paço de Curutêlo. Especialistas em várias áreas, como historiadores, arquitetos e antropólogos, expressaram publicamente o seu descontentamento com o que consideram ser uma intervenção que desrespeita o património e o valor histórico do local.
Para o BE, os interesses económicos e imobiliários não podem prevalecer sobre a salvaguarda do património cultural, pelo que exigem ao Ministério da Cultura uma justificação para o avanço da obra e uma reavaliação dos pareceres emitidos.