Ora, há setores culturais e há regiões na Europa que possuem, nesse contexto, mais potencialidades e, concomitantemente, mais responsabilidades. Há espaços privilegiados onde se pode alicerçar e difundir um espírito de plena cidadania europeia. A cidade do Porto encontra-se nesse grupo. Considerado pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade, o Porto é uma daquelas “cidade-memória” que, pelo seu percurso histórico ao longo dos últimos mil anos e pela abertura ao exterior no Passado e no Presente, é um incontornável agente de atratividade e de fusão cultural. O crescente sucesso que vem registando como destino de turismo cultural, ou a notória “internacionalização” da sua Universidade, vieram sublinhar o impacto e a importância da cidade no estreitamento de relações com outros povos e culturas e no alicerçar de ideais tão caros à Europa como a tolerância e a solidariedade. Um papel que a cidade pode potenciar também através de projetos culturais de escala e impacto europeu, de que já são exemplos a programação e animação da Casa da Música, do Museu de Serralves, o FITEI, o Fantasporto, o Festival de Jazz de Matosinhos…
É decisivo, nos dias que correm, não deixar morrer o projeto da União Europeia perspetivando-o através de um outro paradigma. O Porto, que tantas vezes se perde numa quixotesca luta contra o centralismo lisboeta, deve, como fez no século XIV, olhar mais longe, para lá das fronteiras nacionais, e almejar a sua justa afirmação internacional. Afinal, possui todas as potencialidades para poder e dever, no atual contexto, ousar fazer parte dos pilares de uma efetiva construção europeia. Assim saibamos aceitar a responsabilidade e estar à altura do desafio. Nosso. E da Europa.
Joel Cleto
Historiador{jcomments on}