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Bezegol: “O concerto do Coliseu do Porto vai ser uma grande festa e o reviver dos últimos 25 anos entre nós e público”

Bezegol:

A VIVA esteve à conversa com Bezegol. Nasceu na cidade do Porto e é um dos grandes nomes musicais da Invicta e do país, que vai dar um grande concerto no Coliseu do Porto, já no dia 22 de fevereiro, sábado, às 21h.

Desde o espetáculo que o público portuense poderá esperar no sábado, ao percurso do artista, ficamos a conhecer melhor Bezegol.

Nasceu no Porto, na zona da Pasteleira, e é muito associado ao reggae/hip-hop, ainda que não se encaixe em gavetas artísticas. Quais as influências que o fizeram enveredar por este estilo de música? 

Foi basicamente o que eu ouvia quando era miúdo. Foram os géneros com que eu criei mais simpatia. Quando calhou de ir fazer música e ir escrever, o meu cérebro estava formatado para esses elementos. Por isso, é que sou mais associado a reggae e rap. É natural que tenha ido mais para aí, mas também gosto de misturar isso com um som português, com o fado, coisas nossas. Essa mistura é que faz com que eu não goste de ter um rótulo. Não é justo dizer que sou do rap, sou do reggae. Estamos a falar de estilos que não foram criados por nós, então são sempre coisas que nós adaptamos. Não gosto de me afirmar só como artista de um desses géneros, porque acho que não sou nem tenho de ser portador desse estandarte. Faço música pela música e pela forma como posso pôr as letras nela. Não me sinto embaixador de nenhuma dessas coisas, daí não gostar de ter rótulos.

Falou em “calhar” fazer música. Como é que “calhou” ao certo o começar a fazer música?

Na verdade, o escrever versos começou muito em miúdo. Até a remexer coisas, quando mudei de casa há uns anos, fui encontrar livros da escola e todas as páginas tinham uma rima ou qualquer coisa. Ainda sem ter grande musicalidade. O fazer as coisas musicalmente começou mais tarde, tinha os meus 20 e poucos anos. Quando comecei a gravar e a experimentar fazer coisas. No entanto, acho que nem consigo definir, porque já nasceu comigo a vontade de fazer som. O meu pai já era fadista, quando eu era miúdo. Tinha isto de ouvir muita música em casa, de ter discos e comprar música muito novo. O interesse sempre tive, coleciono discos até hoje e sempre adorei fazê-lo. Foi tudo natural. Comecei por ser DJ, o que me deu maior facilidade de conhecer pessoas aqui no Porto, na altura já conhecia pessoal que tinha um mini-estúdio. Foi assim que as coisas se foram desenvolvendo. Hoje, já temos mais condições e pode-se trabalhar em digital, poupar tempo nessas coisas. Já não é preciso fazer algumas coisas que o analógico obrigava. Depois, quando enveredei por ter uma banda, isso fez com que pudesse trabalhar melhor e mais estilos. As ideias que tenho na cabeça consigo pô-las melhor em prática, pois tenho com quem discutir sobre como o vamos fazer. É uma forma diferente de trabalhar, que torna as coisas muito mais ricas e orgânicas.

Como chegou a dizer em entrevista anterior, “adora fugir à norma”. De que forma isso se manifesta na sua forma de criar?

Na forma de criar, processa-se no sentido de não seguir tendências e não estar preocupado com isso. Ainda no ano passado, lançamos três temas e não têm nada a ver um com o outro. Assim, continuo a fugir à norma de como as coisas são feitas cá, de como se faz o circuito. Continuo a fugir à norma. Estamos a fazer agora um concerto no Coliseu, o que é outra maneira de fugir à norma. Estamos a produzir e só dependemos do público para levar as coisas para a frente, pois é com a adesão deles que conseguimos pagar as produções. Queremos fazer isto noutros pontos do país e acho que é uma forma de sermos nós a levar os concertos às cidades, em vez de estar à espera de convites.

Vai dar um concerto no Coliseu do Porto, já no dia 22 de fevereiro. O que podemos esperar de diferente deste espetáculo, face àquilo que já vimos do Bezegol?

Aqui, temos a possibilidade de ter a sala para nós, o que faz com que possamos dar um concerto muito maior. Vai ultrapassar as duas horas e vamos levar cerca de 26/27 temas. Teremos músicas desde o primeiro álbum até ao mais recente. Há uma série de temas que foram feitos há mais de 20 anos e, agora, vamos levá-los para palco com uma banda com 11 elementos. Vão estar muito mais ricos, quem os conhece deste tema vai sentir uma diferença grande. Quem nunca ouviu vai ter uma boa surpresa, depois de quando for ouvir a versão de estúdio. Vão sentir, “ei, isto ao vivo foi completamente diferente”. Para quem nos ouve do início, vão ter algumas surpresas ao nível do som e da forma como apresentamos as músicas.

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É especial atuar numa das maiores salas da cidade do Porto?

Sem dúvida e não é por ser daqui que digo isto. O Porto tem uma energia diferente e mesmo os meus amigos, quando cá vêm tocar, esfregam as mãos de ter concerto no Porto. O público aqui é aguerrido e se vão é mesmo porque querem comemorar o que se está ali a passar em conjunto. Depois, é a cidade que me viu crescer, a cidade onde eu nasci. Já toquei desde os Aliados, à Casa da Música, ao Hard Club, todas essas casas, faltava mesmo marcar esta no cartão. O Coliseu é a casa-mãe do Porto e para quem é daqui tem esse significado enorme. Felizmente, vai haver casa cheia. Estou mesmo muito contente e só falta o ouro sobre azul, que é tudo correr bem e o concerto ser perfeito.  

No espetáculo, estarão presentes nomes como Rui Veloso, Mundo Segundo e Deau. Sendo estilos tão distintos, foi fácil trabalhar com cada um deles? Houve algum obstáculo, até por se tratarem de artistas de “mundos diferentes”?

Honestamente, acho que as coisas correm bem porque a gente se conhece bem, acima de tudo. Tanto o Mundo Segundo, como o Rui Veloso, o Deau, são pessoas com quem eu privo, com quem eu falo de muitas coisas sem ser música. Acaba por ser mais fácil porque cada um sabe o que o outro quer transmitir. No caso do Mundo Segundo ou do Deau, por exemplo, foram eles que me convidaram. No caso do Rui Veloso, foi algo que trabalhamos mais no estúdio em casa dele e fomos construindo. Enquanto jantávamos, íamos acertando as coisas. Acho que o ingrediente principal é mesmo serem pessoas por quem eu tenho muita estima. É isso que faz com que a coisa resulta. Convidei-os para o concerto por isso, também. Por serem amigos. Não queria ter outras pessoas.

O Bezegol tem uma voz bastante característica e de estilo dificilmente replicável. Diria que este caráter singular da sua voz é um fator determinante na sua carreira já com bastante longevidade?

Eu acho que deve ser tudo. As pessoas que gostam deve ser pela voz, pelas letras, pela sonoridade, é um conjunto de tudo. É um facto que a minha voz se reconhece ao longe e deve ser, muitas vezes, fator para as pessoas prestarem atenção, por ser um tom diferente, um timbre mais peculiar. No entanto, acho que tem a ver com tudo. É a combinação dos fatores todos e a longevidade deve-se a isso e ao coração e alma que ponho nas coisas. Não é estalar os dedos e está feito, é sentido e é esforçado. É por isso que tenho períodos maiores até lançar alguma coisa. A minha vida pessoal mistura-se muito com a minha vida profissional e nem sempre consigo fazer tudo. Mas acho que as pessoas entenderam que aqui não há nada forçado, nem para agradar a A, B ou C. 

São já 25 anos de carreira. A vontade em fazer música ainda é a mesma? O que muda ao final de tantos anos, na sua perceção em relação ao mundo artístico?

Quando se começa, há aquela ideia de que as coisas são perfeitas e, à medida que os anos passam, vamos entendendo os defeitos que cada sistema tem. A música não é diferente e, às vezes, vais-te apercebendo que há fases e coisas que temos mesmo de nos adaptar. Há outras coisas que as pessoas se adaptam também por facilitismo. Também acho que há coisas que não deviam estar tanto na mão de pessoas que nem são artistas e isso acaba por fazer com que, ao fim destes anos todos, também cries a tua “persona” neste meio. Acabas por estar mais de sobrolho em coisas que aparecem. Já tenho uma noção do mercado e de como funciona, como é. Todos os meus álbuns são produzidos por mim, de pagar a fábrica de CDs, a pagar o estúdio. Tenho 50% de visão de artista e 50% de visão de quem já anda no negócio há alguns anos. A diferença maior é essa. A vontade de fazer música, quando vou para o estúdio, é exatamente a mesma, senão mais! Agora, vou com os meus músicos todos e, para além de gravarmos, confraternizamos bastante. Há uma grande diferença de ires com a cabeça para um teclado ou de levar a tua música para músicos e cada um interpreta com o seu instrumento a ideia. O desafio é maior, mas é mais completa a experiência no fim. Espero continuar mais alguns anos a fazer isto.

Qual a melhor memória que guarda em cima de um palco? 

Até tenho várias, mas uma que nunca me vai sair da cabeça é tocar nos Aliados com a praça cheia e ver milhares de pessoas a saltar connosco. Isso foi fantástico e é uma memória que guardo sempre comigo no coração. Depois, tive um concerto há uns anos, com um DJ e um backvocal. Nunca mais vou esquecer esse concerto, porque estavam 300 pessoas a cantar comigo. Foi no Porto, no Armazém do Chá, e essa energia que tiramos desses momentos é quase impossível de encontrar noutro lugar qualquer. Mesmo que tomasse psicotrópicos, não conseguia chegar aí. Às vezes, é mais por sentires as pessoas contigo do que pelo número de pessoas que estão. Já dei concertos pelo país fora com 5.000 ou 6.000 pessoas e não sentes esse calor. Felizmente, tenho muitas histórias dessas, porque comecei a tocar aqui e estava eu e um leitor de CDs. Tinha um técnico de som e foi assim que apresentei o álbum a primeira vez. O caminho foi progredindo e foram passos pequenos e firmes. De ter uma banda de 5, para 7, 9 e por aí fora. Foi aos poucos, para que cada passo não fosse atrás. Espero que no dia 22 seja mais uma dessas memórias que nunca mais me vai sair. A casa está quase cheia e estou muito contente com isso. Será uma grande reunião entre nós e o nosso público. Fazer uma noite memorável, teremos ecrãs gigantes, para as zonas do Coliseu com menos visibilidade. Teremos uma equipa de filmagem a passar o concerto para esses ecrãs. Vamos guardar o registo para a malta que não foi ao concerto ver no Youtube. Está-se tudo a preparar para ser uma grande confraternização.

Para acabar, pedia que terminasse a frase. “Devo ir ver o concerto do Bezegol ao Coliseu do Porto, no dia 22 de fevereiro, porque…”

Vai ser uma grande festa, uma grande confraternização e o reviver dos últimos 25 anos entre nós e o público. Conto com todos lá, porque vai ser uma grande festa.

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