
Conforme publicado pela Câmara do Porto, no seu portal de notícias oficial, foi descoberto um cemitério “improvisado”, que teve uso em 1833. Este foi encontrado à beira da Biblioteca Pública Municipal do Porto (BPMP).
Como explica a autarquia, este serviu para enterrar pessoas que foram vítimas da epidemia de cólera que se fez viver na época em questão. Recorde-se que os achados arqueológicos foram vistos em 2003 e 2004, no entanto, só agora é que houve lugar ao recomeço dos trabalhos.
À data de escrita do artigo, a Câmara do Porto refere que já foram exumados 63 corpos. Contudo, os investigadores alertam que os números não deverão ficar por aqui. Segundo o arqueólogo responsável pelas escavações, “trata-se de uma ação de arqueologia preventiva”.
José Carvalho acrescenta que estas escavações antes da intervenção são importantes, de maneira a que haja “compatibilização entre a obra e a preservação do património”. As obras em questão levarão a uma requalificação e ampliação da BPMP.
De forma a contextualizar a história do espaço, José Carvalho indica que “este convento ficou desocupado e, em 1833, deu-se aqui um episódio histórico muito importante: o Cerco do Porto. Na altura, vivia-se em condições muito difíceis, que foram agravadas por uma epidemia de cólera, levando à morte de muitas pessoas”.
“Uma das medidas tomadas pelo rei D. Pedro IV foi criar um cemitério para fazer face a esta calamidade” – explica. Como dito anteriormente, tratou-se de um cemitério “improvisado”, que apenas funcionou até 1835, ou seja, durante cerca de 2 anos.
Quem também fala sobre este cemitério é Sofia Nogueira. A antropóloga recorda que, entre 2003 e 2004, quando os trabalhos começaram, foi possível encontrar perto de 280 pessoas. Na retoma dos trabalhos, espera-se que sejam desenterrados cerca de 80.
“Quando identificamos um osso ou um esqueleto fazemos o registo fotográfico, gráfico e tipográfico. O material é recolhido e é preenchida uma ficha com todas as informações. Cada osso é colocado num saco devidamente identificado e é armazenado. Neste momento, estamos a ficar com eles aqui, mas depois serão entregues no depósito municipal para futuras investigações” – explica Sofia Nogueira.
A própria ainda detalha que os corpos encontrados são bastante heterogéneos, na medida em que há uma proporção “equilibrada” de homens e mulheres, assim como todo o tipo de faixas etárias. O diretor do Departamento Municipal de Gestão do Património Cultural refere que o antigo Convento de Santo António da Cidade chegou a ser “usado como hospital”.
Miguel Rodrigues acrescenta que a BPMP só poderá ser ampliada, depois das escavações arqueológicas ficarem concluídas. Ainda assim, salienta que as mesmas não prejudicaram a data de início da obra.
A Biblioteca Pública Municipal do Porto vai ser ampliada, num investimento a rondar os 26,5 milhões de euros.