Há mais de 110 anos na família Vilas-Boas, a Bazar Paris é, possivelmente, a mais antiga loja de brinquedos em funcionamento na cidade do Porto, se não mesmo a única. O espaço, situado no n.º 190 da Rua Sá da Bandeira, inaugurou a 16 de março de 1903. Foi comprado pelo bisavô de Luísa, Alexandre Moreira, a um italiano e, desde então, tem passado de geração em geração.
“Naquela altura Paris era o centro da beleza, das novidades, da moda. Era frequente o meu bisavô ir a Paris buscar artigos para vender na loja, nomeadamente ganchos e travessas para o cabelo, porcelanas e algumas bonecas”, revelou à VIVA! Luísa Vilas-Boas, a atual responsável pela casa, que herdou o nome do estabelecimento comercial anterior. Os primeiros proprietários optaram apenas por retirar “o novo” que antecedia o “Bazar Paris”.
Todo o edifício do Bazar Paris respira história, naquele que é um negócio que continua a resistir ao tempo e ao império das grandes superfícies. A gama de produtos é bastante diversificada, com brinquedos disponíveis para todas as idades [“desde os 0 aos 99”]. Entre brinquedos didáticos, jogos tradicionais, puzzles, peluches, bonecas, cozinhas, instrumentos musicais, lego, construções e carros diversos…
“Temos brinquedos clássicos e intemporais, que proporcionam brincadeiras iguais às de 1903. É preciso que as crianças tenham tempo para brincarem”.
Além disso, é ainda possível encontrar uma secção dedicada a modelismo ferroviário – com “comboios elétricos e todos os acessórios necessários para elaborar uma maquete” -, disponível no primeiro andar. E uma “secção de carros de coleção e uma outra de kits para montar de madeira e plástico, com todos os acessórios necessários para a concretização dos mesmos”.
“No rés-do-chão temos brinquedos, no primeiro andar modelismo e no segundo, assim como cave, temos o armazém dos diversos produtos”, resumiu a proprietária, que nasceu neste meio e recorda com saudade a magia proporcionada na época natalícia. “O espírito e a magia de Natal, a disposição das pessoas e toda a envolvência da época, permite ter um sem fim de recordações”.
De acordo com a responsável, há um “grande sortido” de artigos de Natal, com réplicas de decoração antigas, como bolas de vidro feitas e pintadas à mão, caixas de música e quebra nozes, que remontam “às lembranças das casas dos avós e a todo um imaginário de felicidade”. Os artigos de Carnaval, no qual o espaço também é “muito forte”, saem o ano inteiro, havendo ainda artigos únicos para festas populares.
Ao longo de 118 anos são muitas as recordações, as histórias e as mudanças. O negócio foi expandindo, acompanhando a evolução dos brinquedos, mas sempre com a preocupação e cuidado em manter a tradição associada à marca “Bazar Paris”. “Temos brinquedos que já não se encontram noutros espaços mais modernos e essa é, na minha opinião, a nossa mais valia – réplicas de brinquedos antigos, mas com todas as normas de segurança dos dias de hoje”.
O espaço é amplamente reconhecido, em Portugal e no estrangeiro, com a clientela a surpreender-se por ainda existir um espaço “com uma variedade tão grande de produtos”. “Quando sabem a idade da loja ficam ainda mais fascinados, em como resistimos ao longo dos tempos”, sublinhou Luísa Vilas-Boas, enternecida.
“Foi no Bazar Paris que o meu avô comprou o meu primeiro brinquedo. O meu filho já tem 30 anos, mas ainda tem o peluche que lhe demos quando nasceu. O meu neto está para nascer e quero que o primeiro brinquedo dele seja daqui.”
Luísa Vilas-Boas, proprietária do espaço
O sucesso, acredita, justifica-se com um múltiplo conjunto de fatores, como a dedicação e o amor que se coloca em tudo o que se faz, o conhecer bem o cliente e agir em conformidade com o que ele deseja, tentando inovar e melhorar dia após dias, de forma a acompanhar aquelas que são as tendências do mercado.
“Já não há no Porto outro Bazar como o Paris”, completou a responsável, revelando que entre os vários elogios que recebe ao espaço há um que não esquece: “No dia em que o Bazar fechar, o Porto fica mais pobre…”
As histórias que marcam o Bazar Paris
“A mais antiga e que gosto sempre de contar passou-se por volta de 1930”, quando a sua bisavó, Ermelinda, estava à frente do negócio, começou por explicar Luísa. O momento caricato aconteceu quando uma senhora entrou na loja e pediu “ganchos para o cabelo”, “Como os ganchos estavam esgotados, a minha bisavó, enquanto conversava com a senhora, foi desmanchando o seu puxo, sem que a cliente se apercebesse e vendeu os seus próprios ganchos”, contou.
Bazar Paris
Rua Sá da Bandeira n.º190, Porto