O investigador Helder Maiato, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), tornou-se o primeiro cientista da U.Porto a conquistar três das principais bolsas do European Research Council (ERC). O seu mais recente projeto, com um financiamento de três milhões de euros, foca-se na adaptação dos mecanismos de divisão celular a variações no número de cromossomas ocorridas ao longo da evolução.
A pesquisa vai estudar duas espécies de veado geneticamente idênticas, mas com uma grande diferença no número de cromossomas: uma delas tem seis cromossomas, enquanto a outra possui 46, o mesmo número que os humanos. A equipa de Helder Maiato quer entender os desafios que essas diferenças colocam às células durante o processo de divisão celular.
Além de tentar perceber se a fusão ou a redução no número de cromossomas oferece alguma vantagem evolutiva, o estudo também investigará se esses processos aumentam a eficiência da divisão celular ou geram mais erros, levantando questões sobre a evolução e sobrevivência das espécies.
Descobertas que poderão revolucionar o combate ao cancro
Este projeto teve início há dez anos no i3S, com o trabalho pioneiro de duas alunas de doutoramento, Danica Drpic e Ana Almeida, que começaram a estabelecer o sistema de estudo. A inspiração veio do geneticista António Lima de Faria, considerado um dos “pais” da biologia dos cromossomas, a quem Helder Maiato dedica o projeto.
Paralelamente, a equipa está a colaborar com um consórcio americano para sequenciar as regiões mais repetitivas dos genomas dessas espécies de veado. O objetivo é identificar as diferenças genéticas e compreender como o número de cromossomas afeta a longevidade e a resistência a doenças, como o cancro.
Os investigadores planeiam realizar fusões de cromossomas em laboratório, de forma a descobrir qual o número mínimo que uma célula de mamífero pode tolerar. A intenção é criar uma célula com apenas um cromossoma, imitando o que acontece em alguns insetos.
Helder Maiato acredita que este estudo terá repercussões importantes na compreensão e tratamento do cancro, dado que as células cancerígenas apresentam alterações significativas no número de cromossomas. A pesquisa poderá ajudar a decifrar como essas alterações ocorrem e como influenciam o desenvolvimento da doença.
O cientista destaca que o financiamento do ERC lhe garante cinco anos de investigação sem a pressão de resultados imediatos. Este tempo permitirá à sua equipa focar-se inteiramente na ciência e explorar as questões evolutivas mais profundas, na esperança de contribuir para avanços na medicina.
Com um currículo impressionante, que inclui mais de 100 publicações científicas e prémios nacionais e internacionais, Helder Maiato é uma figura de destaque no campo da biologia celular. Além das três bolsas ERC, conquistou outros reconhecimentos, como o Prémio Crioestaminal e o Prémio de Excelência na Investigação Científica da Universidade do Porto.
A investigação liderada por Helder Maiato coloca o Porto como um dos centros de referência na pesquisa científica a nível mundial, com potencial para gerar descobertas significativas no tratamento de doenças como o cancro.