
No Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (I3S), um grupo de investigadores tem vindo a trabalhar para compreender e travar a tuberculose, uma das doenças infeciosas mais mortíferas do planeta.
Sob a coordenação de Margarida Saraiva, a equipa, composta por dez cientistas, tem vindo a estudar, desde 2015, os mecanismos que permitem à bactéria Mycobacterium tuberculosis afetar o sistema imunitário humano (via Porto Canal).
Investigação em Ambiente de Alta Segurança
Os estudos decorrem num ambiente de elevada contenção biológica, no laboratório BSL-3, especializado na manipulação de agentes patogénicos perigosos.
Para garantir a segurança, os investigadores passam várias horas dentro deste espaço, devidamente equipados com máscaras, luvas, batas e proteção para o calçado. Cada entrada e saída implica um rigoroso protocolo de vestimenta que pode demorar até meia hora, um processo repetido sempre que precisam de sair para necessidades básicas.
Descobertas Relevantes Após Uma Década de Estudos
De acordo com o Porto Canal, a investigação centrou-se numa análise detalhada de 650 pacientes tratados no Hospital de São João, permitindo categorizar os doentes com base na gravidade da infeção e isolar as bactérias responsáveis. Testes in vitro revelaram que diferentes estirpes da bactéria interagem de maneira distinta com o sistema imunitário, influenciando a severidade da doença.
O trabalho da equipa demonstrou que a Mycobacterium tuberculosis não é homogénea, havendo variações entre as bactérias que afetam a sua capacidade de provocar sintomas mais ou menos agressivos. A investigação prolongada deve-se, em grande parte, ao crescimento lento da bactéria – um processo que pode levar três semanas, ao contrário de outras que se multiplicam em poucas horas.
Tuberculose em Portugal: Números e Desafios
Globalmente, a tuberculose continua a ser uma grande ameaça à saúde pública, causando mais de 1,25 milhões de mortes anuais e resultando em cerca de 10 milhões de novos casos todos os anos. Em Portugal, os números continuam acima do esperado, com um aumento recente atribuído ao atraso na testagem durante a pandemia de Covid-19.
Os sintomas – tosse, febre e fadiga – são muitas vezes confundidos com outras doenças respiratórias, levando a diagnósticos tardios, sobretudo em zonas com menor incidência. No entanto, há regiões do Norte onde os casos são particularmente elevados, como Penafiel, Viana do Castelo e certas áreas do Porto.
Um Problema Ligado às Condições Sociais
A investigação confirma que a pobreza e a tuberculose estão interligadas, criando um ciclo difícil de romper. Locais densamente povoados e condições de vida precárias favorecem a propagação da doença, tornando o seu controlo ainda mais desafiante. Além disso, o estigma associado à tuberculose continua a ser um obstáculo à deteção e tratamento precoce.
Os Desafios de Uma Carreira Científica em Portugal
Margarida Saraiva, licenciada em Bioquímica pela Universidade do Porto, desenvolveu grande parte da sua formação no Reino Unido antes de regressar a Portugal. Após integrar o Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, assumiu a liderança do grupo de investigação do I3S em 2015.
Apesar do impacto do seu trabalho, a investigadora destaca as dificuldades em consolidar uma carreira científica em Portugal, nomeadamente a instabilidade na formação e manutenção de equipas de investigação. No seu grupo, trabalham cientistas em diferentes fases da carreira, desde alunos de mestrado a investigadores pós-doutorados, todos enfrentando desafios na continuidade do percurso académico e profissional. (via Porto Canal)
A luta contra a tuberculose continua, mas os avanços científicos obtidos no Porto representam um passo importante para a sua erradicação no futuro.