As tão aguardadas obras no edifício do Ateneu Comercial do Porto, situado na Rua de Passos Manuel, parecem estar mais próximas de se concretizar. Contudo, uma proposta de parceria com a Associação de Coleções, liderada por Joe Berardo, gerou desconforto entre os sócios na mais recente assembleia geral extraordinária. Segundo o JN, o contrato proposto, com uma duração de 30 anos, foi alvo de críticas, principalmente pelo que alguns consideram ser um “prazo excessivo”.
Apesar das críticas, a Direção do Ateneu adiantou que o acordo deverá ser formalizado nas próximas duas semanas. O custo estimado para as obras de reabilitação do edifício ronda os 1,5 milhões de euros, valor que será totalmente financiado pelo novo parceiro. Na referida assembleia, realizada há dois dias, foram colocadas várias questões sobre a parceria. Alguns sócios apontaram a falta de transparência do acordo e sugeriram a inclusão de avaliações periódicas sobre as contrapartidas financeiras estabelecidas pela exploração do espaço, nomeadamente as rendas mensais.
Museu de Arte Nova e Art Déco em Perspetiva
O projeto prevê que a Associação de Coleções disponha de um espaço museológico em três andares do edifício (rés do chão, primeiro e segundo pisos), onde será inaugurado o “Museu Ateneu Comercial do Porto”, com um foco em Arte Nova e Art Déco. De acordo com Rogério Gomes, presidente da Direção, as contrapartidas financeiras incluídas no acordo estipulam um pagamento mensal inicial de 10 mil euros, que mais tarde será duplicado para 20 mil euros mensais. Se tudo correr conforme planeado, o contrato-promessa deverá ser assinado em outubro, seguido de um contrato definitivo.
Os sócios que se opõem ao acordo alertam para a dificuldade de voltar atrás depois de as obras começarem e de o investimento financeiro ser feito. As obras têm início previsto para o final deste ano, com o objetivo de inaugurar o museu no outono de 2024.
Segundo o JN, o presidente do Ateneu reconhece as preocupações levantadas, mas considera que esta é uma oportunidade única para a renovação do edifício, que necessita de uma intervenção urgente. Rogério Gomes sublinha que os sócios continuarão a ter acesso ao edifício, exceto aos pisos que fazem parte da parceria. As áreas como as bibliotecas, salas de leitura e bilhar, bem como os pisos subterrâneos, permanecerão exclusivamente à disposição dos associados. A coleção de livros do Ateneu, que inclui uma primeira edição de “Os Lusíadas”, ficará igualmente de fora do acordo, embora algumas peças de mobiliário possam integrar o museu.
Para viabilizar o projeto do museu, a Associação de Coleções irá criar uma nova empresa, com a maioria do capital detido por Joe Berardo, e um parceiro local. O contrato será celebrado com esta nova entidade, e as obras serão realizadas de forma faseada para não interromper o funcionamento do Ateneu.
Embora a parceria tenha gerado alguma controvérsia, a proposta foi aprovada na assembleia, e a Direção recebeu luz verde para prosseguir com as negociações. A esperança é que, com o apoio financeiro desta parceria, o Ateneu possa recuperar algumas das suas atividades culturais de outrora, como a atribuição de prémios de música.