
Com o aumento da quantidade de satélites em órbita e o crescimento do problema do lixo espacial, surge a necessidade urgente de soluções inovadoras para a remoção de detritos e satélites inativos.
É precisamente esse o objetivo do SWIFT (Spacecraft With Inflatable Termination), um projeto de três milhões de euros liderado pela Spaceo, uma startup portuguesa incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).
De acordo com o Jornal de Negócios, a iniciativa, financiada pela Agência Espacial Europeia (ESA), tem como propósito o desenvolvimento de um sistema insuflável que permitirá acelerar a desorbitação de satélites no final da sua vida útil, garantindo uma abordagem mais sustentável à exploração espacial.
O funcionamento do SWIFT
O conceito do SWIFT baseia-se num mecanismo compacto de 100 mm³, capaz de ativar uma vela de arrasto de 1,5 m²que envolve satélites de até 24 quilogramas. Esta estrutura facilitará a reentrada na atmosfera terrestre, promovendo a desintegração controlada dos satélites, evitando a acumulação de detritos em órbita.
A tecnologia será testada em 2028, altura em que um foguetão transportará o sistema até 500 quilómetros de altitude, onde serão realizados os primeiros ensaios em órbita terrestre baixa (LEO), uma das regiões mais congestionadas por detritos espaciais.
Segundo Pedro Miguel Carneiro, cofundador da Spaceo e responsável pelas fases de desenvolvimento e experimentação orbital, o design modular do SWIFT permitirá a sua adaptação a satélites de maior porte e a constelações inteiras.
Consórcio internacional para uma solução global
O desenvolvimento do SWIFT conta com a colaboração de três empresas europeias especializadas no setor aeroespacial:
- GomSpace (Luxemburgo) – Fornecimento da plataforma de satélite que alojará o SWIFT.
- SpaceLocker (França) – Otimização e gestão do espaço interno do satélite.
- SolidFlow (Países Baixos) – Desenvolvimento do gerador de gás que insuflará a vela de arrasto.
A parceria internacional reforça a importância estratégica do projeto, que poderá tornar-se um padrão para futuras missões espaciais, assegurando que todos os novos satélites incluem um sistema de remoção automática no final da sua operação.
O impacto do SWIFT na sustentabilidade espacial
Atualmente, existem cerca de 9.900 satélites inativos em órbita, muitos dos quais podem permanecer no espaço durante décadas antes de reentrarem na atmosfera. No entanto, regulamentos recentes, especialmente nos Estados Unidos, começam a exigir uma redução do tempo de desorbitação para cinco anos, o que pode acelerar significativamente a necessidade de tecnologias como o SWIFT.
Se adotado em larga escala, este sistema poderá transformar-se num elemento essencial para a segurança espacial, à semelhança do que aconteceu com o airbag na indústria automóvel. João Pedro Loureiro, fundador da Spaceo, acredita que a tecnologia poderá tornar-se um padrão da indústria, assegurando que todos os satélites lançados no futuro incluam um mecanismo eficaz de remoção.
Para Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa, o SWIFT é um exemplo da capacidade inovadora nacional e do contributo de Portugal para um espaço mais sustentável e seguro.
O lançamento do SWIFT está previsto para 2028, e há fortes possibilidades de que a missão seja realizada nos Estados Unidos pela SpaceX. Caso o projeto seja bem-sucedido, Portugal poderá afirmar-se como um dos pioneiros na luta contra o lixo espacial, num setor cada vez mais crítico para o futuro da exploração espacial.