Inserido no raio de ação do Serviço Educativo da instituição, o programa procura integrar pela música cidadãos e comunidades que sofrem de exclusão social e proporcionar experiência musical e de palco a todos os interessados.
Em 2017, assinalam-se 10 anos desde o arranque da iniciativa, que já acolheu “um número inquantificável de projetos” que envolveram “uma multidão muito grande de pessoas”, apontou à Lusa o diretor do serviço educativo da instituição, Jorge Prendas.
O responsável considera que os trabalhos têm “um impacto na vida de forma muito emocional”, tanto para participantes, que “ainda hoje em dia falam com muita alegria da experiência”, como para formadores, para quem é um trabalho também “muito emocional”.
“Quando se cumprem 10 anos, é possível olhar para trás e perceber que o Ao Alcance de Todos já trouxe milhares e milhares de pessoas que não têm acesso generalizado à prática musical e ao palco”, comentou Jorge Prendas, que olha “com grande orgulho” para o percurso do programa.
O trabalho logístico e de preparação leva, em alguns casos, “vários meses de antecedência”, com as apresentações a surgirem numa semana definida em cada ano letivo, embora o esforço pela inclusão da Casa da Música se faça sentir “durante o ano todo”.
“A Casa da Música marca as pessoas pela positiva”
“O Ao Alcance de Todos não acontece só numa semana, gostava de deixar isso claro. A inclusão pela música e com a música é praticada aqui durante o ano todo”, explicou à Lusa Jorge Prendas.
Grande parte das oficinas que fazem parte da oferta do serviço educativo ao longo do ano letivo – “cerca de 400” – já têm a preocupação de serem adaptados a participantes com necessidades especiais, numa “ideia de programa contínuo”, contou o responsável, para quem é “muito bom fazer parte” do trabalho através do qual “a Casa da Música marca as pessoas pela positiva”, dando o exemplo da Orquestra Som da Rua.
A fase mais concentrada de apresentações finais arrancou na passada segunda-feira, com várias oficinas associadas ao trabalho de “movimento e música de repertório”, em “Nem ata nem dançata”, e outra que utiliza “sons e o espaço como forma performativa”, de nome “Brit Sounds”, que foram “concebidos para poderem ser feitos para qualquer tipo de grupo”.
O ciclo, que ainda assim está presente durante o ano em várias oficinas de formação, termina a 21 de abril com “Guia Prático para Artistas Ocupados”, um espetáculo que junta música e teatro que será apresentado no âmbito da BoCA – Bienal de Arte Contemporânea.
A peça, que junta o Digitópia Collective, conjunto da Casa da Música dedicado à música contemporânea digital, e o Crinabel Teatro, cujo elenco inclui atores com deficiência, visa explorar “o sentido mais primário de diferentes formas de narrativas”, juntando ainda vídeo de Edgar Pêra e fotografia de Paulo Pimenta e tendo como ponto de partida uma exposição da fotógrafa Cindy Sherman, revelou Jorge Prendas.
“Estamos muito ansiosos para ver como será em palco. O grupo de teatro Crinabel existe há 30 anos em Lisboa e tem no seu elenco pessoas com trissomia 21, outro tipo de deficiências, e é uma honra fazer um trabalho de parceria com eles”, comentou.
Destaques para o resto do ano
Entre os destaques para o resto do ano, Jorge Prendas elenca o espetáculo “Romani 2.0”, uma reedição de uma obra estreada em 2015 que junta a comunidade cigana de Matosinhos, a Associação Desenvolvimento Integrado de Matosinhos e a autarquia local num trabalho teatral cuja estreia estava inicialmente prevista para 18 de junho de 2016, mas então cancelado, estreando-se agora a 20 de junho, e que ilustra “a lógica de impacto do projeto”.
“Em relação ao futuro, e pensando em 2018 e 2019, penso que continua a haver motivos e muitos projetos que podem ser feitos com as mais diversas comunidades”, disse o responsável pelo serviço educativo, que não quer “que os projetos sejam vistos com olhar condescendente, mas artisticamente bons porque são únicos”, uma vez que para que os participantes se sintam “verdadeiramente recompensados” é preciso “um trabalho prolongado e muito participado”.