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Cafés e botequins do Porto antigo

Cafés e botequins do Porto antigo

Local de encontros e convívios, casuais ou programados, os cafés sempre tiveram um lugar de destaque na vida dos portugueses. Em tempos pré-covid eram raros os que não enchiam. O aroma inconfundível desta bebida, uma das mais apreciadas no mundo, o cheiro e todo o ambiente criado em torno de um simples café estão envoltos num grande fascínio. Entre reuniões de negócios, sessões de estudo, conversas populares, políticas e, até, familiares, eram vários os temas que serviam de mote para uma ida a um café. Mas, será que sempre foi assim? Será que os cafés, como hoje os conhecemos, sempre tiveram essa função?

Só no início do século XIX começou o hábito dos portugueses tomarem o café nos estabelecimentos que hoje lhes dá nome. Antigamente, era por botequim que estes eram conhecidos e tinham o hábito de servir de tudo, menos o café. “O botequim era um espaço onde as pessoas se reuniam, mas não servia café. Não havia esse costume, porque as pessoas tomavam-no em casa. Era, essencialmente, um espaço de reunião de famílias, onde tomavam uma bebida e, mais tarde, um gelado, quando estes começaram a surgir”, contou o jornalista e historiador Germano Silva, numa entrevista publicada em 2016.

Segundo revelou, A Brasileira, um dos locais mais emblemáticos do Porto, chegou, inclusive, a oferecer café aos clientes durante algum tempo. “Ofereciam-no, na chávena, de graça, para criar esse hábito nas pessoas”. Um hábito que, recorda, só surgiu no início do século XIX, altura em que os cafés começaram a deixar o nome de botequins para se assumirem como “cafés”.

“Os cafés no Porto tiveram uma importância muito grande porque foram sítios de divulgação da cultura. As pessoas sentavam-se às mesas e discutiam, falavam, conversavam… Havia cafés que tinham uma frequência especifica, ou seja, alguns eram frequentados por adeptos do futebol, por exemplo, e outros por homens da cultura, jornalistas, escritores, poetas, gente do teatro”, acrescentou.

Majestic Café, Piolho, Imperial, Café Palladium, Progresso e Águia de Ouro… Fazem parte dos cafés e botequins que marcam a história da cidade. Alguns, pelas mais variadas razões, encerraram portas, outros ainda permanecem no ativo e há também uma parte significativa que desapareceu, dando lugar a novos espaços na cidade. Vamos recordar alguns… Numa viagem que vai  permitir conhecer a sua história até ao mais ínfimo detalhe, reacender memórias e potenciar, ainda mais, a admiração e amor a um Porto inesquecível.

Majestic

É inegável o reconhecimento e o valor histórico do Café Magestic, inicialmente inaugurado como “Elite”. Erguido em plena Rua de Santa Catarina, desde dezembro de 1921, é um local que transcende gerações, histórias e que deixa gravadas memórias únicas em qualquer pessoa que entre no seu interior. E, em quase cem anos, foram milhares as pessoas que por lá já passaram, entre portugueses e turistas curiosos, e personagens que se destacam nas mais diversas áreas.

O primeiro nome dava ao espaço uma “aura monárquica que não condizia com o ambiente republicano, burguês e chic dos portuenses contemporâneos”, pelo que foi escolhido o nome Majestic para designar o café, projetado pelo arquiteto João Queiroz, lê-se na sua página oficial. Sendo o espaço característico da Belle Époque, a opção fazia assim, jus, ao “glamour e à elite cultural parisiense”, referências para a cultura portuguesa da altura.

“Mais do que um café, o Majestic conta a história do Porto. O Porto dos anos vinte, das tertúlias políticas e do debate de ideias. O Porto da «Bélle Époque» dos escritores e dos artistas”. Diariamente procurado pelos estudantes e professores da Escola de Belas Artes da cidade, o Majestic era local de paragem obrigatório para convívios, reuniões ou simplesmente para contemplar a magia do lugar acompanhado de uma chávena de café.

Seis décadas depois de se ter erguido, num edifício construído em 1916, é decretado Imóvel de Interesse Público. Contudo, a segunda Guerra Mundial terá trazido alguma crise, o que obrigou a venda de vários artigos, como cadeiras, mesas e candeeiros. O momento foi passageiro e em 1994 o Majestic estava pronto a reabrir portas com a “vaidade justa de ser um dos mais belos cafés do Porto”.

No seu interior, há toda uma panóplia de histórias, contadas sob as mais variadas formas. Pelos quadros, pelos grandiosos espelhos, pelas esculturas, pelos candeeiros, pelas fotografias e pela beleza de um lugar que só quem contempla á capaz de compreender.

Em 2020, recorde-se, por força da pandemia de covid-19, o histórico café Majestic, conhecido pelas suas longas filas, encerrou portas “por tempo indeterminado”.

Piolho

Com mais de um século de existência, o café Piolho é também um dos estabelecimentos mais conhecidos da cidade do Porto. Entre gerações mais novas ou com idade mais avançada, deixa uma saudade notória no coração de todos os que por lá já passaram, tais foram os “bons tempos”, dizem”, por lá vividos. Situado na Praça Parada Leitão, bem próximo à Universidade do Porto, foi devido a esta que ganhou este nome… é que o nome original da casa – ainda em funcionamento -, não é Piolho, como maioritariamente é conhecido, mas sim Âncora D’Ouro.

Ao que parece, não há uma explicação exata para tal designação. Há inúmeras teorias, mas há uma que reúne maior consenso. Estando o Piolho tão próximo da Universidade era naturalmente frequentado por alunos, mas também por professores. “A convivência era um tanto ou quanto cerimoniosa. Daí alguém começar a dizer que aquilo era uma «piolhice», sabe-se. E assim ficou o nome! 

O Piolho abriu portas em 1909 e terá sido o primeiro café portuense com luz elétrica, televisão e máquina de cimbalinos (“Cimbali”), segundo o portal “Comércio Com História”.

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Palladium

O café Palladium abriu em 1940, no edifício das antigas Galerias Palladium, na esquina entre a Rua de Santa Catarina e a Rua de Passos Manuel, e foi designado como um “acontecimento marcante à escala nacional”, com o Diário de Lisboa a noticiar, a 4 de novembro, a inauguração do “maior e mais confortável estabelecimento do género no país”.

“É uma instalação de luxo, conforto e bem-estar e consegue ser ao mesmo tempo salão de chá, restaurante e café”, destacou a publicação, referindo que o espaço, projetado pelo arquiteto Mário de Abreu, contemplava “os mais pequenos detalhes”. “Há um confortável gabinete ‘privado’, onde os clientes podem tratar em particular de qualquer assunto comercial ou não, todas as mesas têm ligação telefónica, e, em todo o edifício, há alto-falantes que anunciam a chamada ao telefone, o que, apesar de ser uma coisa muito usada nas grandes capitais, constitui novidade entre nós”, lia-se ainda.

Instalado no edifício concebido pelo arquiteto Marques da Silva, onde atualmente se encontra a Fnac e a C&A, o estabelecimento foi considerado, na altura, o maior da Península Ibérica, ocupando um total de quatro pisos, ligados por escadarias e uma decoração luxuosa.

No rés do chão funcionava o café, salão de chá e restaurante, no primeiro piso a sala dos jogos de vasa, enquanto o segundo e o terceiro pisos estavam reservados, respetivamente, aos bilhares e ao cabaret.

Encerrou em 1974.

A Brasileira

O edifício do centenário café A Brasileira, na Rua Sá da Bandeira, onde foi instituído o hábito do “café à chávena”, deu lugar a um hotel de cinco estrelas. Foi pela mão de Adriano Teles, um antigo comerciante que esteve vários anos no Brasil, que abriu, em maio de 1903. E, segundo revelou Germano Silva, era o café “onde paravam os políticos”, com a particularidade de que os “homens da direita se sentavam à esquerda e os da esquerda sentavam-se à direita”.

“Caracterizou-se pelas animadas conversas que havia sobre os acontecimentos políticos”.

O café d’A Brasileira, bastante apreciado na época, vinha diretamente do Brasil e era produzido na torrefação que o fundador abriu na cidade. O slogan “O melhor café é o d’A Brasileira” rapidamente surgiu, mantendo-se até aos dias atuais. É que sempre que se fala no espaço, eis que, naturalmente, surge a recordação…

Imperial

O lugar onde hoje está situado aquele que foi considerado, pelo jornalista Harrison Jacobs, o “McDonald’s mais bonito do mundo”, funcionou, nos anos 40, o Café Imperial, um dos primeiros exemplos do estilo arquitetónico Art Deco. Situado na carismática Avenida dos Aliados, o espaço era caracterizado pela imponente águia que apresentava na fachada.

Terá sido “um café mais sossegado”, com uma parte interior conhecida como “a sacristia”. “Nunca soube se tinha esse nome porque estava perto da sacristia da Igreja dos Congregados ou se era porque paravam muitos padres se reuniam-se lá à segunda-feira”, apontou Germano Silva.

Por lá, passavam também muito os ardinas, que encontravam naquele local um ponto estratégico para a venda dos jornais.

Antigamente, recordou o historiador portuense, os cafés eram “ambientes de confraternização”. “Serviam para troca de ideias, onde se liam poemas pela primeira vez, falava-se em projetos, pediam-se conselhos (…) Essa vivência manteve-se até aos anos 60, mas depois foi esmorecendo, com o aparecimento da televisão”, completou.

Entre os mais emblemáticos da cidade, encontram-se também o Águia d’Ouro, que, entretanto, foi transformado num hotel, o Café Progresso, conhecido como o “café dos professores”, e o Guarany.

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