
“Uma área que pode ter muito interesse para as empresas portuguesas é associarem-se às dinamarquesas em mercados terceiros onde Portugal tem acesso preferencial, porque as empresas dinamarquesas têm uma situação muito folgada do ponto de vista dos recursos próprios e em Portugal falta capital”, afirmou Rui Macieira em declarações aos jornalistas à margem de uma ação de promoção dos vinhos portugueses da Quinta da Boeira, que decorreu quinta-feira em Copenhaga.
Apontando como mercados alvo para estas ‘joint ventures’ quer os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), quer outros países de África ou da América Latina, o embaixador explicou que assim se associaria a proximidade das empresas portuguesas a estes mercados à grande liquidez de que beneficiam as congéneres dinamarquesas.
Em conjunto, avançou, Portugal e a Dinamarca têm “grande apetência para diversificar [os negócios para além] dos mercados europeus”, já que também os dinamarqueses têm atualmente “uma grande percentagem” das suas exportações concentradas na Europa, apresentando “uma grande margem de crescimento nos outros continentes”.
De acordo com Rui Macieira, citado pela Lusa, há também muito potencial para aumentar as trocas comerciais e o investimento entre Portugal e a Dinamarca: “Portugal e os produtos portugueses têm uma imagem boa, mas pequena, na Dinamarca. Quem compra gosta e são produtos muito sólidos, mas diria que não somos suficientemente conhecidos”, afirmou o embaixador.
No que se refere às exportações portuguesas de bens para a Dinamarca, o diplomata disse existir uma “concentração enorme, de mais de 70%, em produtos tradicionais” como os vinhos, o têxtil e o calçado, onde considera haver ainda uma “margem de progressão” que valeria a pena ser complementada por uma aposta nas exportações de setores não tradicionais.
“Em Copenhaga há um enorme ‘boom’ em construção quer de infraestruturas, quer de habitação. Há um grande investimento do Estado pelo país inteiro e proximamente vai haver alguns grandes concursos no setor da construção e em tudo o que lhe está associado”, avançou como exemplo.
Já ao nível da exportação de serviços de Portugal para a Dinamarca, Rui Macieira diz registar-se uma maior diversificação para além do tradicional setor do turismo, cujos números são por si só “fantásticos”, com um crescimento de 19% no ano passado e um peso na ordem dos 97 a 98 milhões de euros no total de cerca de 230 milhões de exportações portuguesas de serviços para aquele país escandinavo em 2016.
No total, as exportações portuguesas de bens e serviços para a Dinamarca somaram 560 milhões de euros em 2016, mais 7 a 8% do que em 2015, prevendo-se novo crescimento este ano.
A Dinamarca é um país “em que é muito fácil investir”
Segundo Rui Macieira, a Dinamarca é um país “em que é muito fácil investir”: “É o país da flexi-segurança, em que é muito fácil contratar e despedir porque a responsabilidade social de formar o trabalhador pertence ao Estado, que o recicla para o recolocar no mercado de trabalho”.
Com uma taxa de desemprego em torno dos 5% e níveis de desemprego jovem inferiores a 10%, a Dinamarca tem como principais setores económicos o farmacêutico, a logística por via marítima, a química especializada, a agroindústria (nomeadamente na fileira do porco) e as pescas.
Conforme destaca o embaixador português, “é um país com uma posição geográfica muito interessante, porque o ‘hub’ aéreo para a Escandinávia é Copenhaga”, e, por ser “um mercado um bocadinho mais pequeno do que outros”, poderá ser usado como teste e exemplo de sucesso noutros países escandinavos por parte de uma média empresa portuguesa que ali se consiga estabelecer.
Com “excedentes da balança de pagamentos consistentes há décadas”, uma situação líquida positiva e muito capital disponível nas empresas, a Dinamarca tem “uma dívida pública invejável” e “uma sustentabilidade do sistema de pensões fantástica”, apesar de na última década vir apresentando um crescimento económico “relativamente débil”, na ordem de 1,5% ao ano.
No que diz respeito ao investimento dinamarquês em Portugal, Rui Macieira destaca que, “como o alemão, é um investimento produtivo e não especulativo”, ascendendo já a cerca de 12 a 15 mil as empresas de capital dinamarquês a operar no país.
Exemplos disso são a cervejeira Carslberg, “que tem uma presença muito importante na Unicer”, e a empresa de calçado Ecco, “que teve algum desinvestimento há dez anos, mas agora voltou a investir em grande”.
Em Portugal estão ainda as empresas do setor agroalimentar Dat Schaub, “que emprega já umas centenas largas de portugueses” (mais de 470) no Norte do país, a empresa de tintas para construção naval Hempel e a fabricante de material médico e hospitalar Coloplast.