
A peça, realizada a convite da bienal BOCA, reflete sobre as relações de poder que se estabelecem entre as personagens, distribuindo-as por atores profissionais e não-profissionais.
“Endgame”, cujo título é inspirado na parte final de um jogo de xadrez, coloca em cena Hamm, um homem que, apesar de ser incapaz de se levantar e de ver, é um tirano e necessita da ajuda do seu escravo para conseguir viver. A peça faz assim o paralelismo com a figura do Rei que, sendo a peça mais importante do tabuleiro é, também, a mais vulnerável. No xadrez (e na obra de Beckett) é posto em evidência o facto de a morte ser a consequência inevitável da vida, sendo que as personagens/jogadores – apesar de, ao longo do jogo (leia-se vida) perceberem que vão perder – têm rituais repetitivos para chegar ao final.
A peça explora também a noção de uma “existência circular”, já que os inícios e finais estão interligados e o local da ação é algures entre a vida e a morte. Tania Bruguera reflete precisamente nesta questão, tendo construído – com a ajuda de um estúdio de arquitetos – uma gigantesca estrutura cilíndrica, em forma de espiral, habitada pelo público que assiste ao espetáculo de cima para baixo.
Esta coprodução do Teatro Nacional de São João é apresentada em estreia mundial, nos dias 20 e 21 de abril, 15h e às 21h, no claustro do Mosteiro de São Bento da Vitória. A peça é para maiores de 16 anos e, visto desenrolar-se no interior de uma estrutura metálica e fechada, sem lugares sentados, não é aconselhável a pessoas que sofram de síndrome vertiginoso e de claustrofobia, bem como pessoas de mobilidade reduzida.
Conhecida internacionalmente pelas suas provocatórias instalações e performances, Tania Bruguera assume-se uma “artivista” (junção da palavra ativista e arte). O trabalho da cubana aborda frequentemente a questão do poder e controlo e interroga e reinterpreta os eventos da história de Cuba, através de obras participativas que transformam os “espectadores” em “cidadãos”. Uma das mais recentes “performances” da artista é a sua candidatura às eleições cubanas de 2018, um ato “impossível” dado o contexto político.