No âmbito do projeto Vírus4Health, o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da Universidade do Porto e a empresa municipal Águas do Porto têm monitorizado semanalmente, ao longo dos últimos nove meses, a presença do SARS-CoV-2 nas águas afluentes às estações de tratamento de águas residuais (ETAR) do Freixo e Sobreiras, no Porto.
Desenvolver um sistema de monitorização regular do vírus responsável pela Covid-19 nas águas residuais afluentes às ETAR do Freixo e de Sobreiras, que permita detetar a sua circulação na comunidade, é o objetivo do projeto Vírus4Health, que vem assim “responder a uma urgência nacional de monitorização integrada do SARS-CoV-2”, aponta o CIIMAR.
Iniciado em maio de 2020, o projeto permitiu quantificar por qPCR [‘quantitative real-time PCR’], até 31 de janeiro, cerca de 60 amostras nas ETAR de Sobreiras e Freixo.
Os resultados obtidos até ao momento permitiram confirmar a presença do material genético do vírus nas águas residenciais e a importância das ETAR na sua remoção, refere o CIIMAR, citado pelo Notícias ao Minuto.
“Durante todo o processo garantiu-se a inativação do vírus antes do início do processamento das amostras no laboratório de forma a garantir todas as normas de segurança associadas à manipulação deste tipo de amostras”, acrescenta.
Através da análise dos efluentes tratados, “ficou comprovado que os processos de tratamento das ETAR são eficazes” na remoção do vírus que provoca a Covid-19, afirma a equipa da Águas do Porto, composta por Pedro Vieira, Elza Ferraz e Adelaide Rocha.
“Só é possível desenvolver um sistema de alerta precoce porque o SARS-CoV-2 é detetado nas águas residuais antes da sua manifestação na comunidade”, salientam.
A equipa da empresa municipal considera que este projeto é de “extrema importância para a operação das ETAR, uma vez que se trata de uma ferramenta importância na avaliação da carga viral dos afluentes às ETAR e na verificação da eficiência dos processos de tratamento de águas residuais”.
O projeto permite “viabilizar a implementação de protocolos de monitorização integrada do SARS-CoV-2 com o objetivo de estabelecer um sistema de vigilância sensível cobrindo todo o ciclo de circulação do vírus na comunidade”, salienta a equipa de investigadores do CIIMAR, que considera a parceria com a Águas do Porto “muito relevante para o CIIMAR de forma a alinhar as nossas atividades de investigação com as necessidades de dar resposta a emergências de saúde pública de dimensão nacional e internacional”.
Numa primeira fase, os investigadores validaram um método sensível de deteção e quantificação do SARS-CoV-2 nas águas residuais. O projeto avançou depois com a otimização dos métodos de amostragem, preservação, concentração, isolamento de RNA, deteção e quantificação do vírus que provoca a covid-19 por RT-qPCR.
De referir que, durante o processo, os investigadores contaram com o apoio do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) na validação da adaptação das metodologias usadas em amostras clínicas para “posterior aplicação em amostras de águas residuais”.
Neste momento, a equipa do CIIMAR, composta por Ana Paula Mucha, Catarina Magalhães, João Carneiro, Maria de Fátima Carvalho, Maria Paola Tomasino e Miguel Semedo, está a criar um arquivo de amostras e de material genético “devidamente catalogado e criopreservado” a partir das colheitas realizadas nas ETAR do Freixo e Sobreiras.
O material genético arquivado será usado para complementar a caracterização da diversidade genética do vírus no sistema de saneamento e modelação epidemiológica dos dados gerados, complementando a vigilância clínica.
Além do CIIMAR e da Águas do Porto, o projeto Vírus4Health conta com a colaboração da Unidade de Saúde Pública dos ACES Porto Ocidental e Porto Oriental e da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa.
Foto: CIIMAR